2 - Capítulo 36

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Assim que o jogo terminou, Calleb veio até mim, passou por debaixo de um corrimão e se sentou ao meu lado. Ele estava suado, ofegante, com uma garrafinha de água na mão direita.

- Nossa.-suspirou. - Estou morrendo.-ele deu um gole de água, levantando a garrafa, apertando-a um pouco.

Eu ri.

- E fedendo.-ele me olhou ofendido. - Estou brincando. Dizem que o cheiro natural, é o melhor.

- Gosta do meu cheiro?-brincou. Rimos - Eu vou tomar um banho.-se levantou.

Ele estava se referindo ao chuveiro que tinha no vestiário dos meninos. Esse chuveiro era para ser usado em ocasiões como esta - treinos.

Enquanto ele ia andando, se direcionando ao banheiro, eu ia atrás dele. Entramos em um corredor, então passamos pela porta do vestiário. Havia três garotos conversando, mas logo saíram. Me sentei em um banco, aonde ficavam os armários. Calleb foi até o banheiro.

Peguei meu celular para ver as horas, então me lembrei que hoje tinha sessão do grupo de apoio. Me levantei do banco e fui até o banheiro, conversar com Calleb.

Meus passos eram calmos, mas meu corpo ficou rígido e paralisado, quando vi Calleb, nu, tomando banho.

Ele notou que estava ali, então virou-se para mim. Sua feição era neutra, provavelmente não sentia vergonha ao estar nu, na minha frente.

- É, eu...Me lembrei que hoje tinha sessão. Você vai?-perguntei.

Minha maçã do rosto estava queimando, estava totalmente corado. Mas fazia o possível para que ele não notasse. Observei a água caindo em seu rosto, chegando no chão. Minha postura era firme.

- Hoje eu não vou, pois irei na festa da Mikaela.-respondeu.

- Festa?

- Sim, Mikaela não lhe contou?

Ele começou a esfregar seu braço direito com o esquerdo.

- Não. Eu também, nem gosto mais de festa.

- Porque não?

- Porque sempre acontece alguma coisa ruim. E se acontecer mais alguma coisa, eu não sei se vou suportar.

Sua expressão mudou, ele ficou sério. Mas de um jeito diferente, não é um triste normal. Havia ódio em seus olhos.

- Não deixe que babacas acabem com sua vida.

Ele virou-se de costas para mim, me deixando ter uma visão de seu bumbum, redondo. Olhei para o lado, mas parecia que meus olhos chamassem para ver. Olho para um banco que continha proximo ao banheiro - aonde não estava no molhado. - e me sentei. Olhei para o lado e vi sua camisa. A peguei e coloquei sobre meu colo.

Logo ele desligou o chuveiro e se enrolou em uma toalha.

- Então você não quer ir na festa?-ele se aproximou de mim e se sentou ao meu lado.

- Não.-minha voz saiu tremida.

A cena do beijo invadiu minha cabeça. Eu estava muito confuso. Porque ficaria pensando nisso o dia todo?

[ . . . ]

Quando cheguei em casa, Raphael já tinha saído do trabalho, e estava se arrumando, junto com Leonardo e Donatello.

- Aonde vocês vai?-perguntei, esperando que um dos três me respondessem.

- Na festa da Mikaela.-respondeu Leonado. - Você vai?

- Não, eu não vou.-respondi seco.

- Se quiser, cuidaremos de você.-disse Donatello.

- Não preciso de babá.

Raphael estava em frente ao espelho, arrumando o zíper da calça.

- Não precisa tanto de uma babá que acabou com o ânus perfurado.-disse Raphael, bem baixinho. Mas todos que estavam no quarto de Leonardo, escutaram. Exclusive eu.

Todos no mesmo momento, ficaram quietos. Raphael o mesmo, ele parou de arrumar o zíper, e virou-se para mim.

- Mikey, eu...

Sai correndo do quarto, já com lágrimas nos olhos. Entrei no meu quarto e fechei a porta com força.

- Eu queria isso à muito tempo. Não se preocupe! Vai ser bom.

Aquilo martelava minha cabeça, de um modo inexplicável. E novamente me encontro querendo sumir. Eu sentia as mãos dele viajando por meu corpo.

- Abre a boca.
-

Será que ele não aguenta dois, não?
- Vamos usar brinquedinhos.

Eu pensei que já tinha superado, mas pelo visto, não. Isso ainda me machucava, de uma maneira insuportável.

Meus irmãos entraram no quarto, e um deles me abraçaram por trás.

- Me desculpa, eu não queria ter dito aquilo.

Era Raphael atrás de mim.

- Porfavor Mikey, me perdoa? Sabe que eu sou um idiota.

Enxuguei meu olho, mas ele ainda permanecia úmido.

Me viro para ele.

- Tudo bem. Você não queria dizer aquilo. Eu entendo.-abri um sorriso.

- Não, não está tudo bem. Por que você ainda não teve justiça.-disse Donatello.

Como se eu merecesse alguma.

- Não precisa de justiça. Eu superei.

- Mas...-começou Leonardo. - Você estava chorando por isso.

Coloco minhas mãos na cintura.

- Eu só não preciso lembrar. Sério, eu já superei.-tentei ser convincente.

Até porque eu queria mesmo superar aquilo sozinho. Desse modo, ninguém vai ficar te cobrando nada, te perguntando nada. Seria mais fácil, por mais que deveríamos conversar.

- Não precisa bancar o durão o tempo todo.-disse Leonardo.

Abri um sorriso sem mostrar os dentes.

- Eu estou bem.

Raphael se aproximou de mim, com os braços estendidos. Entendi o jesto e o abracei.

Depois de um tempo. Meus irmãos já tinham ido para a festa. Já eu, estava no sofá, assistindo TV, tomando sorvete, escutando os roncos do meu pai às 21h.
Meus irmãos tinham insistido para mim ir. Mas prefiro ficar em casa, assistindo Hoje eu quero voltar sozinho.

Me lembrei daquela cena do banheiro. Era tão estranho...ele nu na minha frente. Sendo que já havia visto outros caras nus. Inclusive meus irmãos, ou quando fazia basquete, que eu tinha que tomar banho junto com meus colegas.

Olho às horas no meu celular mais uma vez, enquanto sentia o sabor do sorvete de chocolate se derreter em minha boca. Uma parte de mim, queria ir, já a outra, morria de medo.

Me levanto do sofá. Decido ir na festa. Mesmo não querendo admitir para mim mesmo. Queria ir ver Calleb, eu estava com saudades. Vou para meu quarto e me arrumo.

Parecia que podia escultar a música da casa da Mikaela à um quilômetro. Isso até me assustava, com certeza, lá estava lotado. Quando conseguia ter a visão da casa, havia pessoas lá fora com copo de bebida na mão.

Fique e Mostre Que Se Importa. [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora