Capítulo 4

50 4 5
                                    

Ela era bem capaz de fazer aquilo, decidiu Stiles, após voltar a estudá-la por um momento. Ela recebera, ao nascer, um rosto apropriado para ser eternizado em uma tela, mas não era fácil de enfrentar não.

-Se fizer isso, senhorita, o garoto vai fugir na primeira chance que tiver. Você vai conseguir achá-lo mais cedo ou mais tarde, e ele vai ser encaminhado para uma instituição para delinquentes juvenis e, mais tarde, vai acabar dentro de uma cela de prisão. O sistema que a senhorita tanto representa não vai ajudá-lo, Srta. Martin.

-E suponho que o senhor acha que pode fazer isso?

-Talvez - disse, e franziu as sobrancelhas, olhou para a cerveja. -Meu pai conseguiria. - ao levantar os olhos novamente, havia tantas emoções conflitantes em seu olhar que ela se comoveu na hora. -Você acredita na santidade de uma promessa feita em um leito de morte?

-Sim. - respondeu ela, antes de conseguir evitar.

-No dia em que meu pai morreu eu prometi a ele… nós três prometemos a ele… que íamos manter Liam em nossa companhia. Nada nem ninguém vai me fazer quebrar essa promessa. Nem você, nem esse seu sistema e muito menos um batalhão de policiais.

A situação não era exatamente a que ela esperava encontrar. Sendo assim, precisava fazer uma reavaliação de tudo.

-Gostaria muito de me sentar - pediu Lydia depois de um momento.

-Vá em frente, sinta-se em casa.

Ela puxou uma das cadeiras que estavam em volta da mesa. Havia louça suja dentro da pia, notou, e um leve cheiro de alguma coisa que havia queimado no jantar anterior. Para ela, porém, aquilo significava que alguém ali estava tentando alimentar um menininho.

-O senhor está pensando em requerer a guarda legal do menino?

-Nós…

-O senhor, Sr. Stilinski - interrompeu ela. -Estou perguntando ao senhor se essa é a sua intenção. - e ficou aguardando a resposta, observando as dúvidas e a resistência que passaram pelo seu rosto.

-Então, acho que sim. Estou sim. - que Deus os ajudasse a todos, pensou ele. -Se isso for o necessário.

-E o senhor pretende morar nessa casa, com Liam, em caráter permanente?

-Permanente? - aquela era talvez a única palavra verdadeiramente assustadora em sua vida. -Agora sou eu que preciso me sentar. - e fez isso, apertando em seguida a parte de cima do nariz com o polegar e o indicador, como se tentasse aliviar um pouco da tensão. -Nossa! O que acha de usarmos a expressão “No futuro próximo”, em vez de “permanente”?

Lydia cruzou as mãos na beira da mesa. Não tinha dúvidas da sinceridade dele, e gostaria de aplaudir suas boas intenções. Porém…

-O senhor não faz idéia do que vai enfrentar.

-Você está errada. Faço sim. É exatamente isso que me apavora de modo tão terrível.

Ela concordou com a cabeça, considerando a resposta como um ponto a favor dele.

-E o que o leva a pensar que poderia ser um guardião melhor para um menino de dez anos, uma criança que acredito que o senhor conheça há menos de duas semanas, do que uma casa para adoção já preparada, registrada e aprovada pelo governo?

-Porque eu o entendo! Já fui o que ele é ou pelo menos uma parte dele. E porque o lugar dele é exatamente aqui!

-Deixe-me alertá-lo sobre alguns dos maiores obstáculos ao que está planejando fazer. O senhor é um homem solteiro, sem endereço fixo e sem rendimentos frequentes ou um emprego.

Ligado ao Mar Onde histórias criam vida. Descubra agora