Meu coração está palpitando. Minha boca está seca. Tenho plena certeza de que não é um bom sinal se sentir assim por uma pessoa ao vê-la pela primeira vez. Investigo meu coração no intervalo de um sobressalto e outro. Eu juro que não quero isso, mas eu lá tenho algum controle? Se você olha para alguém e precisa dizer para si mesmo:"não posso me apaixonar por essa pessoa", é sinal de que o caso já está perdido. Não é?
Coço a barba, atordoado com a maneira com que o meu coração tem de me sabotar.
Sério, o que mais me falta acontecer? Eu quero dizer, agora? Isso precisava acontecer comigo agora, justo agora?
Quando Coutinho passa por mim não é como se eu quase morresse. Afinal eu já quase morri algumas vezes e sei que para isso é preciso outro tipo de sentimento. Então, quando ele passa por mim é como se eu vivesse um pouco mais. Como se eu me sentisse mais forte e destemido, um herói valente capaz dos feitos mais improváveis.
O que, é claro, não dá em nada. Sinto tudo isso, herói valente e tudo, mas não faço nada. Não faço nada por que sou um imbecil, daqueles que fica completamente paralisado pelo o que sente.
Deve ser por que é tão inesperado. Quer dizer, eu já o conhecia da TV, um jogo ou outro aqui ou ali, mas nunca esperei tê-lo assim tão perto de mim. Nunca imaginei encontrar com ele nesse contexto.
É a primeira preleção do ano. Voltamos das festas de final de ano e estamos descansados, animados para mais uma temporada muito competitiva. Nesse momento, é quando reunimos o time e recebemos nossos novos colegas, as contratações que chegam para renovar nossa equipe e deixá-la preparada para vencer. É o que queremos.
Quanto a mim, sou cadeira cativa nesse clube. Sou parte dele, peça viva de sua história. Estou aqui para escutar e dizer palavras de incentivo, se for o caso. Bom, se ao menos eu conseguisse abrir a boca e articular alguma palavra, é claro.
Quanto a Coutinho, é sua primeira vez aqui. Ele é uma das novas contratações do clube e, assim que entrou na sala, fez meu coração parar. E então saltar loucamente no meu peito, como se estivesse em um rodeio. Patético.
Ele chega como a mais importante aquisição da temporada, um novato de alto gabarito, uma joia rara a ser lapidada. Trocamos olhares rápidos assim que ele se posiciona ao lado do professor, diante de todos e de mim. Tem algo de tímido no jeito dele, o que combina comigo, que falo sempre olhando para os lados, fugindo da conversa.
Agora. Aguardando sua vez de falar, Coutinho é todo sorrisos, ouvindo com educação e humildade a palestra do professor. Eu cruzo os braços sob o peito, mantenho uma postura firme, me segurando em cada palavra que o meu técnico diz.
No entanto, não estou ouvindo rigorosamente nada.
Não estou ouvindo nada, juro. Meus sentidos vieram todos confusos de nascença, isso é fato. E só isso explica o fato de eu não conseguir ouvir mais nada por que só consigo enxergar a ele.
Isso precisava acontecer justo agora?
"Este é o Barcelona. Mais que um clube". O professor finaliza seu discurso, arrancando aplausos entusiasmados de todos ao repetir o lema do nosso time. Eu aplaudo também, a cabeça lá na Lua.
Couto aplaude, e me encara mais uma vez. O que é isso, uma perseguição?
E no entanto, qual seria o problema se eu me apaixonasse por ele?
Espera, o que eu estou dizendo? Alguém pode me dar um soco e tirar essas ideias da minha cabeça, por tudo que é mais sagrado?
Dando um passo à frente, Coutinho se apresenta formalmente. Como se todos nós já não soubéssemos quem ele é.
Polido, diz seu nome, clube mais recente de onde veio, despeja algumas cortesias sobre a alegria de estar entre nós e como está motivado para começar logo a jogar. Mais uma vez, me olha nos olhos antes de fugir com o olhar para o chão. Por que ele insiste em buscar meus olhos quando fala? E por que eu não consigo desgrudar os meus olhos dele?
Em um último ato, antes de voltar para o seu lugar, o brasileiro pede licença ao professor para falar mais uma coisa. Todos riem, o tomando por falastrão. Ele entra na brincadeira, adorável e sorridente, e promete que será rápido. Limpa a garganta e faz sua voz prevalecer na sala lotada de atletas do mais alto escalão.
- Eu não poderia deixar de dizer para todos, já que estamos aqui dividindo nossos sonhos para esse ano, que minha principal motivação para vir para o Barcelona foi a oportunidade de jogar ao lado dos maiores do mundo: vocês - uma chuva de aplausos, o time urra sem falsa modéstia. Couto sorri e retoma a fala - Mas, principalmente, meu motivo maior de vir para cá foi para poder jogar com você, Messi - Ele me olha direto nos olhos e sinto meu rosto entrar em combustão espontânea-. Você é uma lenda viva, Messi, e tudo o que eu puder fazer para estar sempre ao seu lado e aprender contigo, eu farei.
O time vai à loucura em assobios e aplausos. Uma chuva de cascudos e beliscões brincalhões recai sobre mim. Claro, todos compartilham a opinião de Coutinho de que sou um dos melhores do mundo e é uma grande oportunidade de aprendizado jogar ao meu lado. Ele ter externado essa opinião já em sua primeira reunião com o time só faz sua moral crescer entre os jogadores.
Mais uma vez, olho para ele. Lindo em seus trajes esportivos, delicioso em seu corpo moreno, atlético e compacto. Ainda rindo com outros do time, Couto me encara e sorri. Abaixo a cabeça rápido, envergonhado.
Olho para o Suárez, buscando apoio em meu melhor amigo. Ele está com a mão na boca, claramente segurando a risada. Segurando a risada. O filho da puta do Suárez está quase gargalhando diante do meu desconforto. Me conhece melhor do que eu conheço a mim mesmo. Ou quem sabe eu me conheça bem sim, a questão é que eu demoro a enxergar a verdade. Algo que Luis faz dando risada.
A preleção acaba, e eu saio quase correndo da sala. No vestiário, sozinho, me jogo em um banco, soltando o ar.
Não, realmente... Não seria realmente um problema se eu me apaixonasse pelo Coutinho, seria? Já me apaixonei por um colega de time antes. Não foi a melhor das experiências, mas eu sobrevivi.
A questão é, e se for mais que uma paixão?
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Mais Que Uma Paixão | LIVRO 02 | Messi & Coutinho
FanfictionLivro 2 da série "O Evangelho de Leo Messi". Pode ser lido separadamente sem prejuízo ao entendimento da narrativa. Com a transferência de Neymar Jr para o PSG, sobrou um lugar vazio no ataque do Barcelona. E na cama de Messi. Com uma ajudinha espe...