VINTE E NOVE: "Pesadelo Vs. Realidade"

2.3K 253 11
                                    

Mesmo depois de anoitecer os guardas permaneceram ali. Mas Maxwell já tinha um plano em mente para despista-los.

Ainda atrás de um arbusto, ele correu até a lateral da casa e espiou pela beirada. Pegou uma pedra e atirou, acertando em cheio a bochecha do guarda que estava guardando a porta principal. Ele gemeu, e virou o rosto na mesma direção em que a pedra lhe acertara o rosto. E, como parte do plano, o guarda correu até lá. Entretanto, Maxwell foi mais rápido e se escondeu atrás do arbusto novamente. Ele observou enquanto o guarda vasculhava a lateral da casa.

Quando ele virou as costas para voltar, Maxwell pegou outra pedra e atirou no guarda que estava atrás da casa, guardando a janela do quarto em que se encontrava Evangeline. O guarda xingou e tirou a arma rapidamente, mirando na mesma direção de onde veio a pedra. Ainda com a arma apontada, ele começou a dar passos calculados em direção à lateral da casa, onde o outro guarda se encontrava.

Ótimo! Tudo estava indo conforme o planejado!, pensou Maxwell, olhando tudo acontecer com um sorriso macabro no rosto.

O guarda atrás da casa pisou sem querer em um graveto - colocado ali de propósito por Maxwell -, o que fez o guarda da lateral correr até a esquina da casa e colar suas costas na parede. Ele tirou seu cassetete do cinto e esperou. O guarda de trás da casa se aproximou, então...

Poft!

O guarda da lateral acertou em cheio seu parceiro.

Maxwell tapou a boca para abafar uma gargalhada ao ver o espanto no rosto do coitado quando percebeu que havia acertado seu amigo. Ele se ajoelhou ao lado do guarda caído, e, sem perder tempo, Max saiu de trás do arbusto com uma pedra maior na mão. E o guarda que ainda checava a pulsação do amigo desmaiado nem percebeu quando a pedra foi de encontro à sua cabeça.

Em suma, com os dois guardas inconscientes, Maxwell correu até a janela que ele sabia que Evangeline estaria e começou a escalar.

♥♥♥

Evangeline não sabia porque a Sra. Righter estava tão histérica. Diferente da primeira vez em que a viu, agora a Condessa estava mais carinhosa e educada. Seja o que for que Kevison escrevera naquela carta, decerto os pensamentos dela mudaram.

Agora ela estava despida no mesmo quarto em que ficou tempos atrás, atrás de um biombo e dentro de uma banheira com água fumegante. Deus! Como estava precisando disso! Sua cabeça pendia na borda da banheira, completamente relaxada. Porém, sua mente ainda girava, indo sempre em direção à Kevison. Estava tão preocupada que temeu enfartar; afinal de contas, seu coração estava com uma palpitação incomum. Sem falar naquele sentimento terrível que ainda a estava perturbando. Parecia um aviso...

Mas, querendo um pouco de paz e descanso, Evangeline fechou os olhos e tentou pensar no som de um piano. Entretanto, passos começaram a soar no piso de madeira polida do quarto. Mas ela não se importou, sabia que estava segura ali dentro. Tinha guardas vigiando o casarão, afinal. Contudo, o que a deixou receosa foi que não ouviu a porta sendo aberta. Achou que seria uma criada que entrara ali para arrumar suas roupas e seu cabelo, mas ela teria batido antes, não teria?

A madeira rangeu embaixo da banheira.

- Curtindo o banho, Srta. De La Cruz?

Ela abriu os olhos em fração de segundos.

Maxwell estava parado ali. Metade de seu corpo tapado pelas sombras do quarto escuro; a outra metade estava iluminada pelo luar que vinha da janela. E mesmo assim Eva conseguia ver o sorriso endiabrado que estampava seu rosto.

Ela gritou.

♥♥♥

De longe, Kevison conseguia ver a carruagem dos homens de Sir Gadrel estacionada em frente sua casa, e, por isso, uma faísca de esperança se ascendeu em seu peito. Talvez Evangeline estivesse segura e dormindo numa hora dessas, rezou ele.

Entretanto, quanto mais se aproximava da lateral, mais ficava preocupado e desesperado. Ele freou o cavalo com ferocidade ao lado dos guardas caídos. Infernos! Infernos! Infernos! Isso só podia ser obra daquele diabo do Maxwell! Nem o conhecia, mas pelos relatos de Evangeline, aquele homem só podia ser a encarnação do diabo.

Sem querer perder mais tempo, Kevison correu até a entrada da casa e escancarou a porta com ferocidade. Estava escuro ali, a não ser pelos candelabros que já estavam com a chama fraca.

- Evangeline! - Ele gritou.

♥♥♥

Evangeline acordou de supetão, sentando-se na cama, e colocou a mão sobre o coração acelerado.

Santo Deus! Fora só um sonho.

De todo modo, não tinha como Maxwell entrar ali. A casa estava sendo vigiada por guardas.

Respirando fundo para tentar se acalmar, ela se levantou. Precisava beber água. Comera demais antes de se deitar, talvez fora isso a causa de seu pesadelo. Ou tenha sido a voz melodiosa da Sra. Righter que, mesmo depois de ter parado de falar, o som ficou reverberando nos ouvidos de Eva.

Estava de camisola e descalça, mas a casa estava silenciosa; talvez estivessem todos dormindo. Ela ergueu o braço para pegar a maçaneta da porta no mesmo instante em que ouviu um baque. Ela se virou com um pulo de susto, e Maxwell estava ali, bem em frente janela.

Mas como?

- Vai a algum lugar, Evangeline, querida?

Eva não soube dizer o que aconteceu com seus sentidos quando o viu ali. Só que sentiu um terror tão grande subir por seu corpo que agora não conseguia mover um músculo sequer. Estava paralisada, petrificada como uma estátua. Só seu peito se mexia com a respiração pesada; e as lágrimas que saíam eram silenciosas.

Contudo, ela forçou as pernas a se moverem, o que foi como levar um choque; e correu para a porta. Mas Maxwell já estava ali, rápido demais, segurando-a pela cintura e levando-a para longe da saída. Eva tentou lutar se esperneando, mas ele era forte demais.

- Solte-me! Sol... - Ele tapou a boca dela com as mãos.

No mesmo instante alguém gritou no andar de baixo.

- Evangeline!

A moça reconheceu a voz imediatamente, e quase desmaiou de alívio.

Kevison! Ele a salvaria... Mais uma vez!

Evangeline sentiu a tensão de Maxwell sobre seu corpo. Sentiu também quando alguma coisa gelada e afiada encostou em seu pescoço; uma adaga.

- Se gritar eu a matarei. - Ele sussurrou em seu ouvido, o hálito quente queimando como ácido. - Só me diz uma coisa. Eu matei o cara errado, não matei?

Evangeline não respondeu. Estava assustada demais.

Maxwell soltou uma risada exasperada.

- Mas é claro que matei. - Ele virou Evangeline agressivamente para que ficassem frente a frente; a adaga agora apontando para o seu coração. - Agora escute. Eu a levarei daqui de qualquer forma. Não quero machucar ninguém. Mas machucarei se for preciso. Foi tão fácil matar um Righter, mais fácil ainda será matar o outro. Mas, se não quiser que isso aconteça, preciso que faça tudo o que eu mandar. Estamos entendidos?

Evangeline só o encarou. Era tudo o que conseguia fazer.

- Estamos entendidos?! - Ele rugiu um pouco mais alto.

E, com as forças que ainda restavam, ela meneou a cabeça positivamente.

Não tinha escolha, aliás.

LIBERTE-MEOnde histórias criam vida. Descubra agora