O céu azul escuro começava a ganhar tons alaranjados. Estaria amanhecendo? Quanto tempo havia se passado? Por quanto tempo ficamos dançando no ar?
— Quero descer. — exigi.
— Só quando a música parar de tocar, então desceremos.
— E se nunca parar?
— Então ficaremos aqui para sempre.
Foi quando percebi que, distraída pela conversa daquele belo elfo, acabei perdendo minha irmã de vista.
— Onde está Amelia? — perguntei.
— Quem?
— Amelia! Minha irmã! A humana que veio comigo. Aquela alta, sardenta e com cabelos de fogo.
— Ah, deve estar por aí, se divertindo. Não se preocupe com ela.
Foi quando eu me lembrei:
— Vocês disseram que iam levá-la.
— Nunca dissemos isso.
— Deixaram subentendido, quando disseram que ela podia visitar seu mundo.
— Quando ela quisesse, de sua livre vontade.
— E por que ela recusaria? Podem hipnotizá-la, ludibriá-la ou o que quer que seja. Leve-me à minha irmã agora.
—Só mais um pouco... A música está quase acabando.
— Agora! — eu gritei, e todos os casais que dançavam no ar olhavam para nós. Acho que consegui intimidá-lo.
Relutante, ele me pegou no colo e aterrissou.
— Satisfeita? — perguntou.
— Ainda não vejo a minha irmã.
— Isso não é comigo.
— Me ajude a procurá-la.
— Não mesmo. Isso é uma festa. Não vou desperdiçá-la procurando humanos. — dizia — Boa sorte.
Então ele puxou uma fada qualquer e começaram a dançar, e eu tive que procurar a minha irmã sozinha.
No centro da clareira, havia uma mesa que eu não sabia de onde saíra, com um suntuoso banquete de fadas, e lá havia um tumulto. Eu fui ver o que era.
Qual não foi minha surpresa ao ver minha irmã sendo servida por dezenas de fadas com bandejas nas mãos. E ela pegava tudo de uma só vez e comia feito uma esfomeada.
Minha irmã ingerindo comida de fadas. Isso não podia ser bom.
Eu saí empurrando as fadas para abrir caminho até Amelia. Felizmente, consegui chegar até ela e tocar seu braço, o que a fez parar de comer e olhar para mim.
Mas ela me olhava de forma estranha. Não consegui identificar aquele olhar.
— Ei, traga-me mais daqueles deliciosos bolinhos de chocolate. — ela me disse, apenas.
— Não, Amelia, chega de bolinhos. Vamos voltar para casa.
— Eu estou em casa.
— Não, não está. — eu tentei puxá-la, mas ela fez resistência e não saiu do lugar.
— Por que essa louca está me puxando? — ela perguntou para uma das fadas — Quem é essa humana?
— Eu não sei. — respondeu uma das fadas.
—Eu sou sua irmã!
—Oh, mais uma irmã! Não sabia que tinha tantas!
—Do que está falando?
—Todas somos irmãs. Você, humana, também pode ser. É só comer essa comida. — dizia Amelia.
— Você... Não se lembra de mim? — perguntei, já esperando pelo pior.
— Por acaso deveria?
E o pior aconteceu.
— Você precisa voltar para casa, Amelia. Seus pais ficarão preocupados.
— Eu tenho pais? — ela perguntou para as fadas, e elas fizeram não com a cabeça.
— Elas estão mentindo! — exclamei.
— Por que mentiriam para mim? São minhas irmãs!
—Não, eu sou sua irmã! E elas estão mentindo porque querem sequestrá-la e levá-la para o mundo encantado!
— Não é sequestro se eu for de minha livre vontade. — disse, sorrindo.
— Não! Você não pode!
— Já está amanhecendo.— uma fada de cabelos cor-de-rosa avisou — Logo os sinos da igreja começam a tocar. Está na hora de irmos.
— Então, me levem com vocês! — eu disse.
— Se quiser ir conosco, terá de comer a nossa comida.
— Não farei isso. Sei bem que se o fizer, não poderei mais voltar.
— E quem iria querer voltar? — perguntou Amelia.
— Você está ludibriada, Amelia. Mas vamos achar um jeito de trazê-la de volta. Você só precisa vir comigo.
Uma fada então cochichou algo no ouvido de Amelia.
— Agora eu entendi — dizia ela, zangada —, você quer que eu volte para um mundo onde eu sou tratada como inferior por ser mulher, onde o meu destino é servir de parideira para um homem qualquer. Bem, isso não vai acontecer. Adeus, minha suposta irmã.
— Você não vai a lugar algum! — eu gritei, mais um som conseguiu se sobressair.
Os sinos da igreja. Nunca detestei tanto aquele barulho. Era tão insuportavelmente alto, que eu podia ouvi-lo do fundo da floresta. Estava tão alto que eu tive que tapar os ouvidos com as mãos, o que me fez fechar os olhos por apenas um instante. Mas quando os abri, nem as fadas, nem minha irmã estavam lá.
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Dançando no Ar
FantasíaVale dos Corvos sempre fora um lugar exótico e afastado, por muito tempo guardado pelos seres encantados da floresta e pelos espíritos dos ancestrais dos Filhos de Danna. Adotada por uma família cristã, Rose foi a ultima pagã a nascer em Vale dos...