O bom filho e todo esse blá, blá, blá

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"A casa é assombrada

Eu apenas quero sair para um passeio

Fora e adiante

Antes que eu apague a luz desse quarto

Deixado para sempre sozinho e pelos crimes não limpos

Com minha paciência perdida

Alguém me levou para longe daqui

Queimando essa gasolina"

-Gasolina, Audioslave


Poderia protelar muito tempo ainda, mas não haveria nada que pudesse me preparar plenamente para isso, portanto, adiar era inútil. Não era que eu não quisesse ver meu pai e meus amigos ou não estivesse até um tanto curioso por saber deles, mas eu sabia que lá as lembranças seriam piores... Sem falar do falatório de Rachel, Sam, Embry, Quil, Paul, e Billy, embora esse último fosse de fato o único que tivesse direito de dizer algo.

Tentando me incentivar a ao menos passar o dia com meu pai Leah me disponibilizou seu carro, se impondo o grande sacrifício de ir de táxi para o trabalho por hoje. Havia três dias eu estava na casa dela, ela era uma boa companhia, esteve me atualizando sobre a situação atual no país, sobre os aparelhos modernos... Eu me sentia um ogro, como podia em cinco anos tudo ter mudado tanto?

A manhã era cinzenta e a luz pálida do sol ainda não era visível para olhos humanos, o vento soprava frio enquanto eu fitava hesitante o automóvel, era um o Camry, vermelho escarlate. Entrei ainda relutando e afaguei o volante cinza escuro, em seguida senti o motor ganhar vida, pisei no acelerador só para sentir o ronco do motor; um arrepiou leve de satisfação varreu minha pele, há quanto eu não dirigia? Pisei no acelerador e o motor rugiu mais alto, mas Lee não ia gostar de ser acordada por causa de minha brincadeira de criança deslumbrada, portanto, soltei a embreagem, dando partida.

Eu tinha de confessar que estava curtindo muito mais a viagem que a idéia de chegar lá. Leah havia me contado algo de como as coisas caminhavam em La Push: o filho de Sam e Emily estava para completar 04 anos; Jared e Kim estavam casados há cinco anos e moravam em La Push, ele trabalha no banco em Forks e, como Sam também pretende deixar as transformações e envelhecer com seu objeto de imprinting; Embry ainda morava com a mãe e acabara de ingressar no departamento de polícia de Forks, ao que tudo indicava seria ele a substituir Charlie na chefia da cidade, era seu objetivo, disse Leah; Paul e Rachel tinham uma casa em La Push, mas moravam com meu pai desde que casaram numa cerimônia simples no cartório com uma festa na praia depois. Leah contara que Seth havia dito que eles reformaram meu quarto a fim de que fosse adequado para um casal, mas que era provisório, que quando eu voltasse o espaço ainda seria meu e eles iriam para sua casa.

Baixei o vidro do carro sentindo o ar ficar mais úmido conforme a estrada me aproximava de Forks, o som do carro tocando uma música qualquer que eu não conhecia. Era estranho percorrer o caminho familiar. Era como se duas dimensões em tempos distintos se chocassem, como se não fosse parte de minha casa, como se não me pertencesse. Por um momento longo demais eu revivi a noite em que dirigi meu rabbit por aquela mesma estrada sentindo-me feliz por estar indo ao cinema com a garota que era minha melhor amiga e talvez minha futura namorada... A mesma noite em que me sentia quente e confiante o bastante para dizer tudo o que eu sentia a ela, a noite em que prometi jamais magoá-la e a noite em que me transformei pela primeira vez, descobrindo que muito antes de mim, Bella já fazia parte do mundo sobrenatural. Suspirei resignado, inspirando profundamente o ar frio com cheiro de terra molhada, resina, musgo e mar, afrouxando os dedos do volante, o plástico embaixo do couro estalava reclamando à pressão.

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