Os poucos carros que passam, passam a toda velocidade. Eu já imaginava que seria difícil conseguir uma carona, mas Harry protestou várias vezes dizendo que conseguiríamos facilmente. Já estamos aqui há meia hora. MacMillan estica o braço outra vez para outro caminhoneiro, mas ele não para, se quer deve ter nos notado. O cara ao meu lado bufa.
- Eu falei que devíamos ter parado para dormir um pouco. – Resmungo e ele encara-me cruzando os braços. – O quê? É verdade.
- Conseguir uma carona de dia é mais difícil do que durante a noite. – Harry replica. – Tenho certeza que vamos conseguir uma logo...
O dono dos olhos verdes mal termina de falar e um farol muda de direção, encostando próximo a nós, os fracos pingos de chuva são iluminados. O caminhoneiro baixa o farol e estica o pescoço para fora do carro. Harry encara-me e sorri vitorioso, reviro os olhos teatralmente e ele estica a mão para mim, ajudando-me a levantar do chão.
- Querem carona? – Um homem, que aparenta ter uns cinquenta anos, indaga. Harry assente. – Entrem aí.
Dou a volta na parte da frente do caminhão e entro, MacMillan entra logo atrás de mim e assim que fecha a porta o caminhoneiro volta a dirigir.
- Sou David Blake. – O caminhoneiro sorri – Para onde estão indo?
- Holmes Chapel. Não precisa ser necessariamente lá, não queremos te atrapalhar. – Harry o informa.
- Não, imagina. É meu caminho, eu deixo vocês lá.- O caminhoneiro simpático nos conforta e dirige com muito cuidado, mas parece cansado.
- Eu sou Harry e essa é a Amy. – MacMillan sempre foi o único a me chamar por meu segundo nome, e eu nunca entendi o porquê. Sempre pedi a ele que me chamasse de Mary, mas ele realmente insiste em me chamar assim.
- Muito prazer. – David acena com a cabeça. – O que houve para vocês estarem a essa hora na estrada?
Harry e eu nos entreolhamos.
- Tivemos um problema com... – penso em algo, mas nada parece muito convincente. O cara ao meu lado percebe e me ajuda.
- Minha família. E ai pegamos minha moto, mas... – Ele me pede ajuda com o olhar.
- Ela quebrou e depois...
- Capotou em um morro. – Ele completa e comprimo os lábios, afim de não rir.
- Uau! É uma história e tanto. – Fecho os olhos e respiro fundo. Espero que o cansaço do caminhoneiro tenha o deixado acreditar nisso. – Então, basicamente, estão fugindo?
Olho para Harry e tenho certeza que ele pensou a mesma coisa que eu: Poderíamos ter, simplesmente, dito isso desde o começo.
- Exatamente. – Harry afirma e baixo a cabeça.
Tento disfarçar minha vontade de rir e respiro fundo algumas vezes. Quando subo meu olhar, me pego avaliando David e o motivo, com certeza, é o que mais me machuca: Ele lembra-me meu pai. O loiro mais escuro, já misturado ao grisalho, a barba cheinha, os olhinhos caídos e o sorriso simpático sempre constante em seus lábios. Lembro-me que quando não consegui, em minha primeira tentativa, passar na academia de artes a qual queria estudar, meu pai sentou-se ao meu lado e me abraçou, deixando-me chorar em seus braços. Depois de um tempo, ele ergueu meu rosto com o indicador e sorriu para mim; seu sorriso aqueceu meu coração e de um momento ao outro, toda a tristeza se esvaiu. Papai me disse algumas palavras para me consolar, mas foi o seu sorriso que encheu meu mundo de alegria, outra vez. Depois disso, ele me arrastou para assistirmos um filme na sala, nosso programa preferido.

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FIX YOU
Hayran Kurgu|CONCLUIDO| Ela poderia simplesmente fingir que tudo continuava exatamente igual, que não havia nenhuma mudança; ela poderia dizer que não voltaria, que continuaria a fazer o trabalho pelo qual se apaixonou; mas ela sabia que, de verdade, não era is...