– Você enrola a língua atrás dos dentes... – Perrie diz, fazendo o gesto devagar e vendo Michael imitar – E agora faz ela vibrar assim. – A garota faz o gesto novamente, deixando um som parecido com 'prrr' sair de sua boca e fazendo Michael gargalhar.
– Isso é impossível! – Gesticula, ainda rindo e achando graça o som que vinha da fonoaudióloga – Parece um passarinho.
– Se você ficar rindo toda vez que eu fizer isso, vai ser impossível de verdade! – Resmunga e bate o pé, tentando não se derreter pelo riso do mais novo e acabar se deixando ser contagiada – É bom para a suas pregas vocais, seu cabeça dura. Inclusive muitos cantores fazem isso, porque é um ótimo aquecimento vocal.
– Você não tem outros exercícios? Eu juro que um dia eu aprendo esse. – Pede, fazendo seu melhor olhar de cachorrinho e erguendo o dedo mindinho em um sinal de promessa.
A garota suspira derrotada e balança a cabeça se dando por vencida – Ok, mas na próxima sessão você só sai do meu consultório quando estiver dominando esse exercício. – Diz com uma voz autoritária e observa o sorriso vitorioso do mais novo murchar – É para o seu bem, Mike, você terá maior controle da sua voz e um timbre melhor colocado sem grandes esforços. Nós não temos tanto tempo mais, logo vocês estarão indo para os Estados Unidos e eu não posso me mudar junto.
– Eu já falei que podemos te levar. – Retruca, fazendo a mais velha rir.
– Eu tenho uma vida, meu consultório e minha noiva aqui em Londres. – Responde, acariciando os fios coloridos macios – Não posso deixar tudo para trás... Agora vamos para o próximo exercício: gire a língua dez vezes para a esquerda dentro da boca e depois dez vezes para a direita, de uma pausa e repita isso por três vezes pelo menos.
– Isso eu posso fazer. – Revira os olhos, pensando no porquê dos outros exercícios não serem tão fáceis.
O garoto faz o que lhe é mandado com calma e Perrie apenas observa com um sorriso orgulhoso no rosto. Michael está se esforçando muito e já consegue dizer algumas palavras, mas é preguiçoso, então quase nunca as fala em voz alta. Na verdade, ela não chamaria de preguiça, mas sim de comodidade. O garoto está acostumado demais com a facilidade de poder gesticular e prefere não se arriscar a errar ao dizer em voz alta as palavras que já aprendeu.
– Utilizando o som de RRRR comece executando em tons médios e leve para o agudo durante uns três minutos, sem forçar demais.
– Você usa muitos termos técnicos. – Enruga o nariz numa careta e a mulher ri.
– Faz logo essa merda!
Michael ri também, mas obedece, demorando um tempinho para recuperar o fôlego e a concentração. Quando o foco é estabelecido, ele faz o que a garota pede, sentindo um pouco de dificuldade para fazer o som do 'RRR' de forma prolongada.
– Três minutos é muito tempo! – Gesticula, tomando uma respiração profunda ao acabar o exercício.
– Tudo bem, agora eu quero repassar com você o som e a pronúncia das letras do alfabeto.
O garoto assente e então eles começam, Perrie fala em voz alta letra por letra e espera pacientemente pelo mais novo, que a imita.
– Dá-bli-o.
– Dá... B- bi-... O. – Falha ao tentar pronunciar a letra complicada.
– Bli, tem um l no meio.
– Esse é difícil. – Suspira frustrado.
– Não precisa ficar chateado por não conseguir, na hora de pronunciar alguma palavra que tenha essa letra, o som vai ser de v, de u ou mudo. – Explica, vendo o garoto assentir – O que acha de tentarmos falar algumas palavras agora?
– Mais palavras?
– Sim. Michael você já consegue pronunciar várias delas, mas eu nunca vejo você falando e sempre gesticulando, por isso, nós vamos continuar treinando e eu não ligo se você se sente uma criança.
– Eu tenho medo de errar.
– Mas se você não tentar, o nosso tratamento inteiro terá sido em vão!
O mais novo encara os olhos azuis da amiga e respira fundo. – Okay.
– Viu só?! Você não morreu por falar okay para mim e nem gaguejou.
– Sim, vamos começar.
.
– Q-que dia nós vai viajar? – Michael pergunta para Luke, alguns dias mais tarde.
Eles estão deitados no tapete felpudo da sala, com vários travesseiros e almofadas e uma coberta quentinha os embalando. O Jogo da Imitação está passando na enorme televisão e eles assistem, enrolados um no outro.
– Nós vamos. – Corrige com um sorriso, deixando um beijo carinhoso na ponta do nariz do mais novo.
– Que dia nós vamos viajar? – Se corrige, sorrindo também.
– Nós vamos na quinta-feira, o pessoal do circo vai estar todo no aeroporto e nós vamos rever todo mundo. Está com saudades?
– Uhum... Menos do Simon. – Faz uma careta, a qual Luke acha adorável.
– Do que você mais sente saudades? – Pergunta, acariciando a cintura do mais novo – Além das pessoas. – Acrescenta.
– Acho que de trabalhar. É muito cansativo às vezes, mas eu sinto falta de estar em ação e ver o espetáculo de cima e de fazer toda a mágica acontecer. – Sorri com as imagens que vêm aos seus pensamentos.
– E por que o senhor parou de falar e está gesticulando?
– Muitas palavras de uma só vez e eu não consigo falar a palavra 'trabalhar'.
– Mikey, nós já conversamos sobre isso. Você precisa enfrentar esse medo de errar e eu sei que as palavras com lh são mais complicadas para você, mas eu estou aqui para te ajudar também, ok?
– Tudo bem. – Suspira, se aconchegando mais contra o corpo do mais velho que o abraça apertado.
– Assim que o filme acabar, eu vou pegar aquele quadro de exercícios que a Pez me mandou e nós vamos treinar. E não pense que quando chegarmos nós Estados Unidos o tratamento vai parar, porque você vai continuar fazendo isso até estar falando como se tivesse nascido sabendo.
– Ocê paece minha mãe. – Resmunga, fazendo o mais velho rir.
.
– Mike, confere se você não está esquecendo nada, porque depois não dá tempo de voltar em casa para buscar! – Luke grita da sala para o namorado que está no quarto terminando de arrumar as malas para a viagem.
– Não estou. – Responde, saindo do quarto e arrastando sua bagagem até a sala.
– Não está o quê? – Arqueia a sobrancelha.
– Es-esguencendo nada. – Resmunga.
– Esquecendo. – Corrige, pegando a mala da mão do mais novo – Estou de olho nessa sua mania de cortar as frases pela metade, está parecendo uma criança de dois anos.
Michael apenas suspira e entrelaça sua mão com a do mais velho, preferindo não discutir. Porque ele realmente se sente como uma criança de dois anos, tendo que aprender a falar corretamente e errando coisas tão bobas, às vezes ele se sente frustrado por isso, mas ninguém o entende de verdade. Usar libras é mais fácil, mais cômodo e principalmente mais seguro, sem chances de cometer erros.
– Se abre para mim.
Luke pede, o puxando para seus braços e o impedindo de sair pela porta. Michael se sente vulnerável sob o olhar do namorado, se sente um livro aberto e não consegue esconder suas emoções. Não quando aqueles olhos azuis o fitam com tanta preocupação, amor e carinho, então o mais novo acaba suspirando e decidindo contar o que perturba seus pensamentos.
– Eu tenho dezoito anos, Luke, mas ao mesmo tempo eu realmente tenho dois. Eu não estou pronunciando as palavra errado e alguém está sempre me corrigindo, me fazer me sentir impotente. Eu sei que é o meu sonho poder falar, mas não é um processo fácil e eu tento facilitar o máximo para mim mesmo. Por isso falar em libras é melhor, porque eu sei que não vou errar e ninguém vai precisar me corrigir.
– Você nasceu sabendo a linguagem de sinais? – Arqueia a sobrancelha.
– Não...
– Exato. Você teve que aprender e você não teve medo ou vergonha de errar quando ainda não sabia? – O mais novo apenas confirma com o aceno de cabeça – Eu também tive medo quando aprendi libras, eu errei muitas vezes e os garotos me corrigiram outras muitas vezes, quando eu li o primeiro capítulo do meu livro em linguagem de sinais para você, eu estava me tremendo com medo de errar, mas eu fui lá e enfrentei, porque eu queria fazer aquilo por você. Amor, você tem que aprender a enfrentar o seu medo de errar e não é por mim, ou pela sua família ou pelos seus amigos, é por você mesmo. Eu te amo, eles te amam e ninguém vai te julgar, nós estamos aqui para te apoiar e te ajudar, ok?
– Okay. – Responde num fio de voz, deixando algumas lágrimas emocionadas caírem e escorrerem por suas bochechas. – Eu amo ocê.
– Agora, sem chorar, – Sorri carinhoso, secando o rosto do menor com a ponta dos dedos – já pensou no que vai dizer para todos eles quando chegarmos no aeroporto?
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O caminho até que o Heatrhow leva cerca de uma hora e os garotos vão olhando pela janela e conversando tranquilamente durante todo o percurso de metrô até lá. Quando o trem finalmente para no terminal 5, eles pegam suas malas e descem.
Por serem muitos, um avião havia sido fretado para levar todos os circenses – tanto os artistas, quanto aqueles que trabalham nas pequenas (mas importantes) tarefas do circo.
O casal faz o check-in, pega suas passagens e caminha até a sala de embarque no portão 28. Todos os seus amigos estão lá, espalhados pelo chão e poltrona, aguardando a hora de embarcar, mas quando veem Michael e Luke parados ali, se levantam animados e correm para abraçá-los.
Quando a situação finalmente se acalma e todos já se abraçaram, Michael respira fundo e diz em voz alta, com um sorriso no rosto.
– Eu senti falta de vocês.🆘️
GENTE TÁ ACABANDO EU TÔ FICANDO MUITO TRISTE.
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I saw galaxies in your eyes | version MUKE|
FantasyMichael nasceu e cresceu no circo, mas por conta de uma doença que não o permitia falar, ou sorrir, viveu uma vida escondido sob os bastidores. Porém, tudo muda quando Luke, um escritor cheio de vida e que busca por novas aventuras se junta à trupe...