Conservadorismo ultrapassado

798 90 9
                                    

~ Após conversarem bastante sobre a viagem, Carol conseguiu convencer Day... No dia seguinte, ao chegarem em Curitiba, Carol estava muito animada e Day um tanto quanto apreensiva.~

- Ai, filha! Você! - Minha mãe disse ao abrir a porta e me ver ao lado da Dayane, que segurava minha mala pequena e nas costas tinha uma mochila.

- Não quis avisar, porque pensei que seria legal fazer surpresa! - Falei abraçando-a e entregando a caixinha de chocolates que Day havia comprado.

- Oi, Dayane! Seja bem-vinda! - Minha mãe disse, abraçando a Day sem jeito, que correspondeu ao abraço com um sorriso tímido.- Entrem, pois precisamos conversar.

Entramos e nos sentamos no sofá da sala, enquanto minha mãe guardava os doces e nos trazia água. Day coçava a cabeça ao olhar pro chão e aparentava estar desconfortável.

- Ei, baby... Relaxa, está tudo bem!- Sussurrei passando a mão nas costas da minha namorada.

- Carol, nós ainda não vimos o seu pai. - Falou sem me olhar.

- Aqui, meninas! Sirvam-se!- Minha mãe se aproximou com a água e dois copos.

- Como eu disse, precisamos conversar... - Minha mãe falou ao sentar-se na poltrona em frente ao sofá, passando as mãos pela calça jeans e fazendo com que a Day parasse o copo próximo à boca, respirando fundo antes de beber a água.

- Cadê o papai?

- É sobre isso que precisamos conversar, mas antes... - Falou ajeitando os óculos e olhando pra Day, que havia colocado o copo sobre a mesa e estava de cabeça baixa. - Day, você é linda, e a minha filha tem razão ao te elogiar tanto quando te descreve pra mim. - Sorriu e a Day olhou pra ela de forma tímida e depois me olhou sem jeito.

- Ela é linda sim, eu não sou de mentir... - Falei soltando uma risada, mas eu estava tensa.

- Obrigada, dona Roseli... Agora fiquei sem graça. - Day disse passando a mão na testa.

- Pois bem... O seu pai não está mais aqui em casa, Carol. Não te contei isso antes por pensar que fosse uma conversa que deveríamos ter pessoalmente, e como você veio de surpresa, não havia me preparado. - Falou sem pausas e eu a observava sem reação, enquanto a Day apertava minha mão esquerda.

- Como assim, mamãe? Porque ninguém me disse isso antes? Os meninos sabem? - Perguntei sem entender e um pouco nervosa com a situação.

- Calma, baby! Escute sua mãe!- Day falou, beijando o meu ombro e voltando o olhar para a minha mãe.

- Filha, você sabe que eu te aceito, que seus irmãos te aceitam, e que você é o nosso orgulho maior... Mas seu pai, ao saber que você estava com uma moça, disse que não era capaz de tolerar e muito menos aceitar, e que preferia sair de casa e sumir no mundo do que saber que tinha uma filha se relacionando com outra mulher. - Falou abaixando a cabeça, aparentemente com vontade de chorar.

- Mas mãe, ele não teve que aceitar a orientação sexual dos meus irmãos... Ninguém teve que aceitar a orientação sexual dele... Por que a minha tem que ser aceita? Porque eu preciso passar por isso pra ser quem eu sou? - Engoli o choro, e a Day me olhava sem saber o que dizer e não soltava a minha mão. - Eu não sou doente, eu não sou uma vergonha, eu não faço o mal, eu sou educada e muito bem resolvida com as questões da minha vida... Ele não me sustenta mais... Cara, eu não entendo o porquê do meu pai fazer isso com a família e no fundo é por minha causa. - Não consegui segurar e comecei a chorar, sendo consolada por minha namorada.

- Filha, seu pai é conservador, a gente tem que entender o lado dele. - Minha mãe disse com lágrimas descendo em seus olhos.

- Mas mãe, ele não vive no tempo em que ele nasceu e eu sei que um dia terei que desconstruir muita coisa que atualmente acho que é certo, ou vou ferir a existência de muita gente no futuro, entende?   Cadê ele? Me fala cadê ele, por favor. - Falei em meio aos soluços.

Naquele momento a minha mãe não conseguia dizer nada, pois o choro tomava conta do seu ser... Dayane estava muito triste e com os olhos cheios de lágrimas, fazendo carinho em minhas costas e eu afundei o rosto em minhas mãos.

- Eu não quero saber de vocês aqui, suas depravadas! - Ouvi alguém bater a porta e a voz era de quem eu tanto conhecia.

- Calma! Elas acabaram de chegar e se você machucar a nossa filha ou a Dayane, você vai se ver comigo! - Minha mãe disse ao se levantar e se posicionar na frente do meu pai, entre nós e ele. Dayane ficou atrás de mim segurando o meu braço, e eu o observava e sentia uma dor nunca sentida no peito.

- O senhor não me ama, pai? - Perguntei sem parar de chorar.

- Não ouse me chamar de pai, menina. E você, saia da minha frente! - Empurrou a minha mãe, vindo em nossa direção.

- Calma seu Isaías ... Eu já vou me retirar e você precisa conversar com sua filha! - Day disse assustada.

- Cala a boca, vagabunda! Você encheu a cabeça da minha filha fazendo com que ela se tornasse esse lixo que ela é hoje! - Falou exaltado com a Day, chegando perto de mim, que estava paralisada e incrédula.

- Você vai aprender a ser mulher, se depender de mim!- Me deu um tapa forte e eu esbarrei na mesa de vidro que ficava entre o sofá e a poltrona, de onde um dos copos caiu e quebrou - E você, desgraçada, vai morrer!- Falou indo pra cima da Dayane, após pegar um dos cacos de vidro que tinha parado perto do seu pé.

- NÃO! PARA, ISAÍAS! SAI DAQUI AGORA OU EU VOU LIGAR PRA POLÍCIA! - Minha mãe o agarrou por trás e a Day aproveitou o momento para me levantar.

Minha boca sangrava e meu rosto estava com a marca dos dedos dele. Dayane estava chorando e tremendo muito, assim como eu, e nada estava doendo mais do que ver minha mãe tentando me defender das agressões do meu próprio pai. Ele ergueu a mão para bater nela, mas saiu de casa chutando todos os móveis em sua frente e bufando de raiva.

- Filha, me perdoe! - Minha mãe disse se ajoelhando no chão com as mãos sobre a boca.

- Vamos embora daqui, amor! Vamos embora daqui agora! - Day disse segurando meu rosto com as duas mãos.

Parecia cena de filme, mas infelizmente era vida real... Passei a gola da minha blusa em minha boca, limpando o sangue que havia escorrido. Caminhei até a minha mãe, levantando-a pelo braço e abraçando-a com toda a força que eu tinha.  Eu não conseguia enxergar nada direito, pois estava em choque com tudo que havia acontecido. Dayane pegou nossas coisas e caminhou em direção à porta.

- Eu que te peço perdão por ser o problema da sua vida. Eu vou embora e não vou voltar. Eu te amo demais e sou grata por tudo. Não me esqueça, mãe!- Falei baixo e minha mãe soluçava, me olhando e passando a mão em meu rosto, sem conseguir dizer uma palavra sequer.

Caminhei até a Day, que já me esperava na saída com a porta aberta, me aproximei, ela beijou minha testa e saimos sem olhar pra trás.

(Oi, gente! Estou triste com o que aconteceu :/ Espero que a Carol consiga superar o desprezo paterno, já que a sociedade em geral já costuma desprezar LGBTs...
Não sei se vou conseguir postar com frequência, nem se vou conseguir escrever de forma interessante, pois estou fazendo estágio na faculdade e estudo inglês em casa, mas me esforçarei para continuar! Abraços e muito obrigada 💕)

Little Longer ( Dayrol)Onde histórias criam vida. Descubra agora