Dezesseis

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Apanho as coisas no criado mudo ao lado da cama, paro uma vez mais na frente do espelho e tento ajeitar os fios alaranjados e rebeldes do meu cabelo, mas de nada adianta. Bufo e esfrego o rosto nas mãos uma última vez, antes de sair da frente do espelho e chego á uma conclusão clara e óbvia: Estou com a aparência de um zumbi com insônia.

                Saio do quarto e tranco a porta. Ainda está escuro e o céu tristonho recebe-me, a chuva está mais amena. O vento gelado me abraça enquanto caminho até Harry que está encostado na parede coberta, ele está totalmente concentrado em seu celular e nem percebe minha presença ao seu lado. David sai de seu quarto e anda até nós dois. Seu cabelo está uma verdadeira zona, seu agasalho de lã está abotoado de uma forma bagunçada, mas ele parece não ligar nem um pouco. Há um sorriso gigantesco estampado em seu rosto e tento entender como alguém consegue ser assim a essa hora da manhã.

                - Bom dia!  - Seu entusiasmo quebra meus pensamentos e o foco de Harry em seu celular.

                - Bom dia. – O cabeludo e eu dizemos em uníssono com todo o desanimo possível, mas ele continua sorrindo.

                Entrego-lhe a chave do quarto em suas mãos, David acena com a cabeça em agradecimento e antes que ele se encaminhe a recepção, Harry o barra e entrega-lhe algumas notas de dinheiro. David intercala seu olhar entre MacMillan e o dinheiro e sorri agradecendo-lhe, indo em direção a recepção.

                - Como alguém pode sorrir daquele jeito ás 5h30 da manhã? – Resmungo.

                - Pelo jeito seu mau humor não passou. – Harry ri, guardando o celular no bolso de sua jaqueta.

                - Vai passar quando eu acordar, porque agora eu estou dormindo. -  Abraço-me, esfregando meus braços, a fim de tentar me esquentar.

                - Já disse que você fica uma fofura desse jeito. – Um sorriso forma-se em seus lábios e reviro os olhos exageradamente.

                - Eu até bateria em você, mas o meu sono é maior do que a vontade de arrancar esse sorriso idiota do seu rosto.  – Harry ri.

                Não satisfeito em me provocar, ele continua, aperta minhas bochechas e me chama de "coisinha fofa". Descruzo os braços, dou um tapa em sua mão e o empurro , ele ri mais ainda e semicerro os olhos, encarando-o séria; não consigo manter a pose por muito tempo, já que ele finge apertar minhas bochechas de longe e faz beicinho.

                - Que garota brava. – Ele enche as bochechas para dizer isso.

                - Sai daqui seu besta. – Empurro seu ombro e não me contenho, deixando uma risada escapar.

                David passa por nós e avisa que vai parar o caminhão mais próximo, para que não tomemos chuva, sem esperar qualquer resposta ele corre em direção ao caminhão e o traz até nós. Entro primeiro, ficando entre David e Harry. Antes de sairmos do estacionamento, Blake endireita seu banco e ajeita alguns espelhos. Seu braço estica-se atrás de meu banco e por instinto, levo a mão à arma posta em minha cintura.

                Não consigo confiar nele.

                David, com esforço, puxa uma manta e entrega-me.

                - Não aquece muito, mas ajuda. – Ele encolhe os ombros.

                Fico sem reação. De soslaio vejo um sorriso formar-se nos lábios de Harry, se pudesse, tenho certeza que ele riria da minha cara. Jogo a manta sobre minhas pernas, e sobre Harry.

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