Cap. 3

36 7 0
                                    

Começamos nosso caminho de volta ao Salão Principal. Tínhamos apenas passado pela frente de sua porta e não entrado nele, de fato. Na realidade, eu não entrei nesse local desde que começaram os preparativos para o casamento. Talvez fosse uma espécie de protesto silencioso, mas ainda era um protesto. Paramos em frente à porta e somos recebidos com reverências, dessa vez ninguém anunciará nossa chegada já que não há ninguém com sangue real lá dentro. Entramos ainda de braços enlaçados e pude ver a decoração na qual minha irmã tem trabalhado tão arduamente nessas últimas semanas. Um mês. Foi esse tempo que deram para ela se preparar enquanto se recuperava do choque da notícia de seu casamento.

Ninguém pode duvidar que está bem bonito, e pelo que consigo perceber quase tudo está nos conformes. Ela escolheu uma decoração clara com tons pastéis, as cadeiras são de veludo branco e no meio há uma grande passarela que vai de uma extremidade a outra parando no palco no qual ocorrerá a consumação dos votos. Afinal, que votos ela deve ter feito? Talvez não existam. Não seria uma má ideia pular essa parte. O que ela pode jurar para alguém que mal conhece? Prometer um amor que não sente?

—Tudo está bem agradável. - Ethan fala me guiando em direção a duas cadeiras. Na nossa pequena caminhada pude perceber mais detalhes, como a renda delicada colocada gentilmente sobre cada mesa ou as samambaias que estão ao lado do palco dando um pouco mais de cor ao ambiente.

—Está sim. Bem a cara dela. - Falo em um impulso e me xingo mentalmente pelos meus modos. Ele ri ao ver minha careta.

—Fico feliz em saber que já passamos da fase de formalidades. - Sorri para mim. Decido que preciso falar o que está entalado em minha garganta. Sentamos nas cadeiras e eu me viro em sua direção.

—Obrigada. - Ele parece surpreso e confuso. - Honestamente, eu estava nervosa em relação ao seu irmão. Agora o príncipe Nathan não me parece de todo mal. - Ele sorri vitorioso - Isso não quer dizer que confio em vocês ainda, viu? - Aponto para seu rosto e ele levanta seus braços como se estivesse se rendendo, por fim acabou rindo.

—Obrigado pela sua consideração, Alteza. - Faz uma reverência forçada me fazendo gargalhar.

—Enfim, por que os reis das Ilhas do Sul não vieram com vocês? - Pergunto depois de me acalmar. Eu realmente quero saber. Afinal, não era um encontro real comum. O filho deles vai se casar.

—Explicamos isso antes de você aparecer naquela sala. Eles tiveram um compromisso extremamente importante e inadiável.

—Mas é o casamento do filho deles. Como algo pode ser mais importante? Não consigo entender isso.

—Na maioria das vezes, os reis se sacrificam pelo bem do povo. Olhe para os livros de história. Os reis que sempre se deram ao povo são quase adorados e os que decidiram pensar nas suas vidas quase são tirados de suas covas para receberem tomates na cara. Essa é a realidade. E é isso que aqueles dois vão enfrentar. - Ele aponta para uma janela que tem a vista do jardim. Ele está certo de novo. Crescemos ouvindo relatos de servos que amavam seus líderes e outros que os odiavam. É fácil distinguir quando um rei vai ser apreciado ou detestado. Basta ele olhar um pouco para si mesmo ou ser fraco em tomar suas decisões. Um erro pode custar o seu trono.

—Estou curiosa sobre mais uma coisa. - Falo levantando o meu dedo indicador.

—Você é curiosa sobre tudo. - Apoia suas costas na cadeira e olha diretamente nos meus olhos me dando um pouco de calafrios. - O que quer saber?

—Só íamos nos conhecer no dia do casamento. - Quando nos contaram isso eu fiquei vermelha de raiva. Não tiveram a decência nem de avisar com um bom tempo de antecedência que as nossas vidas mudariam drasticamente, principalmente a de Anne, e ainda querem que ela o veja apenas no altar? Ao saber que o encontro tinha se tornado mais próximo me permiti sentir um pouco de alívio, pelo menos saberíamos com quem estamos lidando. - Por que adiantaram isso?

—Não te disseram? - Ele se mostra totalmente surpreso e me encara por uns segundo, talvez esperando eu dizer que era apenas uma brincadeira. - Bem, foi porque...

—Princesa Anne Main de Camellia e Príncipe Nathan Eister das Ilhas do Sul. - O brado do guarda nos fez olhar para trás com a surpresa e encaramos o casal que tinha adentrado o Salão.  Olho diretamente para minha irmã procurando nela qualquer olhar de socorro que eu possa achar, mas ela não tinha nenhum. Na verdade, aparenta até mesmo um pouco animada. Ninguém diria que é a mesma mulher que engatinhou para a minha cama na noite passada. Ela vem em nossa direção com o braço entrelaçado ao do Príncipe Nathan. Ele por si só parece feliz, só percebe a nossa presença um pouco depois dela e a acompanha.  Me levanto e faço todas as formalidades das quais sempre fui instruída.

—Vossa Alteza está estonteante. - O garoto ao meu lado dispara. Nem parece o mesmo que estava falando tão informalmente comigo. Minha irmã sorri e agradece o elogio. Posso estar delirando, mas acredito até em tê-la visto olhando um pouco carinhosamente para seu noivo.

—Por favor, me chame só de Anne. - Ela diz com um belo sorriso no rosto. Um sorriso digno de uma rainha.

—Prefiro "cunhada". - Ele fala sorrindo em sua direção como se fosse a coisa mais natural do mundo. Achei que ela ficaria tímida e tentaria esconder o rosto, mas Anne apenas riu e concordou com a cabeça. Não é possível que só eu esteja achando isso estranho. Há algumas horas nem nos conhecíamos e agora ele está até a chamando de cunhada.

—Vossa Alteza. - Agora Nathan se dirigiu a mim.

—Apenas Olívia está bom. - Sorrio em sua direção.

—Pode ser "cunhada" também. - Ethan fala de novo e seguro meu desejo de o dar um tapa no braço. Minha irmã pode não ter ficado tímida com isso, mas eu fico. Como se estivesse lendo a minha mente, Anne me olha e me manda um olhar como se dissesse: "Comportada". Apenas sorrio para os dois e aceno a cabeça.

—Maggie, venha aqui. - Anne acena com a mão chamando uma das criadas que se aproxima imediatamente. - Já vai anoitecer, leve os príncipes para seus aposentos e chame alguns criados para ajudá-los a desfazer suas malas.

—Sim, Alteza. - Espera um segundo. Malas, aposentos... Tem algo que ninguém me contou aqui. Assim que eles se retiram minha irmã percebe a confusão em meu olhar.

—Não te contaram? - Faço que não com a cabeça - Eles ficarão aqui até o casamento, talvez até depois quando decidirmos em que palácio iremos nos alojar.

—Até isso não me contam. Ótimo. - Consigo sentir meu rosto explodir de raiva.

—Fique calma, Olívia. Não é tão importante assim.

—Não é importante? Anne, seu noivo e irmão vão dormir nos aposentos reais próximos aos nossos, e por mais que tenhamos passado a tarde com eles nós mal os conhecemos. - Falo um pouco alto demais e consigo ver olhares de alguns criados virando-se para mim.

—Olívia, modos. - Ordena. - Somos princesas aqui, temos que agir como tal. Quanto a eles você não precisa se preocupar, não há perigo algum.

—Essa não é a questão. - Falo um pouco mais calma, mas a mágoa continua presente em minha voz. - Eu posso ser a princesa daqui, mas cada dia que passa eu sinto que sei menos. - Cruzo os braços e recebo um abraço inesperado.

—Sinto muito, contarei tudo que souber para você, está bem? - Olha nos meus olhos como fazia quando eu ainda era pequena.

—Eu não sou criança. - Ela volta a me abraçar agora soltando uma pequena risada.

—Você ainda é a minha criança.

Royal ConnectionOnde histórias criam vida. Descubra agora