Três

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O carro balança à medida que nos afastamos da cidade e a estrada passa a ser deserta. Harry avalia alguns papeis em seu colo, os mesmos papeis que peguei da mesa de Jake, ainda comendo sua maça com a maior calma. Harry sabe muito mais do que vai admitir, entretanto eu conheço muito bem esse cara, sei que ele não vai me dar as informações que preciso de mão beijada. A civilização já não existe mais. A areia toma conta de toda a paisagem, o sol está prestes a se por. O caminho me parece familiar. Ele instrui-me a parar, estaciono a beira da estrada.

Reconheço esse lugar, só não entendo o que estamos fazendo aqui.

- Tá legal, acho bom você não estar planejando me matar, saiba que o carro é rastreável e que vão te achar. - Solto antes de sair do carro, ele sai logo em seguida. Posso vê-lo sorrir.

Como eu amo esse sorriso.

Ok, foco, Micaela!

- Eu não vou te matar, é mais fácil acontecer o contrário! A esquentadinha é você. – Harry cruza os braços.

Dou a volta no carro e encosto-me à lataria do Honda Civic.

-Cala boca. – Empurro seu ombro, ele ri e assente - O que estamos fazendo aqui então?

A tensão entre nós dois, deixou de ser existente no instante em que entramos no carro; e isso é perceptível para ambos...É, ainda sabemos nos dar bem.

- O que aconteceu aqui há, mais ou menos, três meses? – Uma de suas mãos deslizam até o bolso de sua calça.

Ele, estica uma mão dentro do carro e pega um dos papeis, antes que eu possa responder qualquer coisa.

-Vince, dezesseis anos, desaparecimento. – Ele lê as informações e assinto, recordando-me de tudo – Próximo a este local. – A mão com a maçã aponta para uma direção á sua frente onde há uma casinha azul, um arrepio percorre minha espinha; ele morde a maçã uma última vez e a lança na direção que ele apontou.

- Lembro-me disso. Mas, não pegamos esse caso, não me lembro ao certo o motivo, se não me engano é por conta de jurisdição... Embora eu tenha batido o pé com Waters e com Oliver Bucker a respeito disso.

-Exatamente! – Ele me corta – E, vocês tinham todo o direito sobre esse caso.

-Na verdade, aqui é onde acaba nossa Jurisdição, então não podemos fazer nada a respeito – Encolho os ombros, repetindo as palavras que me foram dita, diversas vezes.

-E é aí que você se engana, agente Dallas. – Ele sorri, aparentemente orgulhoso. Tento entender o que é que ele está querendo dizer, mas não consigo entender absolutamente nada. Arqueio uma sobrancelha esperando uma resposta de sua parte – Eu vou te explicar – Harry caminha um pouco a frente e aponta para o horizonte – Daquela casinha azul, até este pedaço, onde estamos – Ele movimenta as mãos em círculos – É uma propriedade particular.

Arqueio as sobrancelhas.

- Não é algo que seja tão interessante para o governo, já há uma estrada aqui, portanto não é um pedaço de terra que eles se interessem. Com isso, dificilmente as coisas que acontecem aqui, o governo se responsabiliza ou é avisado. O proprietário com certeza é esperto o suficiente para jogar com vocês e fazê-los de bobo com esse negócio de jurisdição. Ou seja, Micaela- Ele vira-se para mim. O vento atinge seu cabelo e seu rosto é parcialmente coberto pelo mesmo- Eles jogam para vocês; vocês jogam para eles tudo porque acham que não podem e ninguém resolve nada, quando na verdade, qualquer um, pode e inclusive, deveria.

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