Enquanto não forem feitos para não se partirem

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Mande um olá para o diabo quando você voltar para o lugar de onde veio

Mulher louca, mulher má é o que você é

Você sorri para mim e depois arranca os freios do meu carro

Te dei tudo que eu tinha e você jogou no lixo

Se o meu corpo estivesse em chamas

Você ficaria me vendo queimar?

_Grenade

-Jacob

As semanas seguiram (o tempo era implacável e eu estava muito mais consciente agora) naquele padrão já familiar para mim: rondas, leituras e muito trabalho. O maior marco de tempo era a barriga crescente de Rachel, que não havia dado sinal de existência até pouco tempo, mas desde o mês passado estava maior a cada semana, ela estava indo para o sexto mês e ainda não conseguiram descobrir o sexo do bebê por causa da posição do feto. Rachel e Paul estavam se organizando e planejando para mudarem para sua casa, porém isso seria só quando a criança nascesse, pois Paul não queria sair para trabalhar e deixar Rachel sozinha.

Os serviços mecânicos estavam indo bem, mas ser bom nisso garantia que os clientes não voltassem tão logo e, numa cidade pequena, isso me rendia algum tempo ocioso em que quando eu não estava lendo estava ajudando Quil com algum trabalho na casa de algum cliente. Nós havíamos entregado alguns cartões da empresa por aí, em lojas e para clientes e a empresa estava legalizada com a ajuda de Sam.

Havíamos esperado as festas de fim de ano passar para começar a negociação pelo terreno para montar a oficina e o escritório, mas não havia demorado nada, em três dias conseguimos fechar negócio. Leah era minha sócia e usei o dinheiro que ela me deu, parte de meu fundo universitário e todo o meu lucro até ali para comprar. Os garotos e eu já até havíamos começado a levantar as paredes do galpão da oficina... Usaríamos metade da casa para fazer o escritório e faríamos um quarto na parte de trás. Antes sempre usávamos a casa de Emily quando trocávamos de turno durante a madrugada, seria bom ter onde descansar sem precisar incomodar ninguém. Rachel havia me dado um computador que já estava instalado no escritório, ela disse que seria útil e, com tudo isso, eu estava sempre ocupado. Então não pensava muito na vida.

No entanto, ainda que pela parte em minha vida onde eu trabalhava e me esforçava arduamente para recuperar o tempo eu estivesse feliz, eu era como um eclipse: o sol sombreado. Mas não havia e não haveria rotação. Jamais voltaria a ser o garoto feliz e despreocupado que havia sido. As cicatrizes ainda estavam inflamadas, os hematomas doloridos e eu não tinha certeza se algum dia poderia ser inteiro novamente, como alguém que perde um braço e ainda o sente, eu não tinha coração, como em O Mágico de Oz: 'Você quer um coração? Você não sabe o quão sortudo és por não ter um. Corações nunca serão práticos enquanto não forem feitos para não se partirem', lembrei. Acho que perdi o meu quando o dela parou; ou talvez antes, mas sempre fui teimoso demais para perceber isso.

Eu ainda me perguntava se havia feito a coisa certa, permitindo que ele a salvasse do seu jeito, deixando-a viver... Claro, meu conceito de vida sendo inteiramente distorcido pelo desespero da circunstância. Lembro de querer apenas que ela fosse feliz e me conformar com isso quando descobri que a filha de Charlie tinha namorado, eu sabia que ela estava fora de alcance, no 2o ano e eu e no 1o, também sabia que ela logo seria pega, tão legal como era! Lembro também de querer pedir desculpas ao Cullen pela contrariedade de Billy à família dele... Era mais fácil antes.

Tentei pensar por essa perspectiva: eu queria que ela fosse feliz, que sobrevivesse. Mas será que ela estava feliz? Devia estar, tinha tudo o que deu a vida para ter. No entanto Charlie não dava pista alguma sobre o filhote de mostro. Será que não sobreviveu? Era tão terrível que tiveram de matar ou mantinham longe e escondido de Charlie para que não bebesse do próprio avô? Charlie e eu não conversamos muito desde que eu voltei, eu deixara Billy na casa dele algumas vezes e jantamos todos juntos algumas outras poucas vezes. Ele era um homem esperto, eu tinha certeza que ele percebia que tudo isso era muito estranho, mas ele também era muito prático para deixar que sua vida fugisse de sua zona de conforto, então ele fazia vista grossa, mesmo sendo casado com a anciã de nosso conselho.

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