O Centenário

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Segundo memorial

O Centenário

"...meus cem anos, meu casamento, a capital do império élfico e uma grande infelicidade..."


Raastad insistia – Quill, eu repito, há mais na vida que a guerra. Já passou da hora de tomar um descanso.

– Mas general, agora que as hordas se retiraram é hora de avançarmos! É nossa primeira vitória significativa nesta guerra.

– Há muito mais a se considerar. Por exemplo, sabe de fato quais são as principais hordas? Onde elas estão? Quem são seus comandantes? Onde estão seus pontos fracos?

Eu sabia algumas das respostas, mas talvez mais rumores do que fatos. Para mim, como capitão, muitos relatórios não chegavam. Sabia que não era para eu responder. Eram perguntas retóricas.

– Pois então, confie no que digo. É hora de você retirar-se da frente de batalha. Você deve retornar a Nelfária, imediatamente. É tempo de comemorar seu centenário e de tomar uma esposa.

Sentia-me contrariado e não via sentido em me retirar. Minha presença era importante demais. Eu e a Balcatemi fazíamos enorme diferença em cada uma das batalhas.

– O senhor vai me ordenar?

– Não, mas vamos fazer um acordo.

– Acordo?

– Sim, você volta, descansa por um ano e eu o visitarei para fornecer informações de inteligência e colocá-lo a par de sua próxima missão.

Raastad percebia minha relutância e acrescentou – Além do mais, agora já estão nas frentes de combate a segunda e terceira geração de armas do Hostenoist.

– E quanto a Nish? O cerco está cada vez pior...

– Lazeth e a frota humana de Bendomar levam reforços, e com eles, cinco das mais novas armas do Hostenoist.

– Por que não posso me juntar a eles?

– Já expliquei, sua próxima missão começará em um ano. O cerco contra Nish não poderá ser quebrado antes disso.

– Nelfária então...

 ***

Nelfária, a capital do império élfico era uma cidade gloriosa. Cruzada por extensos canais, repleta de lagos geométricos, templos e palácios e jardins. Abrigava agora, apenas um décimo da população de antes do início da guerra. Era um local melancólico e desolado estando fechados diversos setores e bairros. A área central, ainda mantinha muito do movimento de outrora. Os templos próximos ao magnífico palácio das três torres prateadas ainda concentravam movimento e vida.

A celebração de meu centenário ocorreu no vigésimo quinto Gallzu de 9.415, data na qual os três imperadores, Nell Devarsh, Bzir Naldiir e Tell Mozeth se reuniram para me prestar suas homenagens. Todos queriam ver a bela Balcatemi. Mas não me senti muito bem ao mostrá-la a todos. Sentia a inveja e cobiça no olhar de uns e outros.

Foi uma festa extravagante preparada para mais de dois mil convidados e extremamente fatigante para mim. Iniciou-se durante a tarde com uma infindável comitiva de nobres e militares que desejavam conhecer o tão falado capitão Quill e sua lendária espada Bimu Balcatemi.

Felizmente, concederam-me um intervalo no qual fui conduzido a uma área reservada. Ali tive boas surpresas.

– Quill, meu filho, que enorme benção poder vê-lo novamente!

– Mãe? – Estava surpreso em vê-la, vinda de tão longe.

Pela primeira vez, agradeci internamente a Raastad por ter me convencido.

Quill - O Exterminador de DemôniosOnde histórias criam vida. Descubra agora