Prefácio

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Dulce estava tentando ao máximo se manter forte mas a sua carne vacilava e fraquejava, há algumas horas atrás ela finalizava os últimos detalhes da decoração de natal e olhando tudo no final sorria ansiosa para que sua irmã chegasse logo, ela chegaria em algumas horas para participar da ceia de ação de graças e Dulce contava os minutos para enfim matar a saudade de Marina, Marcelo e sua pequena Luma quando recebeu a notícia do acidente que eles haviam sofrido a caminho de sua casa.

Ela afundou o pé no acelerador, sua visão era turva devido as lagrimas presas ali e piscando uma vez permitiu que elas rolassem por seu rosto, mordendo o lábio inferior segurou as outras que viriam, ela não poderia chorar e se entregar a desesperança sem antes ver com os próprios olhos toda a situação, além das palavras de urgência que ouvira de um policial do outro lado da linha telefônica, ela tinha que manter a esperança viva assim como queria encontrar sua família são e salvos e tudo não passar apenas de um grande susto.

Correndo pela estrada mais alguns minutos que mais pareciam horas, ela conseguiu enxergar à frente as sirenes ligadas, o local estava interditado e uma enorme fila de automóveis se materializava no sentido contrário ao seu, havia muita gente, alguns curiosos possivelmente dos automóveis barrados, policiais cuidavam ao redor evitando que a barreira de proteção fosse quebrada, uma ambulância de prontidão aguardava a finalização do resgate para dar partida enquanto uma equipe de bombeiros lutava para cortar as ferragens do carro que agora sequer se parecia com um, Dulce parou o carro de qualquer jeito ao tomar consciência da imagem a sua frente e cambaleando pela fraqueza da carne saiu do carro caminhando em direção ao aglomerado de pessoas, ela já não controlava mais as lagrimas que molhavam seu rosto e embaçavam sua visão.

Sem saber exatamente o que fazer, ela queria estar perto, queria olhar para a irmã queria entender que aquilo realmente estava acontecendo com ela mais uma vez, Dulce de forma brusca enfiou os braços entre as pessoas exigindo espaço para que fosse adiante, ela notou a grossa fita amarelada interditando o local mas a ignorou por completo passando por baixo da mesma, um passo adiante e sentiu um par de braços a prender no mesmo lugar, ela lutou e tentou se livrar daqueles braços mas a sua tão exigida força estava por um fio de acabar e desistindo de lutar apenas mirou o carro amassado virado de cabeça para baixo ela fixou os olhos naquela direção, Marcelo estava desacordado com o rosto coberto por sangue tombado para um lado, a negra cabeleira da irmã derramada sobre o estofado sujo de sangue chamou sua atenção e no mesmo instante notou quando Marina quase sem forças virou a cabeça em sua direção como se pudesse ouvir seu choro desesperador, Dulce firmou os pés no chão para que não a tirassem dali agora, seus olhos estavam fixos aos da irmã, ela sabia que Marina queria lhe dizer algo, ela precisava saber o que era.

No mesmo instante o choro agudo tomou conta do local, por um momento aquilo prendeu a atenção de Dulce, ela olhou em direção ao bombeiro que corria em direção a ambulância com o pequeno pacote embrulhado nos braços.

-Luma – sua voz saiu em um sussurro e quando tornou sua atenção para a irmã, seus olhares se encontraram mais uma vez e Dulce conseguiu entender o que sua irmã queria lhe dizer, ela como resposta assentiu com a cabeça e marina lentamente fechou os olhos.

Dulce gritou e se debateu mais uma vez, tentou se livrar dos braços que a rodeavam mas sem sucesso acabou sendo carregada para fora do local interditado, seu peito ardia em uma dor aguda e desesperadora que ela conhecia e já havia sentido mas que jamais a desejou e ela se culpava pela impotência, por não conseguir fazer nada para mudar aquilo. 

Direito de Amar   (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora