Capítulo 7: "R" de relâmpago

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Nós estávamos abraçadas como se ela fosse real, como se ela tivesse ossos. Eu sentia o cheiro do seu perfume, o cheiro de cabelo molhado e da sua pele fria. Ela realmente parecia comigo, com aquelas cabelos castanhos um pouco abaixo dos ombros, pele dourada de como surfistas profissionais do Havaí.

Soltamos-nos e eu olhei seu rosto, como um modo de memorizá-la mentalmente. Era a primeira vez que eu estava com minha mãe e não queria perder nenhuma das suas feições.

- Você... Está bem? - Falei gaguejando.

- Não. Eu não posso tomar meu caminho se vocês não conseguirem cumprir as suas missões.

- Então me conte a verdade... O que realmente aconteceu?

- Eu não sei. Quando temos contato com os humanos nossa memória é apagada, e só volta quando voltamos para nosso devido lugar. Mas algo me impulsionava a dizer que vocês tem que ficar sempre unidas, se os seus elos se acabarem, suas seguranças ficaram fragilizadas levando consequências sérias.

- O que devemos fazer?

- Além de permanecerem juntas, vocês devem usar a sua agilidade, a inteligência da Alia e a seriedade da Sunny. Tendo isso em mãos vocês vão saber o que fazer. Agora tenho que ir.

- Mãe espere...

Minhas últimas palavras ficaram vagas no ar, ela desapareceu como um sopro de neblina, me deixando sozinha na varanda com o Jack. Ele estava com um livro na mão e vindo em minha direção.

- Bem, esse livro é do meu pai... Acho que você gostaria de ler, pois em pequenos pedaços fala sobre sua mãe.

Analisei o livro, e reparei que era como um diário. Todos os dias o Senhor Leroy escrevia neles, até o dia em que minha mãe desapareceu.

- Eu irei ler, espero que me faça lembrar a minha mãe.

- Kyle... Desde o primeiro dia que te vi, eu tive a sensação de que eu deveria te proteger. E o destino te trouxe até a minha casa, acho que ele não quer que eu falhe. Eu percebi que vocês estão procurando algo, mas eu não preciso saber. Eu quero ficar ao seu lado te apoiando em tudo.

Ele pousou a mão em minha nuca, me deixando arrepiada. Eu não disse nenhuma palavra até que ele fechasse os olhos e eu fiz o mesmo. Fazia três anos que não tinha beijado alguém, o último foi o Tauan. Então ele deixou seus lábios encostarem ao meu, fazendo com que nossas línguas se tocassem e no melhor momento de tudo eu tive outro flashback.

Meu pai estava no carro seguindo minha mãe, mas ela não percebera. Ela se encontrou com um homem em um posto. O homem vestia um casaco preto com um capuz, o que não dava para reconhecê-lo. Eles se abraçaram e se beijaram fazendo meu pai ficar exaltado dentro daquele carro.

- Ela não podia ter feito isso comigo!

Minha mãe saiu e quando viu o carro do meu pai, entrou no primeiro ônibus que passou e seguiu em frente à avenida. O homem do casaco preto saiu do posto, e meu pai o atropelou o jogando de volta contra o vidro do local.

- O que aconteceu? - Disse o Jack pegando em minhas mãos.

- Não sei. Algo estranho, eu estou tonta. Desculpe-me, preciso me deitar.

Saí da varanda como um foguete e fui para o quarto, ouvi o Jack gritando que não precisava se preocupar que iria dormir no sofá. Fechei a porta e abri o diário, em busca de algo que comprovasse que o Senhor Leroy seria o tal homem do posto. Porém, o Senhor Leroy era muito mais velho que minha mãe, e pela visão que tive, o homem era da mesma idade que ela, depois dos meus pensamentos a ideia foi tirada da minha cabeça.

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