JOTA

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Capítulo dedicado a Ananobrega21 !!

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Estou a caminho do estádio da Luz. Incrível, grandioso e lindo estádio da Luz. Sem querer desvalorizar os outros, obviamente.
Vou comprar bilhetes para o Benfica - Moreirense. Bilhetes, no plural, porque a minha melhor amiga é tão benfiquista quanto eu. Quer dizer, eu sou mais. 18 anos de vida, 18 anos benfiquista.
Gosto muito de todos os jogadores de todos os escalões e toda a gente que faz parte do clube, exceto de uma pessoa. João Filipe ou Jota ou Jota Filipe ou sei lá.
Não vou com a cara dele. Também não sei porquê, só não vou. Odeio-o? Talvez, talvez. Irrita-me. O moço irrita-me.
Depois de esperar uns minutos na fila, já tenho os bilhetes na mão. Guardo os mesmos num local seguro onde não se pudessem estragar, neste caso esse lugar era a minha carteira.
Começo a sair do edifício e vejo um amontoado de pessoas, especialmente raparigas, à volta de alguém.

- Mas tu queres ver... um jogador do meu Benfica!! - penso alto e com um certo entusiasmo.
- Opah... deixa lá ver!! - quem me vir vai chamar-me maluca. Tenho a certeza. A falar sozinha, no meio da rua e por causa de um possível jogador do Benfica. Que bela impressão!! Sim, senhora.

Aproximo-me daquela pequena multidão para tentar perceber quem está no centro dela. Quando finalmente vejo quem é não consigo acreditar.

- Ah! A sério? Com tantos jogadores? - protesto num volume audível pelas pessoas naquele círculo quando olho para a cara do Jota. Viro costas e começo a andar em direção à saída.
- Miúda? Hey! - ouço uma voz masculina e acho que se dirige a mim.
- Quê? Miúda? - não gosto muito que me tratem por esse nome, especialmente um moço que eu não conheço de lado nenhum.
- Tens alguma coisa contra ser eu a estar aqui? - ignora completamente o que lhe disse e aproxima-se. Já tou a ficar com calor. De raiva, só pode. Acho eu.
- Achas? Só não vou com a tua cara. - ups. A sinceridade foi mais forte. As raparigas fuzilam-me com o olhar.
- Mas pensas que és quem, pirralha? - há uma das raparigas que quase salta para cima de mim, mas o Jota pôs-se à minha frente. Na minha cabeça só passa "ele protegeu-me".
- Não é preciso nada disso. Ela tem o direito de não gostar de mim. - ele fala firmemente com a rapariga que ainda assim parece querer arrancar-me os cabelos. Já eu... já eu posso estar errada há muito tempo.
- Posso provar-te que estás errada? - ele vira-se para mim.
- Hmmm... Sim. - afinal, toda a gente merece uma oportunidade.
- Obrigado Ana! - franzi as sobrancelhas. Como é que ele sabe o meu nome?
- Está na tua pulseira. - ele percebe a minha confusão. Observador. Estende a mão para a agarrar como se estivéssemos a fechar um negócio. Junto a minha mão à dele. Um arrepio percorre o meu corpo. Sinto alguma coisa diferente.
- De nada João Filipe! - respondo ao seu agradecimento. Ele sorri e eu retribuo.

Depois de lhe dar a tal oportunidade percebi que não era ódio... era amor.
É que, sabem, a linha que existe entre o amor e o ódio é ténue. Muito ténue e o sentimento pode ser confundido.
Depois de lhe dar a tal oportunidade acho que lhe pedi desculpa todos os dias por lhe ter atirado com tanta energia negativa e tentei recompensá-lo todos os dias ao apoiá-lo. Sempre e contra tudo e todos.
Saímos muito, aproveitamos muito, acompanhei-o sempre que pude e ele a mim. Houve e há momentos difíceis, mas a vida é assim. Para além de que os bons momentos compensaram e compensam tudo. Rir, chorar, festejar, reclamar, aprender, conhecer, desabafar, amar, provar, viver. Passei a fazer quase tudo com ele e continuo a fazê-lo.
Depois de lhe dar a tal oportunidade não fui só eu que passei amar, ele também. Amar-nos a nós mesmos e um ao outro.

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