Capítulo 14

465 30 47
                                    

- Você vai falar com ele agora.

- Eu não vou falar com ninguém porra nenhuma, Suárez. Me larga, hein.

- Por que você está dando esse gelo nele? Ele é tão bonzinho com você, seu pulga.

- Ah, mas você pode me deixar em paz ou não? Seu dentuço.

- Leo, Leo. Me escuta. Ele está triste.

- Foda-se.

- Triste com você.

Só me faltava essa. Estou em mais uma das porcarias de festa que Luis inventa. Estou fazendo o mínimo, circulando entre um grupinho e outro e tentando ser simpático. Estou tentando ao máximo evitar Coutinho, do outro lado da varanda, por que essa noite eu sinto que não tenho mais paciência para esse joguinho. Para mim, acabou.

Você pode achar que eu quero o mundo, bom, eu quero, mas aqui não se trata disso. Eu não posso me arriscar desse jeito por alguém que não dá nem sinais de sentir o mesmo que eu. E eu cansei de explicar meus motivos, cansei de querer convencer Couto deles.

Acabo gargalhando com a história de "Triste com você". Suárez fica puto, o que não é muito recomendado. O que será que ele pensa? Que eu e Couto estamos estranhos um com o outro por causa de futebol? Meu Deus. Acabo cedendo só para não levantar suspeitas, e digo que vou lá falar com nosso amigo brasileiro. Me escondo no banheiro por 45 minutos. É o tempo de meia partida de futebol. Eu só sei contar o tempo assim.

Quando volto para a festa, Luis está mais bravo ainda. É, não deu. "Vai lá, inferno!", ele me diz, entredentes. Inferno mesmo, hoje Coutinho está especialmente bonito. Jeans preto, camiseta cinza, aquela coisa. Além disso, todo mundo gosta de um homem com carinha triste. Eu que não seria o primeiro a ir contra a maré.

- Noite boa, hein?

Coutinho me olha sério. Ele está bonito, sim, mas sua expressão é miserável. Meu comentário sobre a noite não ajuda.

- Messi, será que a gente pode conversar à sós?

Meu coração se acelera, surpreso. Taí algo inesperado vindo da parte dele, já que em todos esses meses ele jamais quis conversar comigo, só tentou de todas as formas me pegar, sem em troca me oferecer o mínimo que fosse de responsabilidade afetiva. Fica difícil. Mas, por algum motivo, me encho de esperança.

Vamos para uma sala mais reservada dentro da casa de Luis, onde ele guarda suas camisetas especiais e troféus. Tem um forte cheiro adocicado, meio enjoativo. Eu acho que o Luis não deveria passar tanto perfume em tudo. Vou dar esse toque para ele depois.

Coutinho se senta no assento do meio do sofá de três lugares. Como só tem esse, me sento ao seu lado, à sua esquerda. Parece que estamos esperando uma terceira pessoa vir falar conosco, em uma sala de espera de hospital. Se salas de espera de hospital tivessem cheiro de aromatizador de automóvel, claro.

- Estive pensando em tudo o que vem acontecendo entre nós... - Ele começa.

- Finalmente!  - Não consigo evitar o sarcasmo. Couto me olha mais cansado do que bravo. E então continua.

- Sei que quem começou fui eu. Sei que você me deu a chance de não fazê-lo, e mesmo assim eu quis. E a cada dia, desde então, eu quero cada vez mais. Você. Eu quero você cada vez mais.

Engulo em seco, me sentindo flutuar por instantes. Bom, era isso o que eu tanto queria ouvir, não era? O que me resta fazer aqui? Desejei tanto esse momento, só não planejei o que faria depois. Eu o beijo? Trocamos juras de amor?

Na dúvida, emocionado e nervoso, eu timidamente me inclino na direção de Coutinho. Ele me beija e, pela primeira vez entre nós, é um beijo calmo, doce, amável.

Mais Que Uma Paixão | LIVRO 02 | Messi & CoutinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora