Capítulo 20

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O nome do inspetor era McKenzie, e era ele que estava fazendo as investigações. Até agora suas anotações continham descrições de um homem que era um santo com uma auréola tão larga e brilhante quanto o sol. Um samaritano desprendido que não só adorava os vizinhos como alegremente ajudava a carregar seus fardos; um sujeito que, ao lado da esposa, salvou grande parte da humanidade e manteve o mundo a salvo para a democracia.

Outras anotações denominavam Noah Stilinski de pomposo, intrometido, enxerido, metido a ser melhor do que os outros e que colecionava garotos de má fama da mesma forma que outros colecionavam selos, e os usava para usufruir de trabalho escravo, um bálsamo para o ego e, provavelmente, lascivos favores sexuais.

Embora McKenzie tivesse que admitir que a segunda versão era muito interessante, essa visão fora fornecida por poucas pessoas na cidade.

Como sendo um homem ligado a detalhes e cauteloso, compreendeu que a verdade provavelmente estava em algum ponto entre o santo e o pecador.

Seu objetivo não era canonizar nem condenar Noah Stilinski, apólice número 006-789-MR2. Estava ali simplesmente para reunir os gatos, e eram esses fatos que iriam determinar se o seguro deveria ser pago ou disputado na justiça.

De um modo ou de outro, McKenzie receberia o pagamento pelo tempo e esforço gasto.

Estacionou seu Ford Taurus no esburacado terreno coberto de cascalho que ficava ao lado do galpão. Seu último contato, um verme chamado Gerard Argent, lhe indicara o caminho. Ele iria encontrar Mieczyslaw Stilinski, assegurou Gerard com um sorriso reprimido.

McKenzie criou uma antipatia pelo Argent em menos de cinco minutos em sua companhia. O inspetor já lidara com gente durante muitos anos, o bastante para reconhecer ganância, inveja e simples malícia, mesmo quando tudo isso se apresentava debaixo de uma camada de charme. Gerard não tinha nenhuma camada desse tipo, pelo que McKenzie reparou. Era totalmente desprezível como ser humano.

Havia um caminhão tipo picape no terreno, um sedã vermelho e um Corvette clássico sofisticado.

McKenzie gostou do visual do Corvette, embora não se visse atrás do volante de uma daquelas máquinas mortíferas nem por dinheiro nem por amor. De jeito nenhum. Mas admirava o carrão, e ficou analisando-o por algum tempo, enquanto saía de seu veículo.

Ele era capaz de apreciar o aspecto de um homem também, refletiu, quando viu dois deles saindo do galpão. Não o mais velho, com uma camisa branca e gravata. Aquele era um burocrata, notou de imediato. Era muito bom em reconhecer os diferentes tipos de pessoas.

O mais novo tinha o corpo esbelto, um ar voraz, olhar penetrantes e astutos demais para pertencerem a um burocrata. Podia não trabalhar com as mãos, pensou McKenzie, mas tinha tudo para isso. Além do mais, parecia um homem que sabia o que queria, e sempre arrumava um jeito de conseguir. 

Se aquele era Mieczyslaw Stilinski, decidiu McKenzie, Noah Stilinski deve ter cortado um dobrado com ele quando estava vivo.

Stiles reparou em McKenzie assim que saiu para acompanhar o inspetor dos encanamentos até o seu carro. Estava se sentindo muito bem devido à rapidez com que as coisas estavam avançando. Calculava que ia levar mais uma semana para terminar a construção do banheiro, mas ele e Scott podiam continuar sem aquele conveniente espaço por muito mais tempo.

Queria logo começar a trabalhar, e já que as instalações elétricas estavam prontas e também haviam passado pela inspeção não havia mais necessidade de esperar.

Stiles achou que McKenzie tinha cara de gente de apostas. Vasculhou na memória, tentando se lembrar se marcara de receber mais alguém naquele dia, mas não conseguiu. Deve estar vendendo alguma coisa, imaginou, enquanto o inspetor e McKenzie passaram um pelo outro.

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