DEZESSETE: "De joelhos"

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Evangeline abriu os olhos, completamente entorpecida. Tentou se levantar, mas uma dor latejante em sua cabeça a fez gemer. Colocou a mão no lugar onde vinha a dor - um pouco acima da nuca -, e sentiu um caroço ali. Foi então que cenas começaram a passar em sua mente.

Ela se lembra de estar no topo de uma ravina, beijando Kevison, até que ele se afasta e Maxwell aparece, querendo leva-la embora. Eva diz que não, o que deixa o Duque furioso. Max a puxa fortemente pelo pulso e coloca alguma coisa sobre sua cabeça para tapar a sua visão, uma touca, pensou. Ela se debateu, foi onde sentiu uma pancada na cabeça, e agora estava ali, onde quer que estivesse....

Eva olhou ao seu redor. Reparou que estava sobre uma cama de ferro com um colchão fino e mofado; o cômodo onde estava era um quarto, percebeu. Era muito pequeno e oval, e tinha poucas mobílias, como um pequeno armário, um biombo no canto da parede e uma penteadeira velha com a pintura descascando; tinha uma lareira também, mas parecia inutilizável.

Se levantou em um pulo, e se arrependeu no mesmo instante, pois sua cabeça doeu com o movimento. Ela correu até a única porta que tinha ali de madeira com uns arabescos de metal entalhados. Tentou puxar a maçaneta, mas estava trancada. O que está acontecendo?; se perguntou. Olhou desesperada ao redor do quarto, temendo estar trancafiada novamente, e viu, do outro lado, janelas duplas com os mesmos arabescos da porta. Eva correu até lá e puxou o trinco, então elas se abriram.

O vento que entrou quase a derrubou para trás. Evangeline ficou tão aliviada! Mas quem a prenderia em um quarto com a porta trancada, mas com a janela destrancada? Será que esqueceram deste detalhe? Não se importando, Evangeline se aproximou do peitoril. Foi quando viu porque que as janelas estavam destrancadas.

A cabeça da moça começou a girar e suas pernas bambearam quando viu o quão alto estava; tão alto que o chão não era visto. Uma névoa assustadora cinzenta cobria quase toda a extensão do solo de onde quer que Eva estivesse. Ela colocou as mãos sobre a barriga, enjoada, e se afastou da janela. Odiava e tinha medo de altura.

Ela sentou-se na cama e começou a pensar, seus pensamentos estavam eufóricos. Será que ali onde estava é um tipo de masmorra ou simplesmente uma torre pária de uma construção antiga? Será que fora Maxwell que a prendera ali? Mas para quê? O que ele quer com isso?

Seus pensamentos cessaram quando ouviu o barulho da porta sendo destrancada, e ficou atenta. Olhou ao redor do quarto para ver se tinha alguma coisa com que pudesse se defender, um vaso, um pedaço de madeira... Mas não, o quarto era completamente vazio.

A porta se abriu com um rangido tão feio que fez Evangeline cerrar os dentes, então uma mulher entrou.

- Wanda? - Perguntou Eva, completamente surpresa. Mas então percebeu: era sua governanta parada ali! A mulher que cuidou dela a vida inteira... Estava salva!

Por isso correu com lágrimas nos olhos de alívio e abraçou-a... Ou pelo menos tentou. Pois, Wanda agarrou seus braços antes que o abraço acontecesse, e olhou Evangeline nos olhos de uma forma tão brutal que a menina não a reconheceu. Foi quando um bleft! fez Eva cair no chão, e sentiu no mesmo instante sua bochecha se aquecer com o tapa que recebera. Sentiu gosto de sangue, e soube que tinha ferido seu lábio inferior, porque formigava bem ali.

O que está acontecendo?

Ainda no chão, Eva olhou para Wanda. WANDA, não mais sua governanta. A imagem que tinha daquela velhinha penteando seus cabelos, cantando músicas para ela dormir quando era mais nova, protegendo-a sempre do pai... Todas essas imagens se esvaíram. Aquela mulher parada sobre si não podia ser a mesma Wanda que conhecera a vida inteira, ou achava que conhecera...

LIBERTE-MEOnde histórias criam vida. Descubra agora