TRÊS: "O homem sobre o piano"

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Santo Deus! Ele me viu mesmo!

Mesmo assim, Evangeline se fez por desentendida.

- O que quer dizer? – Perguntou com a testa franzida.

Ela ainda estava com as mãos na nuca do rapaz, dando passinhos para lá e para cá ao som da música suave. Sua cabeça ligeiramente levantada para alcançar os olhos do Conde. Ela se sentiu ruborizar assim que ele fez a pergunta, e torceu para que a pouca luz dos castiçais e postes do local ajudasse a esconder suas bochechas rosadas.

Thomaz sorriu, e naquele instante Evangeline o desejou intensamente, e quis soca-lo por isso.

- Eu a vi me vigiando hoje mais cedo enquanto eu cuidava do jardim da minha casa.

- Olha, não é o que está pensando. Eu...

Ele riu de novo. Inferno! Por acaso estou com a maquiagem borrada ou coisa do tipo? Sentiu-se queimar por dentro de tanta vergonha.

- Não precisa se explicar, está tudo bem! Agora a senhorita pode me dizer seu nome?

Ela se sentiu mais leve, soltando o ar vagarosamente. Sentiu as bochechas se esfriarem e até curvou os lábios em um sorriso.

- Prazer, sou Lady Evangeline De La Cruz, filha do Barão Duncan De La Cruz e da Baronesa Charlotte De La Cruz, mas pode me chamar de Eva.

- Certo, Eva! – Ele ri de novo.

- Por que o senhor ri tanto? Por acaso pareço aqueles bobos da corte? – Evangeline se surpreendeu com o próprio tom de voz. Nunca, em hipótese alguma, uma dama deve elevar a voz para um homem, ainda mais um Conde como Thomaz Righter.

Thomaz ri novamente, desta vez ainda mais. Inferno, isso já está ficando irritante.

- Não, a senhorita não parece nenhum bobo da corte, é bela demais para isso. – Ela se encolheu com o elogio. – Mas é que você, Lady De La Cruz, é bastante engraçada.

- Deus, mas o que foi que eu fiz?

Ele para de dançar e cai na gargalhada. Evangeline revira os olhos. Será que ele está bêbado? Todo o desejo que sentia por ele estava se esvaindo.

A moça viu um mordomo passando ali com uma bandeja com várias taças de bebidas, e uma ideia surgiu em sua mente. Está na hora de encarnar a atriz que tem dentro de você, Srta. De La Cruz.

E começou a fingir tudo: fez cara de raiva e tirou as luvas com ferocidade. Ergueu o queixo e cruzou os braços.

- Eu não quero mais dançar com o senhor, Lorde Righter! – Ralhou.

Thomaz parou de rir imediatamente e encarou a dama à sua frente com tristeza.

- Por que não?

Evangeline ergueu as mãos para o alto, balançando-as.

- O senhor me fazer parecer um bobo da corte!

E porque quis, bateu com as luvas na única mão do mordomo que segurava as bandejas no mesmo instante que ele passava ao lado de Thomaz. Evangeline colocou as mãos sobre a boca em um gesto teatral, enquanto o mordomo lutava para equilibrar a bandeja. Então ela viu que ele conseguiria deixar as taças intactas, e num gesto reflexo colocou o pé em sua frente, e as taças caíram todas em cima de Conde Sussex, molhando todo o seu terno grã-fino.

- Inferno! – Ele ralhou tão alto que todos ao redor pararam de dançar, e a música também.

- Oh, mil perdões, milorde... – Começou o coitado do mordomo, tirando um pano de seu bolso.

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