Capítulo 3 - Esperança

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A respiração afobada era liberada a cada passo apressado do pequeno corpo. Sua visão procurava por algo que viesse a lhe parecer ofensivo. Em cada árvore ou grama pisada, Sanny aguçava seus sentidos para detectar o rastro do cheiro dos possíveis culpados pelo atentado contra sua alcateia. Tentava a todo custo manter-se calmo e rumar no sentido contrário do cheiro... porém, o choro diminuto dos bebês no cesto lhe despertava emoções inexplicáveis, confundindo-o na escolha do próximo passo a ser tomado.

Andava com dificuldades e seus pés já apresentavam ranhuras feitas pelo terreno irregular da mata mais densa, provocando oscilações no cesto onde os pequenos gêmeos repousavam em agitação.

— A-Acalmem-se pequenos... vamos ficar bem. — Sanny cantarolava em uma tentativa de acalmá-los para que não chamassem a atenção com seu choro. Deveriam estar a quilômetros do local do atentado, mas em uma terra desconhecida não sobreviveriam se fossem encontrados pelas pessoas erradas.

Após alguns segundos parado para verificá-los com mais calma, Sanny permitiu-se cair ao lado do cesto, pegando no colo um bebê de cada vez.

Anat estava frio, alarmando assim os sentidos de Sanny. Bebês não ficavam gelados com facilidade.

— Pequenino... está com fome? Sente dor? — Tentava tirar alguma reação dele que devido à idade era impossibilitado de pronunciar algo.

Seu coração, já tomado pela angústia, não conseguia acalmar-se e ajudá-lo a pensar com mais clareza. Com dificuldades, pôs-se em pé e recolheu de uma folha curvada, pequenas gotículas de água, derramando-as nos pequenos lábios de Anat.

Para seu alívio, o bebê aceitou o líquido, logo em seguida demonstrou mais brilho nas pequenas avelãs que permaneciam vidradas em Sanny. Voltou ao cesto e o colocou lá, para em seguida pegar Yuri em seus braços.

Assim como o irmão, o pequeno mantinha uma temperatura corporal abaixo do normal. Sanny fez-lhe o mesmo e deu-lhe atenção até que as últimas gotas repousassem nos lábios róseos. Após colocá-lo no cesto, Sanny permitiu-se bebericar o líquido de mais uma folha.

O vento rugia mais forte a cada minuto, fazendo Sanny desesperar-se a procura de um local onde os bebês ficassem protegidos da chuva que não tardaria a chegar. Andou por entre árvores de copas compridas e galhos baixos, vez ou outra lhe arranhando a pele leitosa. Seu corpo sentia o cansaço que há horas tentava esquecer, mas continuava firme, mesmo com seus pés sangrando... precisava abrigar os bebês rapidamente, num raio de poucos metros.

Caminhou por mais 3 minutos e, não muito longe do local onde se encontrava, avistou uma pequena rachadura na junção de duas rochas enormes. Suspirando aliviado, forçou seus pés trêmulos a se apressarem até o local. Poucos metros antes, as gotas pesadas de uma recente chuva já molhavam seus fios loiros. Finalmente esgueirou-se juntamente com os bebês para dentro da rachadura mediana. Com esforço conseguiu passar o cesto pela parte mais fechada e finalmente pode vislumbrar uma ampla caverna, entretanto, para sua surpresa, um pequeno lobo de pelagem acinzentada mantinha-se em posição de ataque. Assustado, Sanny afastou-se, trazendo em frente ao peito o cesto com ambos os bebês. Não acreditava que fora tão ingênuo a ponto de não levar em consideração a hipótese de haver mais alguém abrigado no local. Com dificuldade, afastou-se do possível agressor, mesmo esse aparentando ser menor que si, e manteve seus olhos atentos a qualquer movimentação ameaçadora.

O pequeno lobo cinzento demonstrou alegria ao encontrar o ser loiro em sua frente. Rapidamente, pulou em sua direção, provocando em Sanny seu alto instinto de proteção.

— Afaste-se! — Gritou temendo pela vida dos pequenos seres em seus braços. Daria a vida para protegê-los. Foi uma promessa muda entre Alfa e Ômega. Foi uma promessa de proteção eterna.

A Origem de Sanny [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora