Mal me lembro de ter ido dormir. A última coisa que me recordava era de ter discutido com Keelan. Dormi pouco, pois já era madrugada quando fomos deitar, e acordei com os primeiros raios de sol entrando pela janela. Colin ainda dormia numa cama ao meu lado.
Mas a primeira coisa que realmente vi ao abrir os olhos fora a ampulheta, cujo último grão acabava de cair. Um dia havia se passado em nosso mundo. Metade se fora enquanto eu admirava a grama desse mundo, e a outra metade se fora no resto da madrugada. O tempo aqui era mesmo incompreensível.
Fui lá fora lavar meu rosto no lago, e me assustei ao ver o tamanho de minhas olheiras em meu reflexo. Eu nunca fui de usar maquiagem, mas daria qualquer coisa por uma naquele momento.
Amelia era quem entendia dessas coisas... Lembrar dela me trazia tristeza, como se a própria já estivesse morta, quando na verdade estávamos no mesmo mundo, talvez mais perto do que eu pensava, mas isso era devido à minha pouca fé. Precisava mudar isso em mim.
- Ei! – ouvi um grito, e ao longe reconheci a voz de Keelan interrompendo meus devaneios – O que acha que está fazendo?
- Estou lavando meu rosto. – respondi.
- Tem água dentro de casa.
- Eu precisava pegar um pouco de ar, está bem?
- Não faça isso de novo.
- Isso o que?
- Sair sem a minha permissão.
- Como é?
- É isso mesmo. Minha casa, minhas regras. Ninguém sai sem me pedir antes.
- Você está delirando se acha que eu vou fazer tudo o que manda.
- Isso é para a sua própria segurança. Muitos não gostam de intrusos em nossas terras, e vocês são intrusos. Está se expondo demais e se pondo em grande perigo vindo aqui fora.
- O que quer que eu faça? Não posso ficar trancafiada em sua casa para sempre.
- Você mal aguentou ficar uma noite, e já veio para cá!
- Eu sou uma Filha de Danna, descendente do povo das fadas, e acho que posso sobreviver alguns segundos sozinha em seu mundo.
- Ser Filha de Danna não te dará proteção alguma no território dos zombeteiros. Entenda isso. Eu te darei proteção, não essa sua atitude arrogante.
- Não preciso de sua proteção. Sei como lidar com o povo encantado.
- Você nunca teve de lidar com zombeteiros antes. Acredite, nós não prestamos.
- Por isso não confio em você.
- E faz muito bem.
Aquela conversa parecia que não ia ter fim. Estava me deixando cansada. Precisava mudar de assunto, rápido.
- Colin já acordou? – perguntei.
- Sim, eu mesmo o acordei quando fui procurá-la no quarto e vi que não estava lá.
E ele insistia naquilo...
- Acredito que tenhamos assuntos inacabados. – eu disse.
- Que assuntos inacabados?
- Algo como a minha irmã que fora sequestrada pelo seu povo, e algo sobre você saber como resgatá-la.
- Ah, sim. Havia me esquecido disso. Vamos falar sobre isso enquanto tomamos o desjejum.
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Dançando no Ar
FantasiaVale dos Corvos sempre fora um lugar exótico e afastado, por muito tempo guardado pelos seres encantados da floresta e pelos espíritos dos ancestrais dos Filhos de Danna. Adotada por uma família cristã, Rose foi a ultima pagã a nascer em Vale dos...