Direito de Amar (Vondy)

Capítulo Dezoito

É incrível e absurdamente pavoroso o efeito que as palavras têm, principalmente quando elas não são bem ditas. A feridas com as mais remendosas cicatrizes podem ser abertas e expostas em questão de segundos, assim como novas feridas podem nascer instantaneamente.

Dulce ainda sentia a dor de uma ferida que foi aberta, mesmo após uma semana desde o último dia em que viu Christopher e que ouviu dele as palavras aparentemente inofensivas, ela ainda tentava fazer um novo remendo para servir de curativo mas a única força que ainda lhe restara era gasta com Luma para atender as necessidades da menina e para que o vazio que agora Dulce sentia não fosse transmitido para sua pequena, ela não tinha culpa de nada e mesmo que Dulce evitasse transparecer sua dor, a menina parecia sentir que algo não estava bem e de todas as formas tentava colaborar com Dulce, acatando todas as suas ordens e vez ou outra tentando arrancar sorrisos dela com suas gracinhas, e também demonstrando com carinhos que ela compreendia o que Dulce sentia.

Após preparar uma porção de pipoca, Dulce sentou-se com Luma no sofá e ligou a tv no desenho animado preferido da menina que aninhou-se contra o corpo de Dulce enquanto abocanhava uma porção de pipoca com os olhos vidrados na tv, Dulce ouviu a campainha tocar e olhando na direção da porta aguardou por um instante, a campainha não voltou a tocar e ela voltou sua atenção para TV até que ouviu a porta sendo aberta e imediatamente ela voltou a olhar na direção.

-O que está acontecendo Dulce maria? - Any encarava Dulce com certa preocupação e raiva, Luma quando viu a tia pulou do sofá correndo em direção a ela que a pegou no colo em um abraço apertado.

-Me diz Luminha, o que aconteceu com a mamãe?

-Ela tá dodói - respondeu Luma com um bico tristonho, sua resposta chamou atenção de Dulce.

-É mesmo? - Any encarou Dulce por um momento e então voltou a olhar para a menina - dodói do que?

-Do coração - a menina levando as duas mãos ao peito massageou o local, Dulce ficou boquiaberta e se perguntou de onde a menina tinha tirado aquelas palavras e em qual momento ela percebeu isso.

-Huumm, mas ela vai sarar rapidinho sabe porquê? - Luma negou aguardando a resposta – porque nós temos o remédio! - Disse Any com empolgação, Luma a encarou curiosa.

-Sabe qual é? - Luma negou e Any cochichou no ouvido da menina que se virou para Dulce com olhar sapeca

– Cosquinhas! - Any bravejou como um grito de guerra e correndo até Dulce jogou a menina sobre seu colo e junto com ela iniciou a sessão de cócegas em Dulce que sem conseguir se livrar contorcia-se rindo sem parar

Após a sessão gratuita de cócegas, enquanto Luma estava concentrada no desenho, Any aproveitou para tentar tirar da amiga o motivo de seu sumiço já que Dulce não atendia mais seus telefonemas e nem mensagens.

-Não é nada, é sério. - Dulce tentou evitar o assunto, mas Any bufou a encarando contrariada.

-Dulce eu não te conheci ontem, sei quando você está bem e quando não está. - Dulce ficou em silencio e virou-se para Luma evitando contato visual com Any – Isso tem a ver com o pai da Luma não tem?

Dulce olhou para a amiga e soltou o ar vencida.

-É, é sobre ele. - Dulce suspirou prendendo o choro

-Para com isso garota! - Any exclamou dando um tapa no braço de Dulce que a olhou indignada – Você acha mesmo que esse idiota vai conseguir tirar – Dulce imediatamente levou uma mão á boca de Anahi impedindo que ela terminasse a frase.

-não diga, ela parece que está distraída, mas ouve tudo pode acreditar. - Dulce tirou a mão da boca de Any e as duas olharam para Luma que continuava com os olhos vidrados na tv.

Dulce endireitou o corpo virando-se para Anahi com as pernas dobradas contra o corpo, ela contou tudo o que lhe afligia e sabia que poderia confiar na amiga, Any ficou boquiaberta com tudo o que Dulce a contou e sentiu raiva de Christopher mesmo sem o conhecer por ele ter tocado em um assunto que jamais deveria ser tocado. Dulce agora em meio a um choro silencioso e sentido, despejava sobre Any todo o medo e insegurança que a perseguiram durante a semana que se passou.

Sentindo aperto no peito por tudo o que a amiga lhe disse, Any puxou Dulce para um abraço apertado assim que ela terminou de dizer tudo e Dulce permitiu-se chorar com mais intensidade em seu ombro, Luma já não tinha mais os olhos focados na TV mas observava tudo em silencio e com certa curiosidade.

-Você não está sozinha e nunca esteve. - Any apertou mais o abraço - Eu vou lutar contigo nessa e nós vamos vencer, eu te amo muito minha amiga.

-obrigada Any, eu te amo muito também– Dulce apartou-se do abraço limpando o rosto molhado, notou que Luma as encarava curiosa e sorrindo esticou os braços na direção da menina que imediatamente correu para seu colo e se aconchegou ali.

-Está tudo bem viu? -Luma assentiu em silencio parecendo ainda confusa.

As três voltaram a atenção para a porta no momento em que a campainha soou pelo local, Dulce fez careta olhando confusa para Any que fez o mesmo.

-Chamou o Christian? - Perguntou Dulce.

-Não, Christian tinha uma viagem pra fazer hoje e não é possível que já tenha chegado. - Disse Any olhando a hora em seu relógio. - eu vou ver quem é tudo bem?

-Sim – disse Dulce.

Any se levantou caminhando rumo a porta e Dulce abaixou a cabeça para depositar na bochecha de luma um beijo, ela fez cócegas na menina lhe arrancando uma risada gostosa e acabou rindo do jeito contagiante da menina.

"Quem é você? "- Dulce ouviu Anahí dizer e no mesmo instante ela levantou o olhar encarando a porta aberta sem ter visão nenhuma do que acontecia atrás, mas sentiu o estomago gelar por imaginar quem poderia ser.

"Christopher" - Levou poucos segundos após isso, para Dulce ouvir o som de um soco ser disparado e então Anahí aparecer segurando sua mão direita enquanto dava pulos e gritava histérica de dor.

-Socorro Dulce, eu acho que quebrei minha mão! - Berrou Anahi quando viu a amiga sentada confusa olhando toda a cena.

Dulce ficou boquiaberta e custou acreditar que Any havia acertado Christopher com um soco, ela sabia que a amiga tinha um nível mais avançado de loucura, mas jamais imaginou essa reação vindo da tão delicada Anahí.

-Eu acho que matei ele também. - disse a loira olhando para o lado de fora da porta aberta, Dulce olhou para a mesma direção e quando não viu nenhuma movimentação ali se levantou deixando Luma sentada no sofá que confusa observava tudo.

Dulce caminhou até a amiga que se contorcia de dor segurando a mão, mas não pode deixar de olhar para o lado de fora, Christopher estava caído no chão e Dulce arregalando os olhos boquiaberta encarou a amiga.

-Você matou ele!