SEIS: "Trancafiada"

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1º dia

Evangeline dormiu chorando e acordou chorando. Ainda estava com raiva e ao mesmo tempo furiosa de como o pai tratou sua mãe. A única coisa que a relaxou de verdade foi o demorado banho que tomou e depois vestiu roupas limpas novamente.

Estava faminta e, principalmente, com sede. Não comera nada no dia anterior e não trouxeram nada para comer quando acordou. Sua boca estava tão seca que parecia ter passado dias presa em algum deserto. Sempre que acordava, a primeira coisa que fazia era beber um grande copo com água até o limite. Mas o pai, como castigo por ter o enfrentado daquela forma, castigou a filha com algum tempo sem água e comida. Ficar trancada em um quarto sozinha por quanto tempo ele quisesse não bastava.

Beber água da bacia do lavatório não era muito higiênico, mas estava sem muitas opções agora. Colocou as mãos em concha sobre a água. Mas quando inclinou a cabeça para beber, ouviu o clique da porta sendo destrancada, e correu para ver quem era.

Charlotte entrou segurando uma bandeja repleta de comida: frutas, sanduíches, torradas, queijo... E o que quase a fez desmaiar de alegria: uma jarra com água. E assim que a mãe repousou a bandeja sobre sua cama, correu e esmagou-a em um abraço.

- Mamãe!

- Oh, querida, eu sinto muito por isso! – Disse Charlotte com tristeza quando se desvencilharam.

A mãe não estava bela como de costume. Estava acabada. Com olhos inchados e vermelhos, cabelos bagunçados... e o que fez o seu coração se apertar: no canto do lábio inferior, um pequeno arranhão causado pelo tapa que seu pai, Duncan, lhe dera.

Seu sangue ferveu. Pensou em passar pela mãe e ir em direção ao seu pai e enfrenta-lo novamente, mas respirou fundo e contou até dez, pois isso só pioraria ainda mais as coisas.

- Filha, sente-se. Quero conversar com você. – Ela foi até a porta e a fechou.

Evangeline se sentou na cama de pernas cruzadas, onde colocou a bandeja. Encheu o copo com água até o limite e bebeu um, dois, três copos e meio de uma vez. Sua boca, que não estava salivando por causa da secura, voltou ao normal. Depois começou a comer uma maçã.

- Querida. – Começou a mãe, sentando-se ao seu lado. – Seu pai está tão furioso com você.

Evangeline revira os olhos e dá de ombros.

- Não estou nem aí.

Charlotte solta um suspiro exasperado.

- Por favor, apenas ouça. – Uma pausa. – Ele não queria deixar-me vir até aqui vê-la. Ele estava a fim de deixa-la mais alguns dias sem comida e água, mas deixou depois de muita insistência da minha parte. Depois que eu sair por aquela porta, só vou poder vê-la quando Duncan resolver soltar você, filha, deste castigo.

Evangeline grunhe como um cão raivoso.

- Papai é o próprio demônio incarnado. – Solta baixinho, mas as palavras são frias e com puro ódio. – Queria que ele morresse.

A última frase foi falada sem pensar. Mas quando olhou para a mãe, viu que sua expressão não tinha mudado.

Charlotte disse alguma coisa. Mas foi tão baixo que Eva não ouviu.

- Quê?

A mãe levantou a cabeça e respirou fundo.

- Não está muito longe de acontecer, querida.

- O que não está longe de acontecer, mamãe?

- O seu pai. Ele está doente, e o médico disse que ele não passa de três meses.

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