Capítulo 15

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Na minha busca por Suárez, quase acabo com tudo ao meu redor. Tropeço em sofás, bato o quadril em quinas de móveis, acabo tropeçando num vaso de flor e espalhando terra por toda a sala. Estou, sim, suando e nervoso.

Eu preciso respirar.

Paro por um instante na enorme cozinha da casa e tomo uma cerveja para tentar me acalmar. Sinto a ânsia de vômito voltando, o meu peito todo parece ter passado por um triturador. Meu estômago está em pandarecos, se não me conter, vou acabar vomitando de novo. Lentamente, procurando evitar mais danos, deixo a lata de cerveja pela metade e saio para a varanda.

Luis está sozinho, conferindo o celular perto da piscina. O vejo lá longe e em um gesto impensado de quem joga video game demais, corro em sua direção com o punho em riste, desferindo um golpe que pega de raspão seu queixo. Suárez vai ao chão, mais pelo susto do que pelo soco, e me leva junto com ele quando segura meu braço para me deter.

As pessoas à nossa volta riem. Dois amigos brincando. Ainda estamos no chão, me sento em cima do quadril do uruguaio. Acerto um segundo soco, esse em cheio em seu queixo. Surpreso, Suárez me segura pelos punhos, me olha nos olhos e vê que não estou para brincadeira. Se desvencilha de mim e levanta rápido. Me pega pelos ombros e me leva para dentro de casa, rindo para os outros. "Ai, esse Messi!".

Eu estou 100% um trapo. Bêbado, cheirando a vômito, com o coração partido, uma ereção interrompida e borbulhando de ódio daquele que eu tinha como melhor amigo.

Luis me leva para uma outra sala em sua casa ridícula de Bojack Horseman que combina perfeitamente com seus dentes de cavalo.

Assim como a sala de troféu, essa fede a aromatizador de carro. Qual é o problema desse cara? Meu estômago se embrulha mais uma vez. Opa, mais uma sessão de vomito. Acabo sujando os calçados de Luis. Ele não reclama.

Me sinto ligeiramente melhor.

Luis me segura pelos ombros, tentando me fazer encara-lo nos olhos.

- Ei, Messi. O que aconteceu, amigo?

- Amigo? O Coutinho me contou tudo! Que história é essa que você "fez de tudo" para que eu e Couto ficássemos juntos? Quem você pensa que é?

- Messi... Messi, olha pra mim. Calma.

- Ele me disse. Que foi você que inventou tudo isso.

- Não foi exatamente assim.

- Então me diga como foi. Seu filho da puta dentuço do caralho.

Suárez me encara, preocupado.

- Bom, Messi. Você sabe como as coisas são. Eu quero dizer... Você estava por aí todo choroso pelos cantos, por conta do Neymar. A gente precisava de um novo parceiro para o trio de ataque. Eu apenas uni o útil ao agradável.

- Como você pôde fazer isso comigo? Como você pode armar tudo isso pra mim?

- Ei, Messi. Eu já conhecia o Couto do Liverpool, você sabe disso. Só esqueceu, por que você é assim, sempre no mundo da Lua. Com a vaga no time, eu consegui convencer a diretoria do Barça de que ele era o cara certo. E ele é mesmo! Além disso, ele também era o cara certo para você, o que é melhor ainda!

- Certo para quê?

- Meu Deus, Messi. Ele quer você, não é o suficiente? Será que você não pode se divertir um pouco? Um garoto novo, louco pra curtir, pra te agradar. Eu sabia que seria bom para você! Você joga muito melhor quando está apaixonado.

- O que você está dizendo?

Ele limpa minha boca com o próprio punho, depois limpa o punho na camiseta. Seca minha testa suada com a palma da mão e ajeita meu cabelo. Tudo em gestos lentos, atenciosos. Amorosos. Quase desabo com esse cuidado, porque estou tão cansado. Luis então pega meu rosto entre as mãos e me encara, com um sorriso amigável no rosto.

- Eu trouxe o Coutinho como um presente para você, Leo. Você não gostou? Ele é um presente meu para você. Apenas isso. Você não quer? Por quê não?

Estou a ponto de chorar, acho que de nervoso, mas não cedo. Cerro os dentes.

- Vocês não ficaram juntos? - Luis continua, doce - Não se beijaram ou algo do tipo? Vocês transaram, não transaram? Me diz, você comeu ele? Essa noite? Aqui na minha casa? Onde? Vocês finalmente transaram ou não?

Meu rosto continua entre suas mãos enquanto ele insiste. Não quero contar essas coisas para ele, não vou contar nada. Estou bravo demais. E triste. Sobretudo estou triste.

- Então foi isso? Você trouxe ele para cá, conseguiu uma colocação no time para ele, conseguiu a casa do Mascherano para ele... Tudo para convencê-lo a ficar comigo?

- Não o convenci de nada, Messi. Messi, me ouve, sim? Eu apenas... Plantei uma semente. Disse o quanto você era incrível. Ensinei a ele o que ele poderia fazer para que você se apaixonasse e assim fossem para a cama. Tentamos de tudo! Tudo o que ele fez foi ideia nossa, os silêncios e as investidas. Por que era o nosso plano de fazer vocês se darem bem juntos. Entende? Mas eu não o obriguei a nada! Quem fez tudo foi ele, você entende?

- Ele só ficou comigo porque você pediu.

- Messi, ei! Ele tinha a curiosidade dele, não é? Ele é um menino novo e você é o maior do mundo, por que você acha que é tão difícil assim ele se interessar por você?

- Foi você quem contou para ele do Neymar?

- Quando você traça um plano, precisa ter tudo às claras, Messi. Você sabe.

- Você contou tudo.

- Eu só quis ajudar você.

- A mim não interessa qual foi a sua intenção. - Eu explodo, aos gritos - Eu estava bem. Eu não precisava estar sentindo isso agora. Ele acabou de vir até mim e me destruir. Ele me desprezou como eu nunca fui desprezado. Eu me apaixonei por ele sem saber quem ele era de verdade. Eu o amo e ele é um lixo tóxico que, além de tudo, não me quer. E o que eu faço com tudo o que estou sentindo? Eu não precisava disso justo agora. Por que você fez isso comigo?

Começo a chorar, de pura frustração. Suárez me toma nos braços e me abraça. Desabo com a cabeça em seu peito, cansado demais para confrontá-lo.

- Eu amo você, goat - Ele diz com suavidade, como se um tom de voz mais alto fosse capaz de me despedaçar por completo. Não está tão longe da verdade.

- Eu amo, amo, amo você - Suárez agora sussurra baixinho para mim. Cobre minha testa de beijos, me embalando com seu abraço torto de gigante enquanto eu tento, sem sucesso, parar de chorar.

Mais Que Uma Paixão | LIVRO 02 | Messi & CoutinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora