Capítulo 2

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Eles vieram sozinhos e em bando para o velório de Noah Stilinski. Ele fora mais do que um simples residente no pontinho do mapa que era St. Christopher. Foi professor, amigo e confidente. Sempre se preocupando com o bem estar da comunidade.

Se algum aluno estava com dificuldades na matéria, Noah sempre abria uma brecha em sua agenda para lhe oferecer uma aula particular. Suas aulas de história na universidade estavam sempre lotadas e era muito difícil alguém se esquecer do professor Stilinski.

Ele acreditava na força da comunidade, e essa fé havia sido não apenas forte, mas ágil. Ele tivera o mais vital dos dotes humanitários: o de tocar e melhorar a vida das pessoas ao seu redor.

Criou três meninos que ninguém queria e os transformou em homens.   

Todos cobriam o túmulo com flores e lágrimas. Assim, quando os sussurros e as especulações começaram a surgir, eram quase sempre caladas e sufocadas rapidamente. Poucos estavam realmente dispostos a ouvir qualquer fofoca que refletisse mal na imagem de Noah Stilinski. Ou pelo menos era o que falavam, mesmo quando as orelhas se virassem para ouvir melhor.

Escândalos sexuais, adultério, uma criança ilegítima… suicídio…

Ridículo! Impossível! A maioria reagia assim, de coração. Outros, no entanto, se inclinavam um pouco mais para poder ouvir melhor e pegar cada sussurro, franzir as Sobrancelhas e passar a história adiante nos ouvidos de alguém.

Stiles não ouviu nenhum dos rumores. Seu pesar era tão grande, tão horrendo que mal conseguia ouvir os próprios pensamentos. Quando a mãe veio a falecer, ele fora capaz de lidar melhor com aquilo. Já estava preparado para o momento quando tudo aconteceu. Esta perda de agora, porém, fora muito rápida, muito do nada, e não havia doença alguma sobre a qual jogar a culpa.

Havia pessoas demais na casa, pessoas que desejavam oferecer condolências ou compartilhar algumas boas lembranças sobre Noah. Stiles não queria saber de lembranças, não conseguia encará-las até lidar com as próprias recordações.

Se sentou sozinho na doca que ele mesmo havia ajudado Noah a construir e consertar pelo menos umas dez vezes no decorrer dos anos. Ao lado dele estava a linda corveta de vinte quatro pés na qual toda família velejara inúmeras vezes.

Stiles ouviu os passos lentos sobre a doca, mas não se virou. Continuou a olhar para a água enquanto Louis chegava e se colocava ao lado dele.

-A grande maioria do pessoal já foi embora.

-Isso é bom!

-Eles vieram por papai… - Louis enfiou as mãos nos bolsos. -Ele teria gostado disso.

-É. - cansado, Stiles apertou os olhos com os dedos e os deixou escorregar pelo rosto. -Sim, ele teria gostado. Eu saí porque acabei com todo estoque de coisas para dizer às pessoas, e também não sabia bem como dizê-las.

-É. - embora ganhasse a vida imaginando palavras e frases criativas e inteligentes, Louis compreendia perfeitamente o sentimento. Ficou alguns instantes curtindo o silêncio. A brisa que vinha da água estava um pouco forte, e isso era um alívio depois de enfrentar a casa abarrotada de gente, quente demais devido ao calor de muitos corpos juntos. -Rose está limpando a cozinha, e Liam está lhe dando uma ajudinha. Acho que ele gosta dela.

-Ela está com uma boa aparência. - Stiles tentava afastar a mente daquilo e pensar em outra coisa. Qualquer coisa. -É difícil imaginá-la já com uma filhinha. Ela se divorciou, não foi?

-Sim, acho que há mais ou menos dois anos. O cara se mandou antes da gracinha da Aubrey nascer. - Louis soprou o ar entre os dentes. -Temos coisas pra resolver, Stiles.

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