Capítulo 24

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Lydia estava fazendo o melhor que podia para não procurar nem encontrar complicações. Essa foi uma das razões de ela ter decidido contra a idéia de se encontrar com Mieczyslaw na sexta de manhã, para irem velejar. Quando ele tentou convencê-la do contrário, sua determinação se enfraqueceu e ela prometeu preparar uma lasanha.

Aquela porção dela que sentia tanto prazer em observar os outros comerem o que ela mesma preparava foi herança da sua avó. Lydia acreditava que aquilo era algo para sentir orgulho.

Embora não tivesse se comprometido a passar a noite, ambos sabiam que era algo que ficaria subentendido.

Lydia separou a noite para cuidar de si mesma, dispensando o terninho de trabalho e colocando uma calça larga de moletom. Colocou para tocar no som algumas de suas músicas favoritas. Depois, serviu-se de um cálice de um bom vinho tinto e ficou observando o sol se pôr.

Já estava na hora, bem sabia, talvez mais do que na hora até, de pensar naquilo seriamente, analisar os fatos com objetividade. Conheceu Mieczyslaw Stilinski há poucas semanas e, no entanto se permitiu ficar mais envolvida com ele do que com qualquer outro homem que cruzou sua vida.

Esse nível de comprometimento não estava em seus planos. E ela normalmente planejava as coisas tão bem… Os passos que dava, tanto em nível profissional quanto pessoal, eram cuidadosamente pesados. Lydia sabia que aquela era uma atitude de proteção, algo que decidira seguir com frieza, quando ainda era bem nova. Se avaliasse com cuidado aonde cada passo estava levando ou poderia levar, recuasse por impulso e confiasse no intelecto, seria muito mais difícil cometer um erro.

Sentia que cometera muitos erros, alguns anos atrás. Se tivesse continuado pelo caminho que tomara às cegas, após perder a própria inocência e a mãe, estaria condenada.

Aprendera a não se repreender pelas coisas que fizera durante aquele período escuro em sua vida, e a não se permitir se afundar em culpa pelas mágoas e problemas que causara às pessoas que a amavam. Culpa era uma emoção negativa. Lydia preferia ações positivas, resultados, rumos.

O caminho que escolhera profissionalmente e no qual fora bem sucedida era um tributo aos seus avós, à sua mãe e àquela criança aterrorizada curvada sobre si mesma no acostamento escuro de uma estrada escura.

Levou muito tempo, uma longa temporada de cura, até ela descobrir que, embora tivesse perdido a mãe, seus avós haviam perdido a única filha. Uma filha que eles amavam. E, apesar de seu luto e sua dor, abriram as portas de sua casa para Lydia. E depois, a despeito de suas atitudes destrutivas, seus corações jamais hesitaram.

Finalmente ela aprendera a aceitar os horrores pelos quais passara. Mais do que isso, aprendera a aceitar que tudo o que fizera nos dois anos que se seguiram àquela noite foi resultado de uma alma muito ferida. Era afortunada por ter tido pessoas que a amavam o bastante para ajudar a curá-la.

No momento em que encontrou o caminho certo novamente, prometeu a si mesma que nunca mais seria precipitada.

O impulso ela guardava para usar em coisas tolas e sem importância. Gastando horas longas e divertidas em seu carro, dirigindo para algum lugar. Havia se tornado tão importante para ela permanecer basicamente prática, motivada e racional que acabara por enterrar aquela tendência à precipitação que havia em seu coração. Agora, pensou, havia sido esse mesmo coração que a levara a isso.

Amar Mieczyslaw Stilinski era ridiculamente precipitado. E ela sabia que isso teria um preço.

Mas suas emoções eram responsabilidade apenas dela mesma, decidiu. Era uma coisa que ela aprendera do modo mais difícil. Conseguiria lidar com elas e iria sobreviver a tudo.

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