Sei que ele não tem medo por que, quando toco seus dedos, sua mão não está gelada de nervosismo como a minha. Está quente, cheia de vida. Ele me olha curioso, ansioso por me ouvir falar, por ajudar, por ter uma conversa minimamente coerente, algo no que tenho falhado a noite inteira.
Ele me olha e espera que eu diga algo.
Suei frio a noite toda. Tomei um remédio para me acalmar antes de abrir a porta. Passei a noite toda aéreo, tentando não encarar aquela situação. Luis não vê que estou desfalecido de vergonha? Por que o trouxe aqui? Sinto que esse jantar só tornou mais patente o que começo a sentir por Coutinho. A presença dele me deixa agitado, é algo incômodo. Me tira do meu eixo.
Ainda estou segurando sua mão e não disse nada. Ele é bonito como a noite que cai lá fora, me perdoe por dizer isso. Gosto do sorriso dele, dos seus olhos pequeninhos, do cabelo penteado com esmero. Gosto dos braços dele, suas mãos firmes.
Eu sei o que significa me sentir assim, só não consigo ainda aceitar. Ele sorri, disposto e gentil e eu emudeço, perplexo. Fico imaginando como seria beijá-lo, como seria ser amado por ele.
Afinal, o problema todo é esse. Se o meu interesse fosse só sexo, isso poderia ser resolvido até com outra pessoa, de um jeito muito mais prático. Eu, no entanto, tenho essa terrível inclinação para o drama. E não quero apenas ir para cama com o Coutinho.
Eu gostaria de mais.
Gostaria de viver uma história de amor, gostaria de amar e ter a retribuição desse amor.
No fim, a principal questão é essa. Eu gostaria de saber como é ser amado por ele.
E, sendo assim, eu já sei de antemão que jamais conseguirei ir para a cama com ele a menos que ele sinta o mesmo que eu. É terrivelmente piegas, mas é um bloqueio que tenho. Não consigo me envolver fisicamente se a pessoa não estiver tão apaixonada por mim quanto eu por ela.
Como deve ser se tornar o objeto da afeição dele? A primeira pessoa que ele pensa quando acorda, a última em que pensa antes de dormir. Aquela que ele responde mais rápido no celular, ou a que ele prioriza avisar de fatos corriqueiros de sua vida.
Não sei onde acaba eu e onde começa o remédio aqui, mas seguro mais firme em sua mão e novamente peço que ele me faça um favor. Não tenho tempo de dizer o que quero. Luis, aquele cão danado, volta do banheiro e vai embora às pressas, levando Coutinho consigo.
O que eu ia pedir a Coutinho? Não sei, mas desconfio que foi melhor não ter dito nada, de qualquer modo.
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Não sei o que foi aquela noite, mas posso dizer dos dias que se seguiram a ela. A partir daquele jantar, íamos todos juntos para o treino, todos os dias. Luis passava de carro com Coutinho, me buscavam em casa e íamos.
Nosso bairro é ligeiramente próximo do clube. Em nossas rápidas viagens de ida e volta, íamos aprofundando nossa amizade. Era verdade o que Luis disse naquela noite. Éramos o novo trio de ataque e, portanto, precisávamos estar alinhados. Próximos, unidos.
Me sentia bem em tê-lo ao meu lado. É claro, me refiro à Coutinho. Com Luis eu já estava acostumado, foi a adição da presença do brasileiro que mudou a nossa rotina. Aprendemos suas manias, seu jeito calado e extremamente educado. Seus valores e como ele podia ser a pessoa mais doce do mundo, ainda que não falasse muito.
Semanas se passaram assim, enquanto tínhamos nossos primeiros jogos juntos. Fui eu quem deu o passe para que Coutinho fizesse seu primeiro gol pelo Barcelona. Vimos que funcionava ou, ao menos, que podia funcionar.
Eu sentia em meu coração algo próximo de amor. Era mais do que paixão, porque não tinha urgência. Gostava de tê-lo ao meu lado, mas não me imaginava realizando aquele interesse amoroso.
Em algumas ocasiões, Luis alegava que não poderia ir conosco e Coutinho passava só para me buscar. Íamos sozinhos no carro, só os dois, no mais absoluto silêncio. Eu gostava disso. Era confortável. E, ainda que não me desse conta disso enquanto acontecia, era um momento só nosso.
Um dia, nessas caronas solitárias, Coutinho me disse que jogar no Barcelona sempre foi seu sonho de criança. Costumo receber tais afirmações com um tanto de distanciamento. Todo mundo que chega ao Barça diz isso. No entanto, Coutinho falava tão pouco que era difícil acreditar que ele havia dito aquilo simplesmente por dizer.
Lembro de estarmos parados no sinal vermelho quando ele disse isso. Lembro de ter olhado para ele e visto que seus olhos ficaram marejados diante do volante. Quis de alguma forma demonstrar que entendia e acreditava no sentimento dele. Mas é tão difícil, quando você sente demais, parece que seu coração dá a volta e você não sente nada. Eu não sabia o que dizer.
Com o sinal prestes a abrir, senti aquele momento escorrendo pelas minhas mãos. Meio atordoado, fui para cima dele e o abracei sem jeito, o cinto de segurança sendo o juízo que me faltava para me impedir de jogar no seu colo de vez. Ele correspondeu ao abraço, surpreso e doce, e doeu em mim ver ali o quanto eu o queria.
Com a mão na minha nuca, ele se desvencilhou do meu abraço e me beijou o rosto. Era tudo tão estranho, mas estava acontecendo, não estava?
- Obrigado por isso, amigo. Eu amo você, Messi.
Ele disse assim do nada, em meio a um sorriso, acelerando o carro para o sinal verde que se abria.
Não significava nada, é claro.
Agora, tente explicar isso para o meu coração.
Você sabe que eu não consigo.
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Mais Que Uma Paixão | LIVRO 02 | Messi & Coutinho
FanfictionLivro 2 da série "O Evangelho de Leo Messi". Pode ser lido separadamente sem prejuízo ao entendimento da narrativa. Com a transferência de Neymar Jr para o PSG, sobrou um lugar vazio no ataque do Barcelona. E na cama de Messi. Com uma ajudinha espe...