Cap. 5

57 6 2
                                    

Entrelaço meu braço no da minha irmã e começamos a caminhar em direção aos meus aposentos. Depois que o jantar acabou nos despedimos dos príncipes e nos retiramos. Essa é definitivamente a melhor hora para perguntar o que estou querendo o dia inteiro.

—Como foi o passeio? - Olho para ela.

—Acho que já respondi essa pergunta antes. - Fala em tom de brincadeira.

—Vamos lá, Anne. Eu sei muito bem que se você tivesse alguma reclamação, iria preferir morrer a falar naquele momento. - Puxo seu queixo fazendo-a olhar pra mim. - Quero saber a verdade.

—Foi bom. De verdade. - Ela voltou o rosto para a frente. - Na verdade, eu estava nervosa. Muito. Mas... - Ela fez uma pausa e eu olhei para seu rosto. - No começo, nossa conversa não parecia que ia dar muito certo. Fiquei confusa no que falar e ele também, mas depois de um tempo acabamos nos encontrando em um tópico e não paramos de falar desde então.

—Que tópico? - O que poderia ter sido suficiente para fazer a conversa fluir dessa maneira?

—Nossos irmãos mais novos. - Fala em um tom divertido e meu queixo quase cai no chão.

—Como assim? Você estava falando o que de mim? - O que ela poderia ter dito para o próximo rei sobre a irmã caçula dela? Algo bom? Algo ruim? Os dois?

—Segredo. - Fala com um sorriso. Por mais que eu tenha ficado nervosa em saber que fui assunto na conversa dos futuros reis, fico feliz em perceber que acabou dando certo. Se eles precisarem falar de mim para se darem bem, podem falar à vontade. Entre a minha dignidade e a felicidade da minha irmã, abro mão da primeira sem pensar duas vezes.

—Já estão guardando segredos, então? Ótimo, troca sua irmã mesmo. - Finjo uma expressão ofendida.

—Eu não te troco por nada, garota. - Bagunça meu cabelo e percebo que estamos na frente da minha porta. - Já vou indo.

—Não quer ficar? Você sabe que não tem problema.

—Hoje não precisa. - Esbanja um sorriso confiante e me sinto mais calma. - Depois vou querer saber que intimidade toda foi aquela com o príncipe Ethan. - Ela pisca para mim e faço uma careta. Nos despedimos e entro no quarto, encontro-o completamente organizado. Tudo em seu devido lugar e nada disso é meu mérito. Se dependesse de mim, ninguém conseguiria achar nada naquele quarto. As vezes não sei se eu sou boa em fazer bagunça ou se é a bagunça que é boa em me fazer.

Vou em direção ao criado mudo que fica ao lado de minha cama e procuro o meu caderno. Ele sabe mais meus segredos do que eu. Um pequeno — grande — presente do meu último aniversário. Lembro de tudo que me deram, presentes caros e de dar inveja em muita gente. Mas eu não ligava para nada daquilo. Meus pais tiveram que viajar na semana anterior, minha irmã estava ocupada em suas aulas de economia do outro lado do país e eu estava sozinha de novo. Pelo menos, era assim que me sentia até que uma senhora mais velha com seus cabelos grisalhos entrou em meu quarto com um embrulho. Kate. Praticamente a agarrei quando pulei da cama, acabei chorei em seu ombro por horas. Quando finalmente conseguiu me consolar, ela me entregou um caderno vermelho junto à um estojo, tudo que saiu de sua boca foi: "Eu sei que não se compara com os presentes que você recebeu, mas eu não queria deixar esse dia passar em branco". Eu amei tanto aquele caderno que não tem uma viagem que eu vá sem levá-lo. Eu não estava mais sozinha.

Começo a folhear e me pego sorrindo lembrando da história. Não era mais uma memória triste. Se tornou a maior prova de que eu tenho, sim, pessoas que se importam comigo. É muito mais importante ter alguém que sinceramente te estenda a mão do que legiões seguindo a sua voz. Quando as pessoas pensam na realeza, elas encaram isso como algo perfeito. Se elas soubessem nossa história, será que mudariam de ideia?

—Alteza. - Um guarda bate na porta e entra no quarto - A senhorita tem uma visita. É o príncipe Ethan Eister. Devo deixá-lo entrar? - Fico intacta na minha posição. O que ele pode querer para vir falar comigo tão tarde? Faço que sim com a cabeça e a próxima coisa que vejo é um rapaz alto entrando nos meus aposentos e o guarda saindo. Ainda bem que não tirei meu vestido ainda.

—O seu quarto é bem bonito, princesa. - Fala e se senta ao meu lado na cama. Afasto-me um pouco. Que ousadia.

—O que está fazendo aqui? Já passou do horário. - Pergunto nervosa e não consigo evitar ficar olhando para a porta. - Se minha irmã te pega aqui...

—Relaxa, Olívia. Eu fui discreto.

—Você é muito folgado. - Falo observando ele se aconchegar mais em meu cobertor.

—O que é isso? - Aponta para o caderno que eu tinha colocado sobre a cabeceira da cama às pressas quando ele chegou.

—Nada importante. - Arranco o caderno dali e jogo no criado mudo. Ele levanta os braços como se estivesse se rendendo e sai da cama rindo.

—Você está muito tensa. Está mudando o que pensa da gente de novo, Alteza? - Pergunta em um tom divertido.

—A única coisa que eu consigo pensar agora é que tem um garoto...

—Um príncipe. - Interrompeu.

—De noite no meu quarto...

—Muito bonito, por sinal. - Me cortou novamente. Fico com raiva e vou para sua frente.

—Sem eu ter convidado. - Cruzo os braços.

—Você teria me convidado? - Olha fixamente os meus olhos.

—Não, mas...

—Claro que não, então eu vim mesmo assim. Estava entediado no meu quarto, não tem nada pra fazer.

—Que tal dormir? - Falo como se fosse óbvio.

—Onde está a graça nisso? - Pergunta e vai em direção a minha sacada abrindo as portas deixando o ar frio da noite adentrar o quarto.

—Não podemos ficar aqui! - Falo com a minha cara mais séria. Se alguém me pegar aqui com ele, eu estou ferrada. - Já passou do horário. Vamos. - Tento puxar o seu braço e não consigo movê-lo nem um centímetro. Ele pega a minha mão e me puxa de volta fazendo meu rosto colidir contra seu peito. Sinto a vergonha tomando conta de mim e me separo dele imediatamente. Quando tenho coragem de levantar o rosto para ele novamente vejo um sorriso de lado ali instalado.

—Por que você é tão medrosa, Olívia? - Olha para mim com uma feição curiosa.

—O que? Eu não sou medrosa, não. - Tento tomar cuidado para não levantar a voz demais. - Eu sou só responsável.

—Olha para mim. - Foco em seus olhos - A vida é curta demais, Olívia. Um dia você pode ser um ninguém e no outro virar alguém importante. Correr um pouco de risco não seria nada mal para você. Colocar um pouco de adrenalina na sua vida. - Encaro-o embasbacada. Ele simplesmente me disse algo que venho pensando há alguns anos. Nunca corri riscos ou passei de limites. Minha vida tinha provado ser um verdadeiro tédio. Um tédio com vestidos bonitos e aulas de etiqueta. Se eu já pensei em fazer algo? Sim, mas como? A única pessoa para quem eu poderia perguntar sobre isso é minha irmã, e bem... não daria muito certo. O que eu faço agora, então? Devo tentar?

—Você... - Pondero por um tempo. O que pode acontecer de pior? - Você pode me mostrar como?

—Mas é claro. - Estende a mão direita em minha direção e eu aperto. - Acho que esse período no seu palácio acabou de ficar um pouco mais interessante.

Royal ConnectionOnde histórias criam vida. Descubra agora