Em Chamas

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Meus olhos se abrem automaticamente. Meu quarto está relativamente escuro e minhas pupilas se adaptam devagar ao ambiente. Me movo, mas sinto um peso em cima de mim. Olho para ver o que é, e me assusto ao ver Monik dormindo em meus braços.

Caralho, ela ficou comigo a noite toda! E é a primeira vez que acordo com uma mulher nos meus braços. E a sensação é... estranha.

Estamos nus. Ela está deitada parcialmente em meu torso, com a mão destra repousada em meu peito, dorme tranquilamente enquanto avalio sua expressão.

Seus cachos castanhos escuros estão caídos suavemente na testa e nos olhos. Seus lábios me sugerem um sorriso, e ao pensar que esta expressão relaxada é devida à ótima noite que tivemos, me sinto satisfeito.

Ela é uma agente do FBI e eu sou um traficante com dezenas de mortes nas costas. Eu sou a palha, ela o fogo. Que interesses mais ela teria em trazer o pai para a morte? Por algum motivo, eu duvido que seja somente pela morte de sua mãe.

Então, instintivamente, meu olhar curioso é atraído para seu braço. Está cheio de hematomas. Me pergunto se seriam consequências de alguma de suas operações, mas discarto imediatamente. Isto são hematomas de agressão.

Quem seria capaz? Quem é o covarde? O pai, o noivo? Se tem uma coisa que eu odeio, é saber que uma mulher apanhou de um homem. Sou veementemente contra isso e esses hematomas me deixam furioso. Isso explica vê-la de blusa comprida sempre que a encontro. Como é que pode? Ela é tão linda...

Sinto vontade de entupi-la de perguntas e obrigá-la entregar o covarde nas minhas mãos, para lhe ensinar bons modos. Mas se ela não me contou, é porque isso não é da minha conta.

O que sou diante dela? Só mesmo ela para me fazer me sentir um merda, um monte de lixo não reciclável. Minha moral é só pelo poder que tenho com uma arma na mão, ou pela minha capacidade de dominar o tráfico na Califórnia. Diante dessa mulher, eu não passo de nada, além de um aperitivo diferenciado, com um sabor interessante para sua diversão.

Quero me levantar, mas não quero tirá-la dos meus braços. Hesitante, ergo minha mão direita e tiro seus cachos dos olhos. Ela se mexe com o meu toque e tiro a mão imediatamente.

Nunca passei por isso antes e estou achando a experiência intrigante. Mas no fundo é algo bom, ela passou a noite toda comigo, mesmo sabendo quem eu sou, mesmo sabendo quem ela é.

Isso me deu a perspectiva de que talvez, apenas talvez, ela tenha ficado porque gosta de mim.

Não, não, NÃO!

Até parece, uma agente do FBI interessada pelo maior traficante da Califórnia!

Mas por que ela fez amor comigo três vezes? Outra coisa que nunca aconteceu, jamais dormi com a mesma mulher mais de uma vez, e desde que a conheci, só tenho paz de espírito quando ela está comigo. Ela me vê como um homem, não como bandido, sei disso, é por isso que ela está aqui agora.

Fico admirando-a dormir, e poderia fazer isso a vida toda. Mas como ela se mexe, saindo de cima de mim, essa é a minha deixa para levantar e ir ao banheiro, depois fazer um café bem forte para me fazer acordar de vez.

****

Caminho decidido até o quarto onde a deixei, com o pretexto de acordá-la aos beijos, do jeito que um homem carinhoso faria... Céus, estou agindo de modo ridículo!

Mas ao chegar à porta, ouço-a no telefone. Está no meio de uma discussão com alguém. Procuro escutar e ficar quieto, talvez isso me dê algumas pistas de quem ela é.

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