Emoções são cavalos

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As emoções são cavalos selvagens e, em nenhum momento, a razão conseguirá dominá-las por completo.

-Paulo Coelho




—O que você fazia nu, na floresta, com Seth? E aquele lobo enorme...?_ Anne arriscou quando parou de chorar, a voz rouca e a respiração presa. Nós estávamos deitados em minha cama, ela aninhada numa bola pequena entre meus braços.

—Já ouviu as lendas quileutes?_ comecei afagando suas costas. Silêncio. Ela fungou.

—Sobre quileutes descenderem dos lobos? É tudo o que sei_ ela pigarreou.

—Sim. É exatamente isso.

Ela se moveu de forma que me olhasse nos olhos.

—Está me dizendo que a tribo tem uma relação cósmica com lobos super nutridos que se escondem na floresta de Forks?_ Ela parecia tão convicta disso que eu quase disse que sim, mas sorri ternamente com a ingenuidade.

—Pior que isso_ suas sobrancelhas se uniram_ O lobo era Embry_ ela me olhou seriamente por alguns segundos e então bufou um riso. _Sabe que nossa reserva era uma tribo?_ ela assentiu e prossegui: _Há muito tempo houve uma grande ameaça à tribo e, como sempre tivemos magia em nosso sangue, o chefe da tribo se fundiu a um lobo, porque havia perdido seu corpo, isso é história pra depois.

Anne balançou a cabeça incrédula, mas não disse nada.

—Ele viveu muitos anos por isso. Desde então todos os filhos dos filhos dele carregam o gene do lobo. Quando há alguma ameaça, nos bate uma febre_ peguei a mão sua e coloquei em meu rosto, seus olhos vacilaram com uma compreensão relutante_ E então nos transformamos em lobos.

—Quer mesmo que acredite nisso?!_  falou ultrajada.

—Se preferir não acreditar_ dei de ombros. _Foi tudo um sonho, Anne. Só imaginação.

Ela resfolegou irritada e se sentou, se afastando e me olhando como se fosse me estapear. Pus o braço sob a cabeça para olhá-la melhor.

—Mostre-me, então_ demandou cética e desconfiadamente. Assenti uma única vez:

—Certo_ falei e me levantei, _venha, olhe daqui_ chamei indo até a janela e pulando para o quintal, onde a chuva caía ainda vagarosa. Virei-me para ela e hesitei sobre tirar a roupa. _Com licença, mas as roupas não entram e saem de existência_ encolhi os ombros com a mão no cós da calça do moletom que usava.

Anne piscou espasmodicamente e desviou o olhar por alguns instantes, concentrei-me em trazer à tona o calor e o lobo e, com tremores que pareciam dividir minhas juntas, logo eu estava mais alto que a vidraça. A garota humana me encarava aterrorizada, segurando-se no encaixe da janela. Eu gani um lamento longo e baixo, semelhante a um uivo, esperando reconfortá-la e sentei nas patas traseiras, mostrando-me consciente dela e de tudo em volta, achando que me faria menos selvagem, talvez.

"Domesticado", Seth riu em minha mente, Embry achando engraçado também. Rosnei para eles e Anne estremeceu. Desculpe, quis dizer, mas tudo que saiu foi um grunhido agudo. Aproximei-me da e ela relutou, mas não se afastou. Inclinei-me como que para afagá-la com minha testa. Anne ergueu um braço e tocou entre meus olhos. Seus olhos enchendo-se de lágrimas, ela sequer piscava, chocada, os lábios entre abertos, formando uma expressão de choque e medo.

—Você me entende?_ perguntou num sussurro, afagando-me o focinho e segurando meu queixo. Assenti uma vez com a enorme cabeça. Dei um passo para trás e voltei à forma humana, Anne viu o movimento e naturalmente saiu, me dando privacidade.

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