Cap. 15

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Cadu Sampaio On

Minhas vistas embaçavam a cada minuto. Eu não pensava em mais nada. Os meus pensamentos eram todos voltados àquelas cenas de Beatrice nua e aquele... Idiota! Logo agora que parecia estar tudo bem. Na verdade não, pois de uns dias para cá eu vinha mesmo desconfiando. Por que tive que ser tão burro a ponto de não levar esse assunto mais a fundo? Por que não investiguei melhor? Beatrice nunca foi de sair, eu sabia que essas saidinhas com as amigas era problema. Opa, não tinha amiga nisso, era amante!

Cheguei ao local. Estacionei o carro sem me preocupar muito se estava meio longe da calçada, eu queria apenas ver a cara dela. A cara de pau dela! Queria ver se ela teria coragem de desmentir aquilo na cara dura. Eu estou tão decepcionado. Uma relação de anos se rompeu com uma traição. Uma traição! Não sou bom o suficiente? Temos um filho! Onde essa idiota estava com a cabeça quando pensou em me trair, tendo um filho comigo?

- Olá, vim visitar um amigo meu chamado Pedro Cardoso - digo ao porteiro.

- É, ele me deixou avisado.

O idiota ainda tem a brilhante ideia de dar o endereço e ainda deixar avisado ao porteiro sobre a minha entrada. Maravilhoso, sou um corno respeitado. Apertei no botão do elevador milhares de vezes, eu estava até com medo de quebrá-lo e ter de pagar por outro. Um velho amigo sempre me dizia "conte até dez quando as coisas vão mal". Foi o que fiz. Não que fosse algo que eu queria, mas era o que eu precisava.

Foi exatamente o tempo que o elevador abriu e dois homens e uma mulher com um Golden Retriever saíram do mesmo. Entrei, apertando o botão do terceiro andar, como está escrito no endereço. Eu sei, sou um babaca por estar vindo até a cena da traição. Estou sendo burro? Sim, muito. Eu deveria mesmo era estar em casa e esperar que Beatrice corresse atrás de mim; se ela corresse. Já sofri humilhação demais para um dia só, vir aqui não ia ajudar em nada. Quer saber, dane-se, eu já estou nessa merda mesmo.

As portas do elevador se abriram, me deixando de frente com um espelho e a minha cara de camisa amarrotada por causa do choro. Havia duas portas, mas dava para ouvir a voz de Beatrice resmungando por trás de uma única. Respirei fundo outra vez, eu ainda não acredito que isso esteja acontecendo; não comigo, sabe?

Virei a maçaneta, a porta foi aberta. Chegou a hora do corno entrar.
Corno.
Corno.
Corno.
É isso que sou, e não vou cansar de repetir para mim mesmo. É apenas a verdade. Difícil pensar que após eu pisar lá dentro eu terei de acabar com o nosso relacionamento. Depois de anos. Anos, velho.

Dou de cara com a sala, que apesar de ser pequena era arrumadinha. Ao passar pela cozinha havia um corredor, nele, duas portas. Uma delas estava aberta, e eu esperava mesmo que fosse a que eles estavam.

- Cadu... - ela estava perto da janela com lençóis enrolados ao corpo. Seu rosto estava inchado e encharcado devido as lágrimas. Mas para quê, já que ela escolheu isso? Por que ela está chorando, sendo que quem deve estar mal sou eu?

Balanço a cabeça negativamente, com nojo deles e da situação que eu me encontrava. Roupas espalhadas pelo chão não me deixava esquecer o motivo pelo qual eu estava ali.

- Eu só consigo ter nojo de você. NOJO! - novamente as lágrimas ameaçavam cair.

- Eu acho que vou sair para deixar o dois a sós - ele ri sarcasticamente, saindo mesmo de lá.

A minha vontade era de explanar as fotos de Beatrice para o Brasil todo e socar a cara desse sujeito.

- Eu sabia! Eu sabia que por trás desse amigo chamado Pedro Cardoso existia uma mentira maior que a do amigo. Você me fez carregar um papel de otário sem mesmo eu saber!

- Calma, me escuta, eu não queria...

- CALA A MERDA DA BOCA! - as lágrimas já não me deixam escolher se elas caem ou não, elas só faziam a vontade delas mesmas. - NÓS TEMOS UM FILHO DE QUATRO ANOS, SABIA? O QUÊ VAI DIZER A ELE QUANDO O MESMO PERCEBER QUE NÃO ESTAMOS MAIS INDO NA CASA UM DO OUTRO?

Ela, como sempre, se fazendo de vítima e chorando como nunca.

- Me diga! Diga olhando nos meus olhos que aquele sujeito é melhor que eu. Fala! - me aproximo dela.

- Não, não é - fecha os olhos, chorando.

- Não é? Ah, então você só quis sair com suas amigas? Cadê suas amigas? São invisíveis? Não estou vendo elas agora!

Eu gritava sem me importar se alguém iria ouvir ou não, eu queria expressar minha raiva, minha indignação.

- Eu quero o divórcio, e você não vai me fazer mudar de ideia! Hoje você só me fez ter certeza do quanto eu estava certo sobre todas essas desconfianças de suas saidinhas. E sua mãe era uma cúmplice, pois via tudo acontecer por baixo de seu próprio nariz e não me falava nada! Ah, mas é claro que ela iria apoiar a filhinha única dela. É CLARO! Eu sinto nojo, muito nojo de você. Lembrar que você dormia comigo mas já deveria estar saindo e dormindo com essa babaca, me dá ânsia de vômito. E você vai ver, eu vou lutar até o meu último suspiro, com toda a minha garra, para ter a custódia do meu filho. Vou mostrar o porquê você não pode e nem deve ter a guarda do meu filho na justiça, aguarde.

- Cadu, vamos resolver na paz, não tira o meu filho de mim...

- Ah, é? Que pena que você não pensou nisso antes. Agora aguente as consequências.

Respiro fundo, levando as mãos a testa.

- Eu te amava... - minha voz já saia falha, meu rosto molhado e vermelho mostrava minha imagem precária. Seus olhos arrependidos e caídos me olhavam com... Pena? - Você era a pessoa que eu mais amava nesse mundo depois da minha família e meu filho. Não sabe o quanto quebrei meu coração e meus sentimentos quando vi aquelas fotos. ME DIGA O REAL MOTIVO POR VOCÊ TER ME TRAÍDO, DIGA!

- Eu te amo... Acredita.

- Depois do que eu vi aqui eu não acredito em mais nada. Chega! Chega! Acabou por hoje. Eu vou buscar meu filho e vou lutar por ele na justiça. Você merece ir para um manicômio, sua louca! E outra, quer dizer que esse é o cara que você deixou buscar meu filho na escola? Esse cara? Seu amante? Ele poderia ter feito algo ruim com ele, você sabe! Saiba que se ele tivesse feito algo com Miguel você nunca mais ia ver meu filho na vida.

Saí de lá arrasado. Eu nunca fui tão machucado na minha vida. Entrei no carro depois de sair às pressas daquele inferno. Cheguei em casa devastado, agradeci por ninguém estar em casa e me encher de perguntas. Subi para o quarto, me deitei na cama, chorando como uma criança. Véi... Eu acho que a única vez que chorei tanto assim foi quando meu disse que ia se mudar para Brasília. Meu filho, coitado, vai ter que lidar com separação com essa pouca idade que tem. Tudo porque aquela... Grr, estragou com a nossa família.

São cinco e vinte, acho que já vou buscar Miguel na escola, antes que aquela louca roube até ele de mim. Lá estava eu de novo, com o pé na roda.

- Vim buscar Miguel Sampaio.

Dessa vez não teve ninguém que pôde me impedir de pegar meu filho, lá estava ele, correndo após ser chamado.

- Papai!!! - me abraça, pulando em meus braços.

- E aí, garotão - beijo sua bochecha. - Vamos?

- Siim.

- Eu tenho que te contar uma coisa quando chegar em casa, ok?

- Uque? - Aquele erro básico de criança me fez lembrar de sua inocência. Seria difícil contar aquilo para ele.

Meu Caveira (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora