Carta 11

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Mogi Guaçu, 20 de setembro de 2018

Querido G,

Eu tenho tantos pensamentos contrários sobre sentir. Você sabe que sou totalmente contra guarda sentimentos e todas as coisas bonitas que estão no coração que podem tomar o mundo. Além das coisas bonitas, é muito bonito também afogar em todos os desejos.

É, acredito que estou fugindo de falar sobre sentir porque sou daquelas que vê amor nas pessoas e sentimentos bons em cada ponta, não no sentido de amar logo de cara, mas quando sinto a felicidade eu já associo ao amor, porque isso me faz bem, então vejo amor por todo lado.

Muito confuso e difícil de descrever. Deve ser por isso o fato de eu ignora, ficar trancada numa cela, aflita e me preparando caso o universo possa desmoronar qualquer momento.

Nós sentimos demais.

Te disse que não espero nada, foi pelo fato de expectativas e de que nunca pude esperar nada de ninguém [e não espero].

Mas ainda acredito que é tão recíproco.

Já me disseram que eu sou a pessoa que rema e não a que foge. Mas eu fujo sim! E eu estou esperando, mas não espero nada. Não quero apressar e espero que você tenha paciência com tudo isso.

Já sinto uma ternura por você, e acho engraçado porque eu quis naufragar tuas incertezas como quem crê em dias serenos e vou naufragando nas ondas da melodia da sua voz que me puxam pro fundo e querendo te dizer de uma forma esperançosa que é possível eternizar coisas bonitas.

Você percorrendo seus dedos no meu rosto e atrás da minha orelha e nossos olhos gravando a cena com o silêncio no fundo. Todos nossos sussurros se misturando. Eu colocando minha boca entre seu pescoço e na clavícula e digo baixinho o quão bonito é se sentir presa por segundos que sejam. Toco sua pele como se fosse um dente-de-leão. Muito peso te levaria pra longe.

Eu senti a sensação memorizar tudo e mais alguns segundos me permitir sentir como se não houvesse nada além dessas paredes e pernas entrelaçadas.

Há muitas coisas que eu gostaria de te dizer.

Ah, mas como espero que você compreenda e torço para você entender nenhuma palavra dita, elas irão escapar pelos dedos, toques, gestos e até pela minha respiração.

Mas pode derrama sua confiança em mim e retribuo entendimentos. Eu entendo seus vazios, eu possuo muitos. Eu entendo suas razões, ainda que eu tenha perdido várias vezes as minhas.

Você tem uma alma colorida, G. Tão colorida que você pintou as suas dores e plantou flores para sarar suas feridas.

Eu sei que você precisa de certezas e eu sou um mar escuro e agitado. Aqui não é claro ou tem certeza.

Desculpa.

Com amor, Lu.

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