Capítulo XIII

23 12 9
                                    


Tivemos de subir no unicórnio antes que ele deixasse o chão. Guiar um unicórnio no ar era igual guiá-lo em terra. O problema era que, pelas palavras do próprio Keelan, unicórnios não são pégasos. Não estão habituados a voar, então aquela situação devia ser bastante confusa para ele. Mas estava se saindo bem.

Depois de algum tempo, eu perguntei:

- A cidade é longe daqui?

- Voando, não.

- Ótimo. Tente identificar quando o pó estiver acabando para aterrissarmos sem transtorno.

- Na verdade, acho que já está acabando.

- O que?

- É isso mesmo. Vê? Estamos perdendo altitude.

- Você só pode estar brincando! Aterrisse!

- Não vou aterrissar na floresta. Lá está cheio de criaturas da noite. Eu não vou deixar que seja sequestrada novamente.

- Aterrisse em qualquer lugar, ou iremos despencar!

- Se acalme. Ainda há tempo de aterrissarmos após a floresta. De lá, já estamos praticamente na cidade.

- Então abaixe a altitude! Estamos muito alto! Se o pó acabar de repente, vamos morrer!

- Não vamos despencar, Róisin.

- Não me chame de Róisin! E faça-o voar um pouco mais baixo!

- Não dê-me ordens, humana. Eu sei o que estou fazendo. Você nada conhece do meu mundo.

Sem argumentos, comecei a entrar em pânico com a possibilidade de morrermos ali. Eu realmente não conhecia nada desse mundo, mas Keelan estava claramente agindo de pura teimosia. E infelizmente eu demonstrei ter razão, quando pouco depois o unicórnio começou a cair. Ele se debatia no ar enquanto tentava se virar com o pouco pó mágico que ainda restava.

- Faça-o aterrissar, antes que seja ainda mais tarde! – dizia eu, desesperada.

- Estou tentando! – ele dizia, como se estivesse perdendo a paciência comigo.

- Pois devia ter tentado mais cedo, quando eu mandei!

- Não é hora para isso! Vou salvar-nos.

Ele fechou os olhos e juntou as duas mãos, e começou a murmurar algo que eu não entendi.

- O que está fazendo? Já desistiu e começou a rezar? – perguntei, mas não obtive resposta. Ele simplesmente me ignorou e continuou a rezar, e sem escolha, comecei a fazer o mesmo.

De olhos fechados, senti o braço de Keelan me segurar pela cintura e me levar com ele, saltando para fora do unicórnio. Abri os olhos e nos vi caindo de cabeça para baixo enquanto ele me agarrava com um braço, e com outro ele criou uma lufada de ar antes que chegássemos ao chão, que amorteceu a nossa queda. Ambos aterrissamos suavemente na grama, mas para o unicórnio, a queda não foi assim tão leve. Ele parecia ter todas as pernas quebradas e dele saía um alto lamento.

- Vamos em frente. – disse Keelan.

- O que? – perguntei, indignada – Nosso unicórnio está morrendo.

- Não é mais nosso unicórnio. Não precisamos mais dele. Deixe-o aí.

- Não! Você pode curá-lo, então cure-o.

Eu me ajoelhei ao lado do unicórnio que chorava ainda mais alto, e Keelan se ajoelhou de frente para mim. Eu achei que ele usaria um pouco das águas curativas nele, mas ao invés disso, ele se aproximou com uma lâmina e a enfiou na garganta do animal, deixando que um sangue esbranquiçado esguichasse pela ferida aberta.

Dançando no ArOnde histórias criam vida. Descubra agora