Capítulo 26 - Desaparecido

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Gans não estava acostumado a ter mais alguém em sua casa. Muito menos que esse alguém fosse Crisma.

Ter um jovem lupino repartindo o mesmo teto que ele era definitivamente estranho.

Depois da batalha, Montanha, como era chamado pela maioria dos aldeões por seu tamanho grandioso, tinha um braço quebrado, e nada menos do que o braço direito. E ele não tinha inclinações para ser canhoto, de forma alguma.

Embora isso não fosse grande coisa para um homem como ele, que já enfrentou batalhas e passou por momentos bem piores onde perdeu amigos, parentes próximos e se feriu gravemente, ter o seu braço completamente imobilizado o fez se sentir inútil quase o tempo inteiro.

Havia se passado apenas um dia desde o ocorrido e ele estava sentado em sua cama olhando fixamente para o teto, bastante entediado.

O som fraco de um cântico o acordou de seus devaneios autodepreciativos e ele resolveu verificar, já sabendo que se tratava de Crisma.

O jovem lupino de cabelos até os ombros, dourados e levemente ondulados, cortava alguns legumes. A mesa estava uma completa bagunça e os armários abertos. Uma panela fervia no fogão à lenha e o cheiro era agradável, provavelmente cozinhando carne.

Gans apenas se permitiu ficar parado durante algum tempo na porta, vendo o lupino trabalhar. Ele gostava de Crisma mais do que o normal. Para ser franco, gostava tanto que era quase insuportável segurar no peito. Mas desde sempre, Crisma mostrava não ter qualquer interesse em um homem como ele.

Não que ele fosse bonito e muito atrativo para os lupinos. Ele era demasiado grande, muito forte, poderia esmagá-los com um abraço. Nunca foi chamado de aberração, pela boa educação dos aldeões, mas se sentia como uma.

— O que está fazendo aí? — Crisma perguntou diretamente para ele, seus olhos contendo mais do que curiosidade.

— Hã? Eu estava... vendo o que estava aprontando aí. — Disse ao entrar na cozinha, um pouco desconcertado. — Cheira bem.

— Você estava olhando para mim. — Crisma tinha aquele olhar fixo e quase medonho. — Por quê?

— Foi o que eu disse. — Montanha sentiu suas bochechas aquecerem. — Só estava checando o que você fazia, nada demais.

— Hum. Sei. — O lupino não parecia convencido, mas voltou a picar os vegetais.

Gans não gostava muito de vegetais, sua dieta consistia em muita carne, e às vezes comia frutas ou alguma cenoura, mas não diria isso a Crisma para desanimá-lo. Ele sempre podia experimentar, ainda mais se fosse o que o lupino cozinhasse.

— Está com fome?

Montanha assentiu.

— Não tive o café da manhã.

Novamente aquele olhar de cachorrinho curioso foi direcionado a ele.

— Por que não?

— Meu braço. — Apontou para o membro imobilizado.

Os olhos do lupino de tornaram culpados.

— Me perdoe, eu deveria tê-lo ajudado... é que me chamaram pela manhã para ajudar com o vilarejo e...

— Não se preocupe com isso. — Montanha apertou o ombro de Crisma com sua mão boa. — Nada disso é culpa sua.

Crisma assentiu e olhou para a mão em seu ombro, suas bochechas se tornaram um pouco rosadas. Percebendo, Montanha retirou a mão e se afastou para olhar o que tinha na panela fervendo.

A Origem de Sanny [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora