Despertar

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Estou bem acordada

Trovão roncando

Castelos ruindo (estou bem acordada)

Estou tentando me segurar (estou bem acordada)

Deus sabe que tentei ver o lado positivo (estou bem acordada)

Mas não sou mais cega

Estou bem acordada

Wide Awake- Katty Perry


Hannah estava tendo aulas com Esme para, quem sabe, tentar a Universidade no próximo semestre. Ela não sabia, mas seria fácil para os Cullen conseguir uma vaga em qualquer curso e instituição que quisesse; não que ela não fosse cognitivamente capaz, mas legalmente devido aos meses de inconsciência ela teria de cursar um semestre do colegial antes ou realizar uma prova que afirmasse que ela não estava em déficit. Outra coisa que Hannah não sabia é que ela era cerca de duas vezes mais rica que antes; é nisso que dá ter as finanças cuidadas por alguém com o dom de prever em que ações da bolsa é melhor investir. Eu perdia o fôlego só tentando imaginar quanto dinheiro havia em meu nome e contas pelo mundo, meus pais eram um tanto obcecados quanto a garantir um futuro confortável para mim. Como se qualquer um de nós precisasse de tanto! Mas sem gastar em alimentação e sem vícios, era muito difícil gastar, o dinheiro acabava acumulando ao longo dos anos, então os Cullen gastavam com coisas supérfluas como carros de luxo e ilhas particulares. Eu me eximia de pensar em todas as transações ilegais necessárias para que minha família herdasse bens deles mesmos e quanto dinheiro precisava ser lavado e doado para não levantar suspeitas.

Contei para Hannah sobre o acidente, já que não lembrava dele, e contei que Carlisle cuidou dela e que convenci meu pai adotivo a trazê-la para nossa casa, contei que ela perdeu a escola e foi com o coração na mão que me despedi dela duas semanas depois de seu despertar; mas as aulas na universidade de Seattle já iam começar e minha amiga estaria bem cuidada. Alice, Esme e Carlisle eram como irmã e pais para ela. Sua humanidade e o atual estado mais frágil faziam aflorar em mim sentimentos muito humanos e realmente muito bonitos, eu nunca quis ou imaginei ter irmãos, muito consciente da natureza de minha família, mas acho que Hannah era assim para mim, como uma irmã caçula, muito embora ela na verdade fosse mais velha.

Sábado pela manhã, depois de minha última aula, a base filosófica da astronomia, eu voei até meu carro, acenando para alguns colegas de classes que andavam pelo campus; eu havia decidido me permitir um pouco mais no mundo humano, eu sabia que não podia fazer amigos de verdade, mas não havia porque me isolar, era algo com que eu podia lidar.

Eu estava na metade do caminho, quando a 280 km/h, vi o vulto do carro de polícia que logo ficou para trás. Droga! Deixei minha cabeça pender até o volante enquanto desacelerava e me dirigia ao acostamento, três minutos e a viatura surgiu em meu retrovisor. Inclinei-me sobre o banco passageiro buscando em minha bolsa meus documentos. Mais dois minutos e o carro parou do outro lado da estrada, eu baixei o vidro. Não tinha como hábito ludibriar humanos nem os enfrentava sozinha normalmente, mas ao que parecia, eu era adulta agora e estava sozinha. É, claro, que eu poderia ter apenas pisado no acelerador, mas uma Ferrari a mais de 250 km/h chamava bastante atenção e eu poderia ser interceptada à frente, então melhor que chamar atenção era bancar a boa cidadã, com minha identidade e carteira de motoristas impecavelmente falsificadas.

—Senhor_ falei macio e educadamente, com meu melhor olhar de ingenuidade. O policial que não passava dos quarenta e estava em boa forma, acenou, parecendo surpreso. Ele talvez não esperasse alguém tão jovem ou uma mulher ou... Eu não lia mentes!

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