Cap. 21

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Passamos essas duas semanas conversando. EU E MINHA MÃE conversamos por duas semanas. Há quanto tempo isso não acontecia? Eu descobri tantas coisas sobre ela nesse meio tempo. E fiquei extremamente feliz com tudo isso. Nossos passeios no jardim já eram marcados e todo dia nos encontrávamos lá e rimos com coisas aleatórias. As vezes, eu me sentia mal por saber que Anne estaria trabalhando enquanto nós nos divertíamos, mas, poxa, eu só queria por um tempo ser uma filha normal com uma mãe normal e podermos conversar sem ficarmos preocupadas com a próxima reunião, isso não é crime.

Essas duas semanas com a minha mãe foram ótimas, mas, por melhor que tenham sido, elas não conseguiram me fazer esquecer da ausência do Ethan comigo nesses momentos. A cada dia que se passava, as nossas escapadas escondidas e encontros secretos pareciam mais distantes.

—Você está fazendo de novo.

—Oi? Eu não estou fazendo nada. - Tento desconversar, mas se tem uma coisa que eu aprendi com a minha mãe nesse tempo foi que ela é bem observativa.

—Está sim. - Ela senta ao meu lado no banco e continua a mexer com o buquê de girassóis que tem em mãos. - De vez em quando, você para e começa a olhar para um ponto específico com um semblante triste. No que está pensando?

—Não é nada demais. - Digo e começo a mexer nervosamente no tecido do meu vestido.

—No Ethan, não é? - Paro imediatamente e a encaro com surpresa. Mas como...? - Por favor, né Liv. Você fala desse menino todos os dias e sempre com um sorriso. Achou mesmo que eu não ia notar?

—Pelo jeito, eu não sou nada boa em esconder coisas. - Abaixo a cabeça.

—Filha, olhe pra mim. Não tem nada de ruim em estar apaixonada, sabe? Lembro até hoje quando me apaixonei pelo seu pai. Quer dizer, não deveríamos nem ter cogitado ficar juntos na época, afinal ele estava prometido para uma princesa e eu era apenas filha de um duque. Nos conhecemos em uma das muitas celebrações reais e acabamos nos apaixonando.

—E o que aconteceu? - Pergunto com entusiasmo por essa ser a primeira vez em que eu ouvia essa história.

—Seu pai disse que não se casaria com a princesa de jeito nenhum. Ocorreu uma grande comoção na realeza e nobreza e muitos rumores foram passando até que o comunicado real foi emitido a todos. Nesse comunicado havia a quebra de acordo com a tal princesa, no dia seguinte ele me pediu em casamento.

—Eu nunca soube disso. Mas, se isso aconteceu, como vocês podem ter feito Anne se casar dessa maneira?

—Você sabe como Anne é. Ela aceita as ordens rápido e facilmente. Seu pai não queria que ela se casasse assim, muito menos eu. Mas ela ouviu de todo o resto que isso seria o seu destino, então nem mesmo queria se envolver com qualquer um que não fosse um príncipe. O único garoto que eu me lembro foi de quando ela era menor e ele não tinha dinheiro, o seu pai não estava em um momento bom, muito menos o reino, então descontou tudo em sua irmã e basicamente humilhou o menino. Depois de um tempo, ele se arrependeu, mas é orgulhoso demais para pedir desculpas, então arranjou esse casamento para ela.

—Como assim?

—Eu sei que vocês ficaram com raiva achando que só tínhamos pego qualquer um para casar com a sua irmã, mas não foi nada assim. Seu pai acordava de madrugada toda noite e checava possíveis candidatos, ele não olhou riqueza ou propriedade, ele apenas pensava nas personalidades e índole. Ele não queria arranjar para sua irmã alguém que não a faria feliz e eu o ajudei com isso, com um pouquinho de toque feminino sabe? No final, Nathan foi o escolhido. Mas eu e ele fizemos um acordo. Se Anne dissesse em algum momento que não queria casar ou víssemos tristeza nela, o casamento seria cancelado não importando a quem isso prejudicaria. Mas, conforme o tempo foi passando, só a vimos mais feliz e animada. Fazia tempo que não a víamos sorrir assim, então deixamos que acontecesse.

—Eu nunca imaginaria isso. - Começo a me julgar mentalmente por todas as vezes que sentia raiva dos meus pais por causa desse casamento.

—O que eu quero dizer com essa história é: amor é importante e muito. Poder, dinheiro... isso vai vir com o tempo. Mas amor é insubstituível. E eu fico feliz que você arranjou alguém que você sorri dessa maneira quando fala sobre.

—Sim, seria ainda melhor se ele não tivesse que passar mais um mês nas Ilhas do Sul. Mal conseguimos nos comunicar.

—Você deveria ir até ele. - Abro a boca com a sua declaração. - Aproveite que eu estou sendo boazinha. Conseguiremos rearranjar suas reuniões e aulas. Pode ir.

—É sério? - não consigo acreditar. Nunca passei tanto tempo longe de casa assim.

—Muito sério. Vá.

Me levantei imediatamente e comecei a andar rápido. Nem percebi quando já estava correndo em direção ao meu quarto. A minha mala começou a ser cheia rapidamente, parte disso porque eu estava praticamente enfiando tudo lá dentro sem o menos cuidado. Preparei tudo e saí deixando apenas uma carta pequena de despedida para Kate, Anne e mamãe. Entrei na carruagem preparada por minha mãe e ela disse que conseguiu falar com Nathan e ele deixará todos no castelo sabendo da minha ida para poderem me preparar tudo. Bem, todos menos o Ethan já que eu o farei uma surpresa. Ela também me garantiu que vai guardar o meu segredo de namoro de todos até decidirmos contar.

***

Um tempo longo de viagem se passou, mas parece que ainda tem um pouco para passar. Eu já dormi, já escrevi e desenhei, tentei olhar para a paisagem que me parecia linda de início, mas agora já está tediante.

Eu não acreditei de primeira quando minha mãe me deixou vir. A maior quantidade de tempo que fiquei fora de casa foi de uma semana e, na época, isso deu o maior problema pra mim. Um mês parecia totalmente fora da realidade.

A minha vontade de ver o Ethan só foi aumentando a cada momento que chegávamos mais perto. Espera que ele tenha sentido minha falta tanto quanto eu senti a dele. O pior é que até mesmo por correspondência a nossa comunicação ficou difícil, porque vivia demorando pra chegar e depois que chegasse a resposta demorava de novo para chegar no outro lado.

—Vossa Alteza. - O cocheiro me chama. - Chegamos. - Ele desce primeiro e segura a minha mão me ajudando a descer. - Levarei a sua bagagem, pode entrar, Alteza.

Faço que sim com a cabeça e começo o meu caminho. De repente, todo o meu cansaço some. Entro no palácio e cumprimento a todos bem rapidamente, mas o suficiente para não ser mal-educada.

—Vossa Alteza, gostaria que eu a levasse aos seus aposentos agora? - Uma das criadas me pergunta.

—Na verdade, eu quero ver o príncipe Ethan. Onde ele está? - Não consigo esconder o sorriso.

—Ele está na sala de descanso, Alteza.

—Certo, obrigada. - Eu conseguia me lembrar mais ou menos onde era por causa da última vez que eu vim aqui e não hesitei em ir em sua direção.

Cheguei no corredor onde fica a sala de descanso e começo a me aproximar. Ao chegar mais perto avisto a porta entreaberta e olho pela pequena abertura. Sim, ele está aqui, acabo me perdendo em sua beleza por poucos segundos e, nossa, parece que só agora caiu a ficha da saudade que eu sentia.

Comecei a abrir a porta, mas algo me fez parar. O barulho de outra porta sendo aberta no lado oposto ao meu. Dela saiu uma garota loira e bem bonita e não hesitou um momento antes de abraçar o Ethan e ter seu abraço correspondido, e, por fim, dizer duas simples palavras que acabaram com qualquer grama de felicidade no meu ser.

"Meu amor!"

***

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