Capítulo 22

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Lydia se sentiu um pouco melhor depois de se vestir e colocar uma camada bem leve de maquiagem. Conversou longamente consigo mesma debaixo do chuveiro. Talvez estivesse apaixonada por ele, mas isso não tinha de ser necessariamente uma coisa ruim. Pessoas se apaixonam e desapaixonam o tempo todo, e as mais espertas e mais estáveis simplesmente relaxavam e curtam o passeio.

Ela ia conseguir ser esperta e estável.

Certamente não estava em busca do velho “Felizes para sempre", nem de um cavalo branco com um príncipe encantado. Lydia já se libertara dos sonhos de contos de fada há muito tempo, e toda a sua inocência fora firmemente cimentada às margens de uma estrada deserta aos doze anos de idade.

Ela aprendera a se fazer feliz porque durante muitos anos após o estupro pareceu ser incapaz de fazer qualquer coisa a não ser trazer infelicidade para si mesma e para todos à sua volta.

Conseguiu sobreviver a coisas piores, não havia dúvida de que poderia enfrentar um coração ligeiramente machucado.

De qualquer modo, jamais permitira se apaixonar antes. Desviara-se daquele sentimento, outras vezes passara direto ou se contorcera para se livrar dele, mas jamais o encarou de frente. Aquilo poderia ser uma aventura maravilhosa, e certamente seria uma experiência com a qual aprenderia algo. 

Além do mais, para qualquer mulher, o fato de conseguir um amante como Mieczyslaw Stilinski já estava de bom tamanho.

Ela estava sorrindo ao voltar para a sala de estar, onde encontrou Stiles bebendo vinho e olhando para a capa da revista de moda que chegara. Ele colocou uma música para tocar no som. Eric Clapton estava no ar, suavemente.

Quando ela chegou por trás dele e tascou-lhe um beijo na nuca, não esperava a reação de susto nem o pulo que ele deu.

Era sinal de culpa, pura e simples, e Stiles detestou aquilo. Quase deixou entornar vinho e teve que fazer um esforço para manter o rosto impassível. 

O rosto sedutor na capa da revista que estava em suas mãos pertencia a uma certa modelo francesa muito esbelta, de nome Elisa.

-Eu não quis assustar você… - e levantou uma sobrancelha ao olhar para a capa da revista nas mãos dele. -Estava absorvido pelas novas tendências em tons pastéis para o verão?

-Não, só passando o tempo… a pizza deve estar chegando a qualquer momento. - ele fez menção de colocar a revista sobre a mesinha, embora quisesse na verdade jogar pela janela, mas Lydia já a agarrara, afirmando:

-Eu costumava odiar essa mulher.

-Hein?... - sua garganta se mostrou desconfortavelmente seca.

-Bem, não exatamente Elisa, a Magnífica, mas modelos como ela, de forma geral. Magras, loiras, perfeitas… eu sempre fui mais para gordinha, e sempre tive os cabelos ruivos. Isso aqui… - acrescentou, puxando algumas pontas do cabelo molhado. -... Me deixava louca quando eu era adolescente. Até cheguei a pintar de loiro uma época.

-Eu adoro o seu cabelo. - ele gostaria de colocar a porcaria da revista com a capa para baixo. -Você é duas vezes mais bonita do que ela. Não tem nem comparação!

-Que bonitinho você dizer isso… - seu sorriso saiu rápido e sedutor nos cantos da boca.

-Estou falando sério! - confirmou ele, quase desesperado para convencê-la, mas achou melhor não informar que já havia estado diante das duas nuas em pêlo e sabia muito bem do que estava falando.

-Muito bonitinho mesmo. Apesar disso, eu era doida para ser magra, loira e menos cadeiruda.

-Você é real. - disse ele, sem conseguir se segurar. Pegou a revista e a atirou para trás por sobre os ombros. -Ela não é!

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