Roda mundo, roda gigante...

75 21 15
                                    

Era 21 de Outubro de 2006 quando Julia e eu saímos na rua como um verdadeiro casal: de mão dadas, passos curtos, troca de olhares, sorrisos e beijos calorosos. Aquele dia era um sábado e o parque de diversões ainda estava na cidade.

Sei que parece ser impossível, mas só de fechar os olhos consigo lembrar exatamente de tudo daquela noite, é como se estivesse lá novamente. Tinha muita gente no parque, centenas de pessoas se esbarram naquela pequena avenida. Ainda posso sentir o cheiro de pipoca do carrinho que ficava enfrente às barracas de tiro ao alvo; o forte cheiro de óleo reutilizado que vinha das barracas de batatas fritas; consigo escutar claramente as músicas que tocavam nos alto-falantes espalhados por todo o parque e os gritos das pessoas que estavam na barca viking; lembro perfeitamente do rosto da moça da barraca do bingo e da voz grave do locutor, que anunciava cada bola de uma maneira bastante singular: "e... de r-r-rombo, número vinte! ... lá vem ele, o rapaz alegre: número vinte e quatro..."

Nos comprimimos em meio àquela multidão e fomos direto para o final do parque, na praça em frente aos correios, sentamos do lado do tobogã, um brinquedo inflável azul, que as crianças passavam minutos escorregando nele até ir a exaustão.

— Por que vamos sentar aqui Gabriel? — Julia me perguntou.

— Porque aqui tem pouca gente passando e fica melhor para conversar. — Respondi abraçando-a e beijando sua bochecha em seguida.

— Certo! Mas você quer conversar sobre o quê? Porque estou louca para andar na barca viking e atirar na barraca de tiros. Eu já disse a você que adoro atirar, não disse?

— Assim... Só queria saber o que a gente tem... Você sabe... é... No nosso relacionamento. — As palavras quase não saiam da minha boca. Estava muito constrangido, não estava acostumado com uma relação mais séria, não sabia nem por onde começar. Mas Julia dominava tudo com maestria.

— Você quer saber se já estamos num lance mais sério?

— É isso! — Falei balançando a cabeça.

Sim! Pelo menos é o que eu acho. E para você é sério ou é só mais um lance qualquer? Porque por mim tudo bem se não quiser algo mais sério. Só quero saber o que você acha. — Ela falou olhando bem em meus olhos, estava realmente ansiosa para saber a minha resposta.

Naquela hora realmente não fazia a mínima ideia do que eu queria. Gostava dela, ela era perfeita, mas por outro lado, eu tinha medo. Tinha medo de me apegar, tinha medo de falhar com ela, tinha medo do compromisso, tinha medo de sofrer uma desilusão amorosa, tinha medo de encarar o pai dela, tinha medo de encarar os meus pais. Realmente eu tinha bastante medo! Contudo, falei:

— Claro que é sério para mim também. Seríssimo!

Meu coração gelou enquanto proferia estas palavras, nunca tinha me sentido assim antes. Mas Julia sorriu, fechou os olhos e me beijou, um longo e gostoso beijo, que aquietou todo o meu interior.

Eu acho que aquela praça presenciou o pedido de namoro mais estranho de todos os tempos, nessa época eu não tinha nada de romântico, costumava apenas seguir o fluxo, deixar as coisas rolarem, sem preocupação. Mas dali em diante seria diferente: irmos às festas juntos, jantares em família, mais intimidade. "Mais intimidade!?" Isso também me assustava.

Fomos na barraca de Tiro, Julia estava em um estado de pura excitação, não conseguia desmanchar aquele lindo sorriso. Fizemos uma pequena competição para ver quem tem a melhor pontaria. Perdi para Julia, ela realmente gostava de atirar, praticava tiros com armas de verdade junto com seu pai na chácara. Eu não gostei nada de perder para ela, era bastante competitivo e perder para uma mulher nessa competição me deixou frustrado.

Meu nome é GabrielOnde histórias criam vida. Descubra agora