Capítulo 20 - O resultado

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A risada de Ámbar e da minha mãe pode ser ouvida no corredor. Estou terminando um trabalho no quarto, mas paro de vez em quando para ouvi-las.

No geral, mamãe não está indo bem. Ela até chamou Ámbar de “Kara” no outro dia. Mas, tanto quanto a demência mostrou sua cara feia, minha mãe parece feliz aqui. Ámbar arruma seus cabelos e elas cozinham juntas. Na verdade, eu devo ter ganhado pelo menos um quilo essa semana de todos os cookies e brownies. Todas as noites, é algo diferente.

Em pouco tempo, estou começando a sentir que somos uma família. Eu não sentia isso em anos.

Fecho meu laptop, decido terminar para a noite e me juntar a elas na cozinha.

Uma bandeja com algum tipo de sobremesa deliciosa e coberta de coco está esfriando no fogão.

Esfrego meu estômago e digo: “Vocês duas e seus doces vão ser o meu fim.”

“Sua mãe está me lembrando sobre o teatro em que você se recusou a vestir qualquer coisa, exceto roupas de Ed Hardy.” Ámbar graceja.

Isso foi uma explosão do passado.

“Aquilo era sexy,” brinco e olho para minha mãe. “Eu não posso acreditar que você lembrou disso.”

Para alguém que está perdendo a memória, ela tem que lembrar essa merda? Mas esse era o problema... estar aqui com Ámbar, parece trazer velhas lembranças do banco de memórias da minha mãe, mesmo quando nem sempre lembra o que aconteceu há meia hora.

Ámbar escapa para o banheiro.

Quando volta, posso dizer que algo está acontecendo.

Ela sussurra no meu ouvido: “Acabo de fazer xixi no bastão. Tenho que esperar cinco minutos.”

Congelo. “Não sabia que seria essa noite.”

“Sim, bem, é hora. Deve ser preciso agora. Pelo menos, saberemos... não é?”

Eu sei que o tempo estava chegando em breve, mas não estava esperando isso hoje à noite. Decidi não pressioná-la, não havia perguntado quando ia fazer o teste. Então, aparentemente, de repente, é o dia D.

Meu coração começa a bater furiosamente. Parecem os cinco minutos mais longos da minha vida. O som de Ámbar e minha mãe conversando fica abafado, quando penso sobre o impacto da mudança de vida que um resultado positivo terá. A visão de uma menina de cabelos ruivos, com tranças, passa pela minha mente. Quanto mais a situação com minha mãe se deteriora, mais eu percebo a importância da família. Estou pronto para uma criança agora? Não. Mas pela primeira vez na minha vida, me sinto absolutamente certo de que quero uma família minha. E cada dia está se tornando mais claro que é com Ámbar que quero esse futuro.

O temporizador de cozinha da Ámbar apita.

Nossos olhos se encontram. Dou uma boa olhada nela, sei que as coisas poderão, nunca mais, serem as mesmas.

Ámbar se vira para minha mãe. “Christine, você se importa de cortar as barras mágicas? Acho que elas estão frias o suficiente agora.”

“Claro.”

Ámbar se aventura no corredor e eu a sigo alguns segundos depois.

Ela está encostada na pia e espera por mim. “Bem, aqui não tem nada.”

Assim que ela alcança o bastão do teste, coloco minha mão em seu braço para detê-la. “Espere.”

“Você não quer que eu olhe?”

“Eu tenho que lhe dizer algo primeiro.”

“Pode esperar?”

“Não.”

“Tudo bem.”

“Se for positivo, eu só quero que você saiba que acho que será um presente de Deus. Não é o momento certo para nós, talvez, mas será um presente, no entanto. E não importa o que acontecer, vamos ficar bem, certo?”

Ela sopra uma respiração nervosa. “Está bem.” “Confira.”

Ámbar olha para o bastão e logo depois para mim. “É negativo.”

Meus verdadeiros sentimentos se tornam evidentes nesse momento. Porque em vez de respirar com um suspiro de alívio e alegria pelo fato de que Ámbar não está grávida, sinto um vazio no fundo do meu estômago. É a primeira vez que percebo que posso ter esperado, secretamente, que ela estivesse grávida. É um belo abrir de olhos.

Meu pau imediatamente mexe com uma necessidade primitiva de corrigir essa situação, enquanto envolvo meus braços ao redor dela e beijo sua cabeça.

“Você está bem?” Pergunto.

Ela concorda contra meu peito. “Estou. Essa é uma boa notícia.”

“Sim, suponho que seja. Não é o momento certo.”

Ela puxa para trás e coloca as mãos sobre minhas bochechas. “Nós teríamos um belo bebê com você como pai, no entanto.”

“Somente se ela se parecesse com você.” Ámbar se ilumina. “Ela?”

“Sim.” Sorrio. “Posso ter imaginado uma pequena garota que se parece com você, uma ou duas vezes nas duas últimas semanas.”

“Isso é doce.” Seus olhos se arregalam. “Você sabe com o que estou entusiasmada sobre isso?”

“O quê?”

“Vou tomar um copo de vinho esta noite. Eu não tenho bebido, apenas no caso.”

Coloco um beijo firme em seus lábios e depois balanço minha cabeça. “Vamos. Vou abrir uma nova garrafa para nós.”

Voltamos para a cozinha para encontrarmos algo inquietante. Minha mãe está sentada à mesa com toda a bandeja de barras mágicas na frente dela. Ela não as cortou, mas tinha comido três quartos do lote. Em outras circunstâncias, isso poderia até ter sido engraçado. Mas, dada a sua situação, não é. É triste. Esse é o tipo de comportamento imprevisível com o qual tive que me acostumar.

Sinto vergonha. “Eu sinto muito.” Ámbar esfrega meu ombro. “Tudo bem.”

“Realmente, porra, preciso desse vinho agora,” falo e sigo até a garrafa de vinho no balcão.

Depois do jantar, mamãe vai deitar cedo ― provavelmente por causa de todo o açúcar que havia consumido.

Ámbar e eu ficamos acordados assistindo filmes. Estou incrivelmente excitado, mas foi um dia longo e emocional, e suspeito que ela não esteja com vontade.

Seu telefone, que está no quarto, toca. É incomum que ela receba um texto tão tarde da noite.

Ela se levanta para verificá-lo e parece demorar muito antes de finalmente retornar ao seu lugar ao meu lado no sofá.

“Tudo bem?”

Um rubor sobe em seu rosto. “Sim. Sim, está tudo bem.”

Ela não parece bem, mas ignoro, riscando esse dia cansativo.

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