Se alguém pudesse descrever todos os meus sentimentos agora, eu agradeceria. Quer dizer, eu estou triste por ter que voltar pras Ilhas do Sul agora, com raiva por ter que sair tão rápido sem poder ao menos me despedir de Olívia e com medo do que me espera ao chegar lá. De fato, eu tive a ideia de fazer o pique-nique ontem para tentar alegrá-la um pouco, mas, pensando melhor, foi mais para que eu me sentisse menos culpado.
Ela sabe que eu escondo algo do meu passado, mas ela provavelmente não imagina que seja algo tão podre. Não consigo aguentar o simples pensamento dela querendo me deixar ao descobrir, então não consegui arranjar coragem para contar. Quando eu a conheci, o nosso relacionamento se tornou o mais estranho possível, eu a ajudava a escapar do palácio em um tempo em que ela tinha medo de fazer até mesmo isso, o que ela não sabe é que ela me ajudou com tantas outras coisas.
Quando eu estou com a Olívia, eu não sou uma farsa. Eu não me sinto como se não pertencesse àquele lugar, porque quando estamos juntos é apenas isso, é como se criassemos o nosso próprio lugar não importando onde estivéssemos. Se ela soubesse o quanto o seu sorriso já me acalmou, o quanto a sua risada soa melodiosa para mim, de modo que desejo ouví-la o tempo todo e não me canso de fazê-la rir.
Chego no palácio sem o menor ânimo para sair da carruagem, olho em volta e me conformo com o que me espera.
—Pode deixar minhas malas no meu quarto?
—Claro, Alteza.
Entro e começo a olhar em volta, está tudo estranhamente silencioso. Uma pequena chama de esperança começa a acender em meu coração, mas ela é rapidamente apagada pelos braços que eu sinto me rodiarem por trás.
—Senti sua falta, amor.
—Não faça isso. - respondo com rispidez.
—O quê? - Pergunta com uma cara de inocente. Quem ela acha que engana?
—Não me chame assim, Julie. Sabe que não gosto.
—Não existe ninguém que esteja em um relacionamento amoroso e não goste de apelidos.
—Existe eu. - Na verdade, não gosto com você. - Então, pare.
—Não importa. Eu gosto, então trate de gostar. - Ela fala as últimas palavras em tom de ordem e nós dois sabemos muito bem o porquê. Apenas abaixo a minha cabeça e assinto. - E nas próximas vezes, seria legal sentir o meu abraço sendo retribuído. Só uma dica.
Ela diz isso e vai em direção as escadas, mas não sem antes me dizer - não, corrigindo: me notificar - que teríamos um jantar a dois hoje e que eu deveria me preparar da melhor maneira possível.
Vou em direção ao meu quarto, minhas malas ja estão cuidadosamente colocadas no canto da parede e as roupas ja foram depositadas organizadamente no meu armário. Olho para o meu quarto, nenhum detalhe dele me escapa aos olhos. Mas as lágrimas começam a se tornar mais fortes e eu não consigo mais pará-las, nem quero. Eu me sinto o maior covarde, fui eu que ensinei à Olívia como se libertar e se sentir bem com tudo a sua volta, mas eu não posso me dar ao luxo de deixá-la fazer o mesmo comigo. Meus dias de felicidade parecem estar contados.
Decido me levantar para começar a me preparar para hoje à noite, afinal preciso estar perfeito.
***
—Como foi a sua estada lá? - Julie me pergunta enquanto corta o bife no prato a sua frente. - Eles te tratam bem?
—Melhor do que eu poderia pedir. - Digo simplesmente.
—Quero conhecê-la. - Faço um cara de confusão. Ela não pode estar falando da... - A tal de Anne. Ela é rainha agora e se casou com o meu primo. Devemos nos encontrar. Quem sabe da próxima vez que você for lá eu não vá junto? - Tento esconder o meu deboche. Eu nunca deixaria que ela fosse comigo, o ruim é que eu talvez não tenha escolha.
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Royal Connection
RomanceVestidos longos, tronos ornamentados e aposentos majestosos. Isso nunca foi novidade alguma para mim. Afinal, eu sou a princesa de Camellia. Tudo que me dão sempre é do bom e do melhor, portanto nunca uma reclamação pode ser ouvida saindo dos meus l...