Olho em volta do cômodo procurando algo que me desse a oportunidade de usar como desculpa. Talvez se eu conseguisse sair daquele local mais cedo poderia de alguma maneira ajudá-la. Nada me parece útil, então desisto de procurar. Talvez conversar seja o melhor para eles dois mesmo. Talvez o que eles mais precisem agora é de um tempo sozinhos para se conhecerem. Quer dizer, nós não sabíamos nada sobre eles e agora temos uma pequena noção. Mas será que eles sabiam algo sobre nós ou também foram deixados na sombra por seus pais?
—Olívia, querida. - Foi a vez da minha mãe falar.
—Sim, Majestade. - Respondo da maneira mais cordial possível ignorando o olhar culpado dela. Ela sabe o que está fazendo com Anne. E, pelo jeito, não planeja parar.
—Por que você não leva o Ethan para passear também? Tenho certeza que ele adoraria conhecer o palácio. Certo, querido?
—Seria uma honra, Majestade. - Ele responde já se levantando e estendendo a mão para mim. Penso por apenas um segundo e percebo que não é como se eu tivesse muita escolha mesmo. Pego-a e entrelaço meu braço ao seu, pronta para sair da sala. Antes de sairmos fazemos uma reverência aos reis e nos retiramos.
Começamos a andar pelos corredores do palácio. Eu não me atrevia a olhá-lo e ele também não me olhava, quase como um acordo implícito. Tudo que preenche meus pensamentos agora é Anne. Estaria tudo bem com ela agora?
—Vossa alteza está bem? - ele diz e percebo que estive roendo minhas unhas até agora pela preocupação.
—Oh, estou sim. - Tento inutilmente voltar ao nosso contrato silencioso de antes, mas ele não parece querer isso.
—Então, ansiosa para o casamento do ano? - Fala em tom de deboche. O que ele quer dizer com isso? Será que ele percebe que acabou de zombar com o futuro da minha irmã? Eu estou ansiosa para esse pesadelo acabar e tudo que eu ver ao acordar seja minha irmã deitada em sua cama relaxada, isso sim.
—Como assim? - Pergunto tentando não parecer de todo grossa, mas preciso saber o que ele quis dizer. Dobramos a esquina do corredor e começamos a andar em direção ao Salão Principal.
—Qual é? Um casamento entre uma futura rainha e um futuro rei de dois dos reinos mais poderosos do Ocidente. No mínimo, metade do planeta está ansioso por ele. - Menos Anne, completei mentalmente. Fiquei boquiaberta com a liberdade em que ele falava. Para onde tinha ido aquele garoto todo formal de antes?
—Não me parece um evento tão incrível assim. - imagens da minha irmã pulando da minha cama e indo ao banheiro enxugar suas lágrimas não param de vir a minha mente.
—Isso seria inveja? - Oi?
—Admito que possa ter parecido isso, mas eu de maneira alguma teria inveja de um casamento arranjado sem amor envolvido. - Respondo de uma só vez e começo a me arrepender no segundo seguinte. Droga, eu e minha boca grande. Continuamos andando até que paramos em frente ao gigante Jardim Real.
—Isso eu consigo entender. - Nele começou a aparecer uma feição indescritível. Não consigo nem imaginar no que estava pensando. - Só nos resta esperar que esse casamento arranjado sem amor envolvido dê certo, não é mesmo, Alteza?
—Sim, acho que sim. - Começo a focar em suas palavras. Ele está certo. Por mais que eu ainda odeie a ideia desse casamento, ele precisa funcionar. Não estamos falando de poucas dezenas de pessoas, estamos falando de nações inteiras que dependem disso. Nações, essas, que eles dois terão que governar juntos um dia. E a ideia do que um casamento desarmonioso pode fazer com elas é simplesmente assustadora. Meneio a cabeça no ar e o observo se abaixar para tocar nas flores. Primeiro nos lírios, depois nas violetas e por último nas camélias. Foi um toque delicado, quase como se as estivesse acariciando. Após isso, ele se levantou e voltou a entrelaçar seu braço no meu.
—Eu tenho um dom, sabia? - Ele diz com um sorriso de lado.
—Acredito que não seja de bom tom elogiar a si mesmo. - Olho em direção ao palácio e me pego imaginando o que eles estão fazendo.
—Você é sempre tão formal? - Para de andar e me encara diretamente me forçando a olhar para cima.
—Você é sempre tão informal? - Ele parece pensar um pouco.
—Achei que não teria problema, temos idades muito parecidas. Por exemplo, eu não falaria com a sua irmã assim. - Algumas coisas vêm em minha cabeça. Primeira: "idades parecidas". Então, ele sabe minha idade e eu não sei a dele. O que significa que eles já estão melhor informados que a gente. Segunda: "sua irmã". Há quanto tempo alguém não se referia a ela dessa maneira. Sempre foi: "Sua Alteza" ou "Futura Rainha". Não que eu tenha inveja, mas gostei do tom de informalidade dessa vez.
—Como sabe minha idade? - Pergunto a primeira coisa que me vem à cabeça. Não gosto da ideia dele ter uma vantagem sobre nós.
—Sabemos muito sobre vocês. Não é para menos, meu irmão vai se casar, ele precisa, no mínimo, conhecer a idade de sua noiva. - Ele tem razão. Faz todo o sentido. Deveríamos saber disso há muito tempo também. - Pela sua cara, você não sabe nem a minha idade, não é? - Não sabia nem da sua existência, completei mentalmente. - Sou apenas dois anos mais velho que você. - "Você", essa informalidade me atingindo em cheio novamente.
—Entendo. - Decido que é melhor perguntar. - E o seu irmão?
—Eles dois têm a mesma idade. - Responde simplesmente. Tenho tantas perguntas que gostaria de fazer, mas talvez não seja o melhor momento para fazê-las. Não seria indelicado demais? Ele está sendo informal comigo a conversa inteira, eu deveria tentar também. A única pessoa com quem eu falo desse jeito é Anne.
—Ethan. - Ele olha para mim, talvez surpreso por eu estar finalmente deixando as formalidades de lado. Paramos e nos encaramos um pouco até eu tomar a coragem para perguntar. - Eu preciso saber. Como o Nathan é? Não como futuro rei ou príncipe, mas como pessoa. Como ele é? - Ele sorri, depois pega os meus ombros e me vira de costas para ele nos fazendo olhar diretamente para uma área do jardim.
—Ele é assim. - Vejo o que ele está tentando me mostrar e fico atônita por uns segundos. Do outro lado do jardim, está a minha irmã e seu noivo, de repente eles olham para baixo e ele começa a se abaixar. Ao olhar mais atentamente podemos ver ele ajeitando o sapato dela que havia saído, provavelmente por causa das pedras nas quais ela deve ter tropeçado. O rosto de Anne está reluzente, daqui posso ver um sorriso crescer em sua face e um sentimento de alívio tomar conta de meu corpo. - Não se preocupe, Olívia. Sua irmã está em boas mãos.
—Afinal, qual o seu dom? - Pergunto me lembrando do que ele disse anteriormente. Ele me vira de volta para ele e tira as mãos dos meus ombros sorrindo para mim do jeito mais gentil possível.
—Sou bom em ler pessoas.
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Royal Connection
RomanceVestidos longos, tronos ornamentados e aposentos majestosos. Isso nunca foi novidade alguma para mim. Afinal, eu sou a princesa de Camellia. Tudo que me dão sempre é do bom e do melhor, portanto nunca uma reclamação pode ser ouvida saindo dos meus l...