Royal Connection

Cap. 17

Você saberia o estado de completo congelamento da matéria ao me ver parada ali. Sem saber como reagir e totalmente perplexa.

Minha irmã nunca fez isso ou nada parecido. Quando eu digo que ela sempre foi a filha perfeita herdeira do trono que todos os pais iriam adorar ter eu não estava exagerando em nenhum aspecto.

Quando ela completou 15 anos, meus pais fizeram uma festa no Salão. Qualquer um acreditaria que seria uma decoração jovial própria de uma adolescente e que Anne convidaria vários outros adolescentes para celebrar com ela. Seria o normal, certo? Bom, quem fez a decoração foi a minha mãe e eu posso dar certeza que não tinha nada de jovial nela. Eu mesma tinha 11 anos na época e senti a diversão saindo do meu corpo de criança. Ah, os convidados também não eram adolescentes. Alguns diplomatas aqui, três ou quatro embaixadores de nações distantes ali e Boom! Essa foi a festa.

Seria de se esperar uma reclamação ou, ao menos, um descontentamento aparente vindo da parte de Anne, não é? Nada disso aconteceu. Na verdade, naquela noite ela fez tantos novos contatos importantes — Que elogiavam a sua maturidade, aliás — que eu acabei pegando no sono no Salão de tão cansativo que aquilo estava sendo.

Isso costumava ser algo chato e ao mesmo tempo aliviador. Afinal, eu nunca seria tão perfeita quanto a minha irmã, mas os meus pais também não colocariam as suas expectativas nisso, o que deixava a minha vida mais fácil.

Lógico que ninguém é um robô. É totalmente plausível pensar que um dia Anne não aguentaria a pressão e desabaria. Mas eu esperava que durasse apenas isso, um dia. E que não fosse em um dia tão importante no qual os olhos de todos estão focalizados nela. Ah, não. Se minha mãe ver isso, serão duas mulheres pirando nesse quarto.

—Sabe quando você está brincando de bonecas e elas têm a própria casa, o próprio carro e você sente que pode fazer o que quiser com elas, como se a história fosse mais sua do que delas? - Ela diz com a visão focada na porta. Assenti com a cabeça. - Eu nunca me senti como a criança brincando. Eu sempre me senti a boneca.

—Isso é por causa do casamento? Se sim, a gente pode...

—Não é só isso. Na verdade, Nathan foi uma das únicas coisas boas que toda essa brincadeira de controle já me trouxe.

—Não sabia que se sentia tão controlada assim. - Abraço-a pelos ombros.

—Não é que eu não queira ser rainha. - Ela faz uma pausa e se afasta um pouco. - Eu amo o povo e, querendo ou não, tenho a qualificação. Mas eu tenho medo, sabe?

—Medo do que, exatamente?

—De que, até mesmo quando eu for rainha, eu não poderei controlar a mim mesma. - Diz depois de um suspiro. - É difícil pensar nos outros antes de mim mesma e cansa as vezes.

—Então, descanse. - Ela olhou pra mim com cara mais confusa que já vi em seu rosto. - Eu sou sua irmã, não sou? Estive com você a sua vida inteira, não estive? E mesmo assim você nunca me disse nada disso. - Segurei a sua mão e sorri. - Fale tudo agora. Não deixe para depois. Tudo o que você não disse por ser a perfeitinha pode falar comigo nesse momento. Só estamos nós duas aqui e se depender de mim eu levo todos os seus segredos para o túmulo.

Não demorou dois segundos até Anne começar a esbravejar de choro. Felizmente, as paredes foram feitas de um material bom o suficiente para não deixar o som passar. Ela me contou tudo. TUDO MESMO. Até mesmo coisas de antes de eu nascer que eu fiquei surpresa por ele ainda lembrar. Desde todas as festas sem graça até o arrependimento por não ter quase amigo nenhum da sua idade.

Também contou sobre um garoto — de quem eu nem sabia a existência — que ela gostava quando era adolescente. Ela o conheceu, pois era filho de uma das criadas, e se apaixonou. Mas o status social dele não desceu pela garganta do Rei, ou seja, a criada foi despedida e o menino mandado para bem longe. Ela disse que o maior arrependimento dela foi não ter conseguido dizer nada na época.

—Era só um relacionamento adolescente, não duraria muito, mas eu tenho medo do que pode ter acontecido com ele. - Me conta enquanto enxuga algumas lágrimas.

Tudo não durou mais do que meia hora. Eu olhava para ela e meu coração se partia, acho que na minha cabeça ela pra mim tinha uma imagem de heroína. Mas, as vezes, temos que entender que heróis também quebram. Ninguém é obrigado a segurar o peso do mundo nas costas. A pressão não pode, nem deve, ser a ponto de deixar alguém louco. Nessas horas, o melhor é procurar alguém de confiança e simplesmente desabafar. E eu fico feliz que esse alguém fui eu.

—Anne, você é a pessoa mais incrível que eu conheço. - Ela olha pra mim depois de enxugar o resto de lágrimas que ainda estava em seu rosto. - Alguém que conseguiu aguentar tudo isso por tanto tempo é incrível.

—Isso não quer dizer que eu possa ser rainha. E se a única coisa que me possibilita ser rainha for só o meu nascimento? E se quando tudo acontecer eu fizer besteira?

—Eu vou te dizer o porquê de você poder ser rainha. Você é a pessoa mais generosa que eu já conheci, eu ainda lembro quando você saiu às escondidas para dar um pirulito para um mendigo. Você ficou tão feliz com o sorriso que ele deu que não parou de falar sobre por um mês. Claro que só pra mim, se não a mamãe pirava. - Finalmente, ela deu um sorriso. - Você também tem um instinto de mãe incrível. Lembra quando eu tinha uns cinco anos e nossos pais estavam em mais uma de suas inúmeras viagens? Bem, eu fiquei doente e nem mesmo Kate podia me ajudar já que ela tinha ido junto. Você não era muito mais velha que eu na época, mas ficou comigo à noite inteira checando a minha temperatura. E, por último, dá pra ver o quanto você se importa com o povo, quase como se fosse a mãe deles também. Nunca me esqueci daquela reunião que durou o que? DUAS SEMANAS. Tudo isso porque queriam aumentar os impostos sobre os pacientes do hospital público e você passou o tempo todo os convencendo o quão ruim isso seria para a população.

—Isso não foi nada demais. - Ela revira os olhos e sorri.

—E ainda por cima é humilde. Me diz se essa não é a melhor rainha de todas. - Acabamos gargalhando e um suspiro de alívio deixou a minha boca.

—Obrigada, Liv.

—De nada. - Nos abraçamos e eu fico assustada com o tempo que a gente levou para resolver isso. - Vou chamar alguém para ajeitar a sua maquiagem.

—Okay, você é a melhor.

—Eu sei. - Dou uma última olhada nela e começo a correr.

***

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