Capitulo um

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Dulce guardou na caixa de papelão os últimos enfeites de natal que restavam espalhados por sua casa prometendo a si mesma que jamais as usariam novamente, deveriam ser motivo de alegria, mas para ela aqueles enfeites vermelho e dourado lhe traziam a dolorosa lembrança daquela noite, quando ela perdeu a sua única família para um destino desgraçado.

Naquela mesma noite mesmo ainda em choque ela exigiu que o policial que esteve sempre ao seu lado lhe contasse o motivo do acidente, o problema foi o freio que falhou quando Marcelo mais precisou dele, o carro desgovernado falhou na curva e Marcelo possivelmente para não cair barranco abaixo mirou a direção do carro conta a parede de rocha no sentido contrário, o estrago foi instantâneo e seu cunhado acabou não resistindo, Segundo os paramédicos que prestavam serviço ali, Marina resistiu por muito tempo considerando seus ferimentos graves, ela aguentou firme até enfim poder olhar nos olhos de Dulce e em uma súplica silenciosa pedir que Dulce cuidasse de sua filha.

Dulce alcançou a fita adesiva e selou a caixa, balançou a cabeça tentando se livrar por um momento desses pensamentos ela levou a caixa até o lado de fora e sem pensar duas vezes a jogou no lixo, respirando fundo sentiu o quão libertador fora aquilo, bateu as mãos uma na outra e virou-se para a sua casa e apoiando as mãos na cintura observou todos os detalhes daquela mansão que antes era cheia de vida e decidiu que precisava se livrar de mais algumas coisas a partir de agora incluindo a enorme casa.

Um ano antes do fatídico momento, Dulce e Marina discutiam no centro da enorme sala de estar se ficariam ou não com a casa após a morte dos pais, naquele momento aquele lugar não fazia nada bem a Dulce, tudo ali a fazia lembrar dos pais que partiram da forma mais dolorosa possível.

Sua mãe Blanca foi diagnosticada com Leucemia e imediatamente todos os recursos possíveis para curá-la foi feito, Dulce que nunca foi apegada a dinheiro nesse momento foi grata a gorda conta bancária no nome do pai mas nem o mais caro tratamento foi suficiente para manter sua mãe viva e alguns meses após sua morte Fernando desabou em uma depressão tão profunda quanto silenciosa e só perceberam a gravidade de sua dor quando o encontraram ás margens de um rio sem vida, foi mais um baque para a família Savinón que agora se resumia em Dulce, Marina e Marcelo que mesmo sabendo que Mari carregava no ventre um filho que não era seu e no qual ela alegava não se lembrar do pai da criança, ainda assim a aceitou e passou a amá-la tanto quando sua filha.

Dulce acabou entrando em um acordo com a irmã naquele ano, após as duas tragédias mais impactantes da sua vida. Além das lembranças que a assombravam, ela ficaria com a casa para que toda vez que a irmã viesse para o México pudesse desfrutar das boas lembranças que aquele lugar a trazia, mas havia uma condição nisso. Mariana teria que assumir a parte de seu pai na empresa que ele antes era acionista, Fernando havia deixado livre a opção de escolha em seu testamento contanto que uma das duas assumissem sua parte e após a condição de Dulce, Mari não viu outra opção e não fora de tão mal assim ja que ela sempre teve um pé na área empresarial, ela conseguiu tirar tudo de letra.

Dulce suspirou olhando uma última vez para a enorme mansão enquanto todas essas lembranças corriam em sua mente, definitivamente esse lugar era grande demais para ela e sua pequena Luma.

O ruído vindo do pequeno aparelho da babá eletrônica em seu bolso a chamou atenção e imediatamente ela correu para dentro da casa, subiu depressa os degraus da enorme escada até o segundo piso e abriu a porta do quarto ao lado do seu, o lugar em tom pastel e rosa bebe abrigava a chorona e esfomeada Luma. Dulce aproximou-se do berço e esticando os braços alcançou o corpo molengo da sobrinha de apenas três meses e o levou até seu colo, a pequena pausou por um momento o choro e se concentrou em farejar com o pequeno nariz arrebitado em busca de leite fazendo Dulce soltar uma risada baixa.

-Isso tudo é fome? - Luma resmungou ao ouvir sua voz e ameaçou com caretas iniciar um novo escândalo, Dulce arregalou os olhos e alcançou sobre uma bancada a mamadeira que ela deixou preparada alguns minutos antes, estava morno e na temperatura perfeita para que Luma não se queimasse.

-Tudo bem, seu pedido é uma ordem – Dulce ajeitou a impaciente Luma em seu colo e antes dela soltar mais um resmungo direcionou o bico da mamadeira em sua pequena e rosada boca e ela imediatamente abocanhou e sugou com ganas o liquido quentinho.

Dulce sentou-se na poltrona que havia em um canto e passou observava a sobrinha mamar enquanto soltava pequenos resmungos de prazer, ela sorriu sentindo que estava fazendo um bom trabalho. Dulce não sabia muito de bebês mas acabou se envolvendo com coisas relacionado a esse assunto quando descobriu a gravidez da irmã, junto com a Mari ela leu diversos livros sobre bebes e a criação de uma criança, assistiu vários vídeos tutoriais para mãe de primeira viagem sobre os banhos, limpeza de partes delicadas e coisas relacionada e comprou com a irmã itens que jamais imaginou que fossem necessário. Ela não queria de forma alguma que Marina se sentisse sozinha em sua gravidez, a forma como Luma foi gerada não deixava Mari muito orgulhosa e Dulce não queria que ela se sentisse culpada por isso.

-Acidentes acontecem, Mari –Disse Dulce dando com ombros no dia em que a irmã descobriu a gravidez, enquanto ela chorava desconsolada sobre as pernas de Dulce que por sua vez além de apavorada com tudo tentou se manter a mais neutra possível.

-Não foi acidente Dul, eu não estava andando e do nada escorreguei e cai de pernas abertas no meio daquele homem. -Mari respirou fundo chorando mais um pouco enquanto Dulce ao imaginar a situação sentiu vontade de rir, mas se conteve. - Eu sequer sei o nome dele, é um nome diferente ou eu estava muito bêbada, me lembro apenas de chamá-lo de Chris.

-Foi burrice minha irmã, você disse que a noite foi boa e nem sequer pegou o telefone dele.

-Era Cancún e eu estava lá para me divertir e não para engravidar, se eu soubesse que seria assim eu teria salvo um contato com ele.

-humm – Dulce pensou por um momento antes de soltar seus pensamentos - Então se soubesse que seria assim não teria impedido, apenas pego contato? Caraca a foda foi boa então.

-Dulce! - exclamou Mari irritada - Está brincando com isso? É sério, estou sofrendo. Papai e Mamãe vão me matar.

-não vão não. São loucos para ter netinhos – Dulce riu e recebeu um soco na coxa, ela jogou o corpo sobre o da irmã em um abraço desajeitado enquanto Mari tornou a chorar – Eu estou contigo, não precisa chorar. Vai dar tudo certo.

Foi uma das promessas mais verdadeiras que Dulce já fizera, e ela sempre esteve ao lado de sua irmã, e até foi divertido acompanhar a gravidez dessa forma tão intensa, ser alívio para os momentos de insegurança da irmã e estar sempre presente, Dulce alimentou um amor forte e poderoso por Luma no qual nada poderia ser comparado.

Luma finalizou a mamadeira em tempo recorde, Dulce colocou o recipiente vazio sobre a mesinha ao lado e erguendo a pequena em seu colo iniciou leves tapinhas em suas costas, não levou muito tempo para que ela soltasse um arroto quase inaudível.

-É uma lady, mal arrota –ela brincou segurando Luma na altura de seus olhos – Com certeza puxou sua mãe, se estivesse herdado a delicadeza da sua titia aqui, você soltaria um belo de um arroto.- Dulce arrependeu-se de suas palavras no momento em que Luma soltou uma bela quantidade do leite pela boca direto em sua blusa até então limpa.

-Retiro o que eu disse, vomitar é bem menos delicado que arrotar, você definitivamente não herdou isso da sua mãe, Luminha. Mas eu nunca vomitei em ninguém viu mocinha. - Ela Limpou com a frauda em seu ombro a sujeira que luma fizera enquanto viajava em seus pensamentos

– bom, talvez uma ou duas vezes enquanto estava bêbada eu devo ter vomitado em alguém. De qualquer forma, não irei te julgar por isso pequena.

Dulce depositou um beijo sobre o canto direito no topo da cabeça de Luma, onde uma pequena cicatriz a marcava do terrível dia em que ela perdeu seus pais, foi o único ferimento que ela sofreu um corte que precisou apenas de dois pontos para fechar e agora restara apenas a cicatriz e Dulce agradecia sempre a Deus por isso e sabia do enorme milagre que ela era, além de sua enorme perca ela tinha Luma que era como um pequeno pedaço de cada um dos que se foram. 

Direito de Amar   (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora