Capítulo 26

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Apesar da cara emburrada de Stiles, no final foram os quatro dentro do barco. Liam insistiu em levar o cãozinho, e com Lydia o apoiando o tempo todo, Stiles novamente perdeu a votação.

Era difícil ficar chateado quando sua tripulação parecia tão contente. Cãozinho se sentou em um dos bancos, usando um surrado salva vidas canino que pertencera a um dos numerosos cães que Noah e Cláudia tiveram ao longo dos anos, e latia alegremente para as ondas e para os pássaros.

Já mastigando um dos sanduíches que pegara no isopor, Liam explicava a Lydia, com detalhes, os mistérios do cordame.

Ela parecia tão bonita, pensou Stiles, com um dos velhos e amarrotados bonés dos Mets sobre a cabeça, assistindo à aula com toda a atenção, enquanto Liam identificava para ela cada uma das cordas do barco. 

Stiles manobrou a embarcação através dos canais, passando devagar pelas bóias sinalizadoras até chegar ao ponto que os habitantes do local denominavam o funil do rio, um braço de mar chamado Tontest, e, a partir daí, até o centro da Baía de Chesapeake.

O mar estava um pouco mais agitado do que ele imaginou, e Stiles olhou para trás, para ver como é que Lydia estava se sentindo. Ela estava ajoelhada na popa, debruçada sobre o peitoril do barco, mas ele constatou com um sorriso que não era devido a enjôo. Seu sorriso era imenso e ela apontava com empolgação para os topos das árvores e os brejos que circundavam a ilha Tompson.

Stiles chamou Liam e pediu para ele içar as velas.

Aquele era um momento que Lydia jamais iria esquecer. A vida na cidade não a preparara para os sons, o movimento, a visão das velas brancas sendo içadas e inflando sob o chicote do ar que se movia em torno para a seguir se arredondarem grávidas, com o vento.

Por um momento o barco pareceu levantar vôo, com o vento batendo em suas faces com mais intensidade e enviando ainda mais a lona, até parecer que ia arrebentá-la. As águas se agitavam ainda mais no rastro, e ela sentiu o gosto salgado do mar.

Queria olhar para todos os lados ao mesmo tempo, para as ondas que se levantavam da água azul, para o mar de velas brancas em torno, os pedaços de terra e pequenas ilhas. E o homem com o menino, trabalhando tão integrados, de forma tão competente, quase sem precisarem trocar palavras para se comunicar.

Passaram ao lado de um lugar que Liam identificou como uma palhoça para caranguejos. Era um pouco mais do que um amontoado de tábuas envelhecidas empilhadas e se destacando da superfície da água. Ela observou um barco de pesca balançando com a maré enquanto um pescador, parecendo uma pintura com seus jeans desbotados, um boné muito usado e botas brancas, levantava uma das armadilhas de arame.

Fez uma ligeira pausa em seu trabalho, apenas tempo o suficiente para tocar a aba do boné em uma saudação rápida, antes de jogar dois Caranguejos que se remexiam sem parar dentro do tanque sobre o deque.

Era a vida no mar, pensou Lydia, enquanto via o barco passar para a bóia seguinte.

-Aquele é o pequeno Steve - informou-lhe Liam. -Scott diz que as pessoas continuam chamando por ele assim mesmo depois de adulto porque seu pai é o Grande Steve. Esquisito.

Lydia riu. Pareceu-lhe que o Pequeno Steve pesava mais de cem quilos.

-Acho que é desse jeito que as coisas são quando a gente mora em uma cidade pequena. Deve ser maravilhoso viver e trabalhar no mar daquele jeito.

-É legal… - Liam levantou um dos ombros. -Mas eu gosto mais de velejar, simplesmente.

Ao levantar o rosto para sentir o vento, refletiu que o menino tinha razão. Simplesmente velejar, veloz e livre, sentindo o barco subir e descer sobre as ondas, com gaivotas circundando acima dele. Stiles parecia tão à vontade no leme, pensou ela, com suas pernas compridas plantadas com firmeza, ligeiramente abertas para compensar o balanço do barco, as mãos firmes e os cabelos escuros soltos ao vento… Quando ele virou a cabeça e olhou para ela, era de admirar que seu coração tenha dado um pulo? E quando ele lhe estendeu a mão era de estranhar a determinação com que ela se levantou e foi com cautela por sobre o deque pouco familiar até conseguir chegar até ele?

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