- Não se preocupe Sr. Dionizio. Meu causo não é com o senhor, é com o vaqueiro que roubou a minha filha. - Disse Mariano olhando firmemente para os olhos de meu avô.
- José é meu empregado, mas que isso: Vi ele nascer e crescer, é como se fosse um filho meu. Por isso, que o causo é comigo também. Guarde sua arma Seu Mariano e vamos conversar dentro de minha casa.
- Irei, mas só porque o senhor está pedindo. Porque se dependesse de mim, aquele vaqueirinho iria ver como é bom roubar a filha dos outros. - Falou Seu Mariano colocando sua arma de volta ao coldre.
Mariano entrou na casa de meu avô e sentou no sofá como ele pediu. Ficou observando o enorme toca-discos em cima do rack, a enorme estante de madeira, com vários retratos. Observava e esperava o vaqueiro José chegar junto com sua filha.
- Pronto Seu Mariano, já mandei chamar os dois e mandei fazer um chá de camomila pra gente, para acalmar os ânimos.
- Não carecia não, Sr. Dionizio.
- Carece sim! O senhor está muito agitado hoje. Queria até cometer uma desgraça com outra pessoa. - Comentou meu avô, se referindo ao José.
- Mas eu tenho minhas razões Sr. Dionizio. O desgraçado roubou minha filha.
- Aí o senhor iria dá cabo da vida do seu futuro genro!? - Alfinetou meu avô. Ele era como uma velha raposa, nada do que uma boa conversa para ele convencer até o papa de fazer algo ao seu favor.
- Como assim futuro genro? Nunca irei permitir isso.
- Então o senhor não terá genro nenhum. É isso que o senhor quer?
- Não terei genro nenhum? Que história é essa? Onde o senhor quer chegar? - Perguntou Seu Mariano da Cohab, entrando na engrenagem de meu avô, sem nem se quer perceber.
- Veja bem Seu Mariano: sua amada filha foi desposada, sem casamento, mas foi; já está dormindo com um homem tem alguns dias; o senhor quer a levar de volta pra casa, sendo que ela não é mais pura; o senhor quer que ela se case com alguém importante. Mas quem importante vai se casar com uma moça que já pertenceu a outro homem? Aqui é interior Seu Mariano, o pensamento dessa gente de Viçosa é muito antigo.
Mariano ficou pensativo, no fundo ele concordava com tudo que meu avô lhe disse. Não queria admitir, mas ele sabia que a velha raposa tinha razão mais uma vez. É absurdo saber que existia pessoas que pensavam assim, que o valor de uma mulher está na sua virgindade. E mais absurdo é saber que ainda hoje tem indivíduos que pensam assim, não só nos interiores, mas em todo o lugar.
Finalmente José e Sandra chegaram. Os dois entraram na sala dando pequenos passos lentos, com as mãos unidas, como se temessem algo. E realmente temiam. Temiam a fúria de Mariano da Cohab, o comerciante mais valentão de Viçosa, naquela época.
- Sr. Dionizio pode deixar que agora eu converso com o Seu Mariano. - Pronunciou José, estufando o peito para demonstrar bravura.
- Nada disso, ninguém vai sair dessa sala agora! Antes eu tenho algumas perguntas! - Exclamou meu avô. - Menina, você foi obrigada a fugir com o José?
- Não senhor!
- Bom saber! E você José, qual é sua intenção com essa moça? - Continuou perguntando Sr. Dionizio.
- Quero me casar com ela, ter filhos, formar uma família. Faria tudo isso direitinho, mas Seu Mariano não permitiu nosso namoro. Por isso fugimos.
- Veja bem Seu Mariano, o senhor pode levar sua filha pra casa. Mas tem aquela história que eu lhe contei agora pouco. Não é mesmo!? Ou então o senhor permite que José case com ela. E se permitir, eu banco todo o casório, festa e tudo.
Ao ouvir a proposta de meu avô, Sandra apertou bem firme a mão de José. Os dois se encararam com o sorriso mais aberto que eles jamais deram ou iriam dar. A felicidade de Sandra estava transbordando naquele momento. Mas ainda tinha um porém, Mariano tinha que conceder. E ele continuava pensativo e em silêncio por um momento. Então, resolveu falar:
- É o jeito eu aceitar, não é mesmo!? Mas veja bem Sandra, de hoje em diante você morreu para mim. Não é mais minha filha e nem eu nem sua mãe iremos vir para esse casamento. E não procure mais a gente para nada. Para nada! Está me ouvindo?
- Mas pai, José é um moço direito!
- Mas pai nada! - Gritou Seu Mariano. - Eu tenho minha palavra. Agora o que eu não tenho é uma filha mais. - Mariano falou essas palavras com uma profunda tristeza, era como se alguém realmente morresse para ele. Seu interior estava de luto. Ele queria muito levar sua filha ao altar de véu e grinalda, conhecer seus netinhos. Mas sua honra já tinha sido dilacerada, para ele não tinha humilhação maior e o único concerto era deserdando sua única filha, mesmo a amando muito.
- Pai o senhor não pode f... - Sandra foi interrompida por meu avô.
- Respeite a opinião de seu pai menina! Ele tem todo o direito. E esse é o preço até razoável de se pagar pela burrada que vocês dois fizeram. Vou casar vocês, mas não posso achar que o que vocês fizeram é bonito. Isso foi muito errado.
- Bom, O que foi feito está feito, não é mesmo!? agora eu vou indo. Obrigado por tudo Sr. Dionizio, o senhor é um homem bom. - Disse Mariano, pegando na mão de meu avô.
- Eu que agradeço o senhor por não fazer o que estava pensando em fazer, quando veio até aqui. E se mudar de opinião, será um prazer ter o senhor e a vossa esposa aqui no dia do casamento desses dois cabeça-de-vento.
- Obrigado mais uma vez Sr. Dionizio, mas já tomei minha decisão e não costumo arredar o pé. Adeus pra vocês.
Seu Mariano da Cohab desceu os degraus da casa grande e entrou no seu automóvel. Sandra foi até a porta e com um olhar de tristeza ficou observando seu pai que estava prestes a partir. Mariano ligou o carro e deu início a sua viagem de volta à cidade; Sandra desceu a escadaria correndo e foi em direção ao automóvel já em movimento.
- Meu pai, meu pai, por favor não faça isso. Eu ainda sou sua filha, a Sandra. - Gritava a moça desesperada, atrás do carro que levantava poeira e já ia sumindo na curva.
Sandra caiu no chão, melada de poeira, ela continuava a chorar. José foi ao seu encontro para tentar acalmá-la.
- Não chore meu amor, ele falou tudo isso da boca pra fora!
- Volta painho, o senhor não pode fazer isso comigo. - Sandra sabia que quando ele falava algo ele mantinha até o fim, Seu Mariano da Cohab era muito cabeça dura e Sandra já estava sentindo o peso de sua ação. Mas agora já era tarde demais.
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Meu nome é Gabriel
RomansaO que é o amor? Quando sabemos que estamos amando realmente? O que uma pessoa é capaz de fazer por amor? Muitos dizem que amor é uma eterna entrega, é quando você pensa no outro antes de si. Amor é sacrifício, é se doar por inteiro para pessoa amada...