Exterminador de demônios

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Sexto memorial

Exterminador de demônios

"...dois séculos de infindáveis batalhas, nenhuma paz de espírito e uma difícil luta no norte gelado..."


Abaixo, uma imensidão de paisagens cobertas pela neve e gelo. Daquele ponto alto, tudo parecia muito tranqüilo. Este episódio a narrar aconteceu muitos anos depois que deixei o Vale de Drenzult e o combate às rainhas.

– Não gostei daqui – resmungou Aztazûr.

– Sei disso, quer descer e descansar um pouco?

– Não, quero chegar logo! Ainda falta muito?

– Não Az, o acampamento fica lá, após aquelas montanhas.

– Mas isso é muito!

– Chegaremos antes do crepúsculo.

– Sinto falta de Scarlett – revelou o dragão.

– Verdade? Você está ficando mole, Az. Passar uns tempos em Nelfária te deixa mal acostumado.

– Você não tem sentimentos. Devia cuidar melhor de seus filhos.

– Não posso me dar a este luxo, você sabe. Há muito na guerra que depende de mim.

– Quando voltaremos?

– Não tão cedo – respondi sentindo um breve calafrio.

– Você está com medo de confrontá-la.

Ele tinha razão. Muitos anos haviam se passado. Dois séculos de guerra. Neste ínterim, tive seis filhos com Scarlett. O primeiro veio após a derrota da primeira rainha demoníaca. Isso há mais de cento e setenta anos. Naqueles anos, ainda retornava a Nelfária ocasionalmente e Scarlett abraçara a função de reprodutora, para a qual eu colaborava a cada uma de minhas visitas. Tinha afeto por ela, mas não amor. Foi após o nascimento de meu sexto que a lei de reprodução veio a cair. O que começou com casos especiais, agora se tornara regra: a pureza da raça e seus atributos não estavam mais sendo transmitidos aos descendentes. Meu sexto já foi um destes degenerados. Já ocorriam centenas de nascimentos de crianças degeneradas entre os elfos, assim como os gêmeos que tive com Jilija. A degeneração moral de nossa raça agora se manifestava no nascimento das crianças amaldiçoadas. Aos poucos, todos os elfos perderam a capacidade de reproduzir indivíduos perfeitos, ligados às energias da profundeza das terras e à deusa Ectarlissè. A maldição se fortalecia a cada ano, consumindo toda nossa raça e toda nossa antiga glória. A ligação com a terra se rompia e cada vez mais as novas gerações estavam desconectadas, cada vez mais aéreas.

Algo semelhante ocorria com os Holmös e Vetmös, as duas castas superiores entre os humanos e que mais se assemelhavam aos elfos. Era como se a fonte de vida do mundo e das raças nobres estivesse se extinguindo. Apesar de que as armas advindas do Hostenoist estivessem provocando efeito nas batalhas, o espírito de luta dos homens e elfos estava em declínio.

Enquanto Shasticara, a quem ainda desejava, lutava em uma campanha do outro lado do mundo. Scarlett por sua vez, avançava como sacerdotisa do templo de Ilksuut em Falíssiria.

Eu sempre estivera envolvido demais na guerra para acompanhar o crescimento de meus filhos, sendo que não criei vínculos afetivos. Meu filho mais velho, Nargil, estava naquelas terras geladas e a possibilidade de encontrá-lo trazia-me alguma ansiedade.

Agora sobrevoávamos o extremo norte do continente outrora habitado pelo império dos Vetmös e, nestes dias, infestado por hordas demoníacas. No leste ficava nosso maior flagelo, o portal para os planos infernais. Helmut e seus exércitos buscavam a base de comando do duque Zimbros naquela região eternamente gelada.

Quill - O Exterminador de DemôniosOnde histórias criam vida. Descubra agora