O dia seguinte passa voando. Michael é acordado pelas risadas e conversas dos amigos, que já estão de pé e animados para mais um dia de trabalho. No café da manhã, ele é bombardeado por perguntas de Lucy e Karen que querem saber cada pequeno detalhe sobre a noite passada, envergonhado demais, apenas come seu mingau e ouve Luke responder cada pergunta com um olhar divertido no rosto, enquanto sua irmã e mãe tinham as mãos nas bochechas e exclamavam animadas a cada palavra.
O restante da manhã e a tarde se resumem em muito ensaio, quando os artistas não estavam aproveitando seus respectivos turnos no picadeiro, estavam espalhados pelos arredores do circo trabalhando em seus números. Michael não consegue almoçar com os amigos e tem que comer sua comida rapidamente, antes de voltar para a lona e ter que conferir todos os equipamentos e acertar os últimos detalhes do cenário com Sophia, enquanto observava de longe Luke pelos cantos com o caderno de couro na mão. Quando tudo está pronto, ele tem dez minutos para tomar um banho apressado e voltar para a tenda principal.
O espetáculo, como sempre, é um sucesso. O público finaliza as apresentações com uma salva de palmas animadas e calorosas, com direito a alguns gritos e assovios. Clifford sente a sensação de dever cumprido invadir as células de seu copo, no momento em que apaga a última luz do picadeiro. Ele sai da lona, esticando os músculos doloridos e se depara com Luke já o esperando, com um sorriso nos lábios e os braços abertos, onde o mais novo se encaixa satisfeito e o abraça de volta.
– Olá gatinho. – Diz, afagando os fios coloridos e vendo o mais novo fechar os olhos contente.
– Gatinho? – Arqueia uma sobrancelha, curioso e surpreso, achando graça do novo apelido.
– Você parece com um, todo fofo se enroscando em mim para ganhar carinho, só está faltando ronronar. – Responde, deixando uma risada escapar por entre os lábios e o seu peito vibrar contra o de Michael, que agora possui as bochechas coradas.
– Se eu sou o 'gatinho', você é a Boo.
– Minha mãe me chama assim sabia? – Ri.
– Adorável. – Suspira, balançando a cabeça sem acreditar, porque nenhum apelido se encaixaria tão bem no garoto de olhos azuis quanto aquele.
– Você vai querer participar da fogueira hoje? Aparentemente, essa é a noite da música, porque Jake já está afinando um violão. – Diz e aponta para onde a maioria dos circenses estão, já aglomerados em uma roda, mesmo que a fogueira ainda não esteja acesa.
– Apesar das noites de música serem minhas preferidas, eu estou cansado, então vou esperar pela próxima e ficar no trailer.
– O que você acha então, da gente roubar um saco de marshmallows? A gente deita na cama, eu posso por música no celular e a gente divide o fone enquanto conversa.
Deus, eu devo ter sido muito bom na vida passada para merecer um anjo nessa. Michael pensa, olhando para Luke com carinho, e assente concordando. O mais velho sorri e entrelaça suas mãos, o puxando em direção ao trailer e passando direto por onde seria a fogueira, o que é motivo para alguns dos jovens artistas assoviarem e soltarem algumas piadinhas maliciosas, que fazem o mais novo corar e o mais velho rir. Porque não, eles não iriam transar... Naquela noite.
Clifford se joga na cama e Hemmings vem logo em seguida, trazendo consigo um pacote de doces e o iPod, como havia prometido minutos antes. O menor deita na cama também e abre a sacola, colocando entre os dois, em seguida conecta os fones no aparelho, colocando um lado em seu ouvido e ajeitando o outo na orelha do menor. Ele escolhe uma música aleatória e aperta o play.
– Eu já disse que amo Coldplay? – Suspira em aprovação.
– Já... – Ri, pegando um marshmallow no saco e jogando na boca, antes de começar a cantarolar baixinho – Olhe para as estrelas, olhe para como elas brilham para você e para tudo que você faz...
– Eu posso viver assim para sempre. – Gesticula no ar, antes de pegar um marshmallow e comer devagar.
– Apenas basta dizer sim. – Sussurra e sente o mais novo deitar em seu peito e abraçar sua cintura. Ele sorri, porque esta é única resposta da qual precisa, e o abraça de volta, suspirando com a respiração quente em seu pescoço.
O silêncio paira sobre eles. Mas não é um silêncio desconfortável, como quando você está sozinho com um desconhecido e precisa a todo custo quebrar o gelo, ou quando tudo fica em silêncio num momento de tensão ou briga. É um silêncio íntimo e acolhedor, do tipo: estou te dizendo muitas coisas sem precisar de palavras. Com a voz suave do Troye Sivan no fundo, Michael se sente confortável o suficiente para se encolher contra os braços de Hemmings e aproveitar o carinho gostoso, das pontas dos dedos do mais velho deslizando na pele de suas costas por baixo da camisa.
– Mikey... – A voz suave e doce o desperta – Posso te fazer uma pergunta? – O mais novo apenas assente, se afastando para olhar nos olhos azuis – Como é tudo isso? Como começou?
A pergunta faz o mais novo suspirar, ele sabia que mais cedo ou mais tarde ela viria, então se levanta e se senta de frente para o mais velho, que permanece deitado, mas com as suas mãos entrelaçadas.
– Ao contrário da maioria das crianças, eu não nasci chorando e isso já foi um motivo para os médicos se preocuparem. Eu tive que ficar muitos dias no hospital e eles fizeram diversos exames, mas eu não tinha nenhuma doença. Logo, meu pais voltaram para o circo comigo e o tempo foi passando, eu nunca chorava e nem fazia nenhum barulho e eu fui crescendo e nada mudou, pelo contrário, as coisas pioraram. Com dois anos, quase nenhum músculo meu da face se mexia e eu tinha que me alimentar por sonda e essas coisas, minha mãe trabalhou muito comigo durante a minha infância para eu conseguir pelo menos comer e aos poucos fui recuperando os movimentos do rosto, mas não todos.
–Aos sete anos, tudo estagnou. Eu não conseguia mais progredir e permaneci apenas com o que eu tinha conseguido recuperar, foi aí que eu fui diagnosticado com paralisia nas cordas vocais e nos músculos faciais, a medicina estava começando a avançar, mas eles não tinham um cura. Disseram a minha mãe que eu desenvolvi alguma espécie de trauma psicológico e por isso não consegui progredir mais. Continuei vendo o médico a cada três meses por quatro anos, mas eles nunca me davam notícias boas e então eu aceitei que esse era o meu destino e disse para minha mãe que eu não ia voltar mais. Ela me entendeu e não me pressionou, aos poucos todos que conviviam comigo foram se acostumando e se adaptando as formas que eu encontrava de me comunicar.
– Você é uma inspiração sabia? Quando as pessoas conhecerem sua histórias, você vai inspirar tantas vidas, Mike. – Suspira, puxando o mais novo para um abraço – Eu tenho orgulho de ter me apaixonado por você. – Sussurra, fazendo o mais novo corar e sentir o coração bater mais forte.
– Agora me beija, seu tolo.
🆘️Okay, foi mais que confirmado que eu amo Muke e cada capítulo eu amo ainda mais, HOJE TEM COISA NOVA HEHE
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I saw galaxies in your eyes | version MUKE|
FantastikMichael nasceu e cresceu no circo, mas por conta de uma doença que não o permitia falar, ou sorrir, viveu uma vida escondido sob os bastidores. Porém, tudo muda quando Luke, um escritor cheio de vida e que busca por novas aventuras se junta à trupe...