Direito de Amar (Vondy)

Capítulo Vinte

Dulce cruzou os braços em pé diante de Christopher, ele tirou o saco de gelo do olho por um momento e Dulce fez careta notando que estava mais inchado, provavelmente por não suportar a dor ele voltou a pôr o saco de gelo novamente sobre o olho e ela o encarando arqueou a sobrancelha aguardando que ele começasse a falar.

-Quero te pedir perdão pelo que fiz na última vez em que estive aqui.

-Tudo bem, está perdoado. - Disse ela rápido demais – Agora pode ir embora.

Dulce passou por ele na intenção de voltar para a cozinha, mas parou quando Christopher segurou seu braço, ela virou o rosto olhando sua mão ali e franzindo a sobrancelha o encarou.

-Eu entendo que esteja magoada comigo, eu fui um completo idiota e não deveria ter falado aquilo pra você. Eu andei pesquisando sobre você e descobri o que aconteceu com seus pais, e depois sua irmã - Christopher parou de falar por um momento quando notou que além do maxilar trincado e o semblante nervoso, os olhos de Dulce enchiam-se de lágrimas e sua voz ao falar saiu embargada.

-Andou pesquisando? Encontrou minha biografia no wikipédia? Então quer dizer que eu encontro toda a minha história em um site? - Ela tentou soar irônica e engolir o choro, mas seus olhos lhe traíram derramando lágrimas quentes.

Christopher negou com a cabeça como se pedisse que ela não chorasse, não conseguiu dizer nada pois a culpa lhe calava e então com a mão que ainda segurava seu braço ele a puxou para si e a envolveu em um abraço, Dulce não entendeu aquela ação e manteve os braços ao lado do próprio corpo os proibindo de abraçá-lo, tentou segurar o choro por não querer deixar tão exposto suas fraquezas.

Christopher franziu o cenho com a atitude de Dulce e deslizou em conjunto as duas mãos pelo seu braço, o toque suave a provocou arrepios e confusa levantou os olhos para encará-lo e não soube definir exatamente o que seu olhar queria dizer mas havia ternura e compreensão ali, Christopher a segurou pelo pulso e gentilmente deslizou os braços de Dulce envolta de sua cintura fazendo suas mãos se encontrarem em suas costas e seu corpo se unir ao dele que no mesmo instante intensificou aquela aproximação a abraçando novamente a acalentando com uma suave carícia em suas costas, o silencio pairou no ambiente por um momento e a guerra interna de Dulce foi quebrada ao sentir e ternura que Christopher lhe passava, um beijo no topo de sua cabeça a fez apertar mais os braços envolta dele e afundando o rosto em seu peito permitiu que o choro engasgado fosse enfim liberado.

A sala foi preenchida pelo choro sentido de Dulce, ela queria poder se soltar dos braços dele mas o calor que lhe transmitiam era algo necessário para ela no momento, como metal de encontro com imã ela simplesmente não conseguiu mover um dedo sequer contra ele, ambos não tomaram consciência de que estavam sendo observados por Anahí que ao ouvir o choro da amiga correu até o local preparando-se para machucar mais uma mão caso Christopher estivesse a feito chorar novamente, mas parou na entrada da sala diante da cena que agora presenciava. Christopher beijou o topo da cabeça de Dulce e só então notou Anahí ali, ele em silencio moveu a boca dizendo um "está tudo bem" e ela assentiu voltando para a cozinha.

Dulce não soube dizer quanto tempo ficou ali, mas agora todo o choro engasgado havia sido liberado no meio do abraço de quem ela jamais imaginou estar, fungando e limpando as lagrimas que molhavam seu rosto ela se afastou dele, deu alguns passos pela sala e agora mantendo uma certa distância o encarou.

-Porque fez isso?

-Isso o que?

-Você sabe. Isso – ela fez gesto com as mãos se referindo ao que havia acabado de aconteceu.

-Não sei exatamente – ele olhou para cima fazendo um bico enquanto processava sua pergunta – Acho que um pedido de desculpa e foi difícil te ver chorar e saber que a culpa foi minha.

-Bom, já disse que está perdoado. Não foi nada de mais. - Dulce estendeu uma mão no sentindo da porta e logo voltou a cruzá-la contra o corpo – se quiser pode ir agora, e... obrigada.

-Não quer conversar sobre o assunto, talvez seja bom pra você.

-Não. Fique tranquilo eu estou bem, mas acho que você precisa de um oftalmologista. - ela apontou para o olhou machucado o fazendo tomar consciência do mesmo - está doendo?

-Não estava até você me lembrar dele – ele riu sem som e alcançou o saco de gelo levando até o olho. - sua amiga tem muita força pro tamanho dela.

-Estou tão chocada quanto você – ela riu baixo e por um instante o silencio voltou a preencher o local.

Dulce sustentou os olhos sobre Christopher enquanto ele com os olhos baixos fazia careta pelo contato do gelo contra a pele, ela acabou rindo fazendo com que ele a encarasse.

-Está achando graça né?

-Desculpa, mas isso é muito cômico.

-É trágico - ele a corrigiu tirando por um momento o saco de gelo do rosto e apontando para o local – Meu olho parece a bunda de um babuíno.

Dulce jogou o corpo para frente gargalhando com a comparação, Christopher a acompanhou na risada cobrindo o olho com o gelo, ela caminhou em sua direção diminuindo o espaço entre os dois.

-Deixe-me ver – ele tirou o saco de gelo mais uma vez e Dulce segurou seu resto com as duas mãos abaixando um pouco para que pudesse olhar melhor – Amanhã vai estar bem roxo, seria bom você ir em um especialista.

Dulce aguardou que ele falasse algo, mas Christopher permaneceu em silencio e ela notou a forma como ele a mirava e foi estranho o sentimento que aquilo a provocou, algo que ela não se lembrava mais de que existia, uma ansiedade que embrulhava seu estomago e provocava frio em sua espinha, ela sentiu que ele poderia beijá-la a qualquer momento quando Christopher levou as duas mãos em sua cintura, por mais inacreditável que aquilo lhe pareceu ela não queria se mover, queria permanecer ali para saber até onde ele iria mas uma voz dentro de si a alertava de que ela precisava se afastar afinal Christopher não era alguém bom para si, estava apenas sendo gentil e fazendo papel de bom moço, a verdade sobre ele era que queria lhe destruir, queria tirar o que ela mais amava de seus braços e foi o sentimento de repulsa e raiva que a fez agir e se afastar dele.

-É melhor você ir agora.